O
doleiro Alberto Youssef - peça central da Operação Lava Jato - afirmou em sua
delação premiada que o esquema de arrecadação de propina do PP via José Janene
(PP-PR) - morto em 2010 - atuou também no Ministério da Saúde e na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), chegando a render comissionamentos
sobre uma transação envolvendo o medicamento Viagra.
"O PP possuía
cargos importantes no Ministério da Saúde e na Anvisa, tendo recebido
comissionamentos junto a laboratórios", disse Youssef, em depoimento no
dia 21 de outubro de 2014, dentro de seu acordo de delação premiada - agora sem
sigilo. Ele atribui a informação a Janene - o ex-líder do PP, que foi pego no
mensalão do PT e desencadeou a origem da Operação Lava Jato.
Aos investigadores,
Youssef disse lembrar que o laboratório Pfizer era um dos envolvidos,
"sendo a operação ligada ao medicamento Viagra" - lançado no fim da
década de 90. Composto de citrato de sildenafila, o Viagra é usado no
tratamento da disfunção eréctil no homem. O fármaco também é usado como
medicamento para hipertensão pulmonar - nesse caso, a Lava Jato já investigava
a atuação, em 2014 do doleiro, no Ministério, via laboratório Labogen.
Valores.
A recordação sobre o
caso do Viagra, segundo o doleiro, era "em especial por conta de Janene
ter recebido amostras grátis desse medicamento e distribuído a amigos em tom de
brincadeira". Segundo ele, isso ocorreu entre 2002 e 2003. O doleiro
declarou que recebeu "valores das mãos de Janene, acreditando que isso
tenha ocorrido por quatro ou cinco vezes, totalizando cerca de R$ 1,5
milhão".
O dinheiro era
recebido "em espécie e em reais, em São Paulo", em hotéis onde Janene
se hospedava. Um deles, na Alameda Campinas, próximo a uma cantina
italiana", detalhou o doleiro. Youssef contou que recebia e transportava
até Brasília, "sendo os recursos entregues no apartamento funcional de
Janene". Segundo ele, "a influência de Janene junto ao
Ministério da Saúde tenha durado pouco tempo, entre 2002 e 2003,
aproximadamente".
O doleiro citou que
em 2003 o senador Humberto Costa (PT-PE), então ministro da Saúde,
"manifestou contrariedade em relação à permanência do indicado de Janene
junto ao Ministério da Saúde". O funcionário era Luiz Carlos Bueno de
Lima, que Youssef não lembrou o nome, à princípio, mas acabou confirmando ser
ele, o indicado de Janene, após ver foto do suspeito.
"Com a
interveniência de Aldo Rebelo (PCdoB, ex-ministro dos Esportes do governo Dilma
Rousseff), Janene aceitou que tal pessoa fosse desligada, todavia ressalvou que
a mesma deveria pedir demissão e não ser demitida."
Costa teria
desrespeitado o acordo e demitindo o indicado de Janene, que ficou indignado,
sendo necessária a intervenção do então presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva.
"O então
presidente Lula tinha conhecimento ao que sabe das indicações feitas por Janene
perante o governo", declarou Youssef no capítulo sobre o Viagra.
O doleiro "diz
não saber se Lula possuía algum conhecimento acerca do comissionamento
envolvendo a Anvisa e Ministério da Saúde".
A assessoria do
ex-presidente Lula informou que não responderia à citação de Youssef.
COM A PALAVRA, A
PFIZER.
"Em relação ao
depoimento de Alberto Youssef que menciona a Pfizer e o medicamento Viagra, a
companhia esclarece:
- A Pfizer desconhece
o teor das denúncias, nega qualquer envolvimento em atividades ilícitas ou
antiéticas que pudessem beneficiar Viagra ou qualquer produto da empresa, bem
como repudia condutas desta natureza.
- No Brasil desde
1952, a companhia segue todas as normas locais e internacionais de compliance e
conta com um programa mundial que estabelece princípios éticos e rígidos para a
conduta de seus negócios e o relacionamento com todos os seus públicos.
- Por determinação, a
companhia não efetua doações para políticos nem candidatos em campanhas
políticas no Brasil, em nenhuma esfera.
- Primeiro
medicamento oral para o tratamento da disfunção erétil lançado no mundo, Viagra
foi registrado no Brasil em 1998, logo após a aprovação nos Estados Unidos,
lidou com a chegada de concorrentes em 2003, e teve sua patente expirada em
2010. Não há nenhuma irregularidade relacionada a Viagra ou a qualquer outro
produto da empresa.
Pfizer Brasil
Março de 2015"
COM A PALAVRA, O
MINISTÉRIO DA SAÚDE.
"O medicamento
citrato de sildenafila foi incorporado à lista de medicamentos do SUS em 2010,
com indicação terapêutica para o tratamento de Hipertensão Arterial Pulmonar.
Toda incorporação de medicamentos passa por uma rigorosa avaliação técnica e de
custo/efetividade, pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS
(Conitec). No período citado (2002 e 2003), Luiz Carlos Bueno de Lima foi
consultor do Ministério da Saúde por meio de contrato de Acordo de Cooperação
Técnica."
COM A PALAVRA, A
ANVISA.
"A Anvisa ainda
não foi questionada pelas autoridades competentes sobre as supostas denúncias
contidas no Termo de Colaboração e fará qualquer esclarecimento necessário no
momento em que for acionada. O Viagra tem registro desde 1998 no
país."
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