Por Joaquim Haickel
Tenho sido cobrado quanto a uma análise que prometi
fazer sobre a nova administração implantada no Maranhão, assim que o governo
completasse 180 dias, porém achei melhor estender esse prazo para quando ele
completasse um ano, por entender que seis meses seria pouco tempo para se fazer
uma apreciação mais embasada e justa.
Confesso que nem estava com muita vontade de fazer
essa análise, pois não tenho tido a paciência necessária para assuntos ligados
à política em sua forma partidária, onde uma apreciação como essa, se for
encarada como positiva para a nova administração será criticada ferozmente pela
oposição e se for tida como negativa, será encarada pelo governo como um mero
ataque, de modo que por um prisma ou por outro, não será vista como um estudo
criterioso.
Estou cansado dos maniqueísmos e dos sectarismos da
política, coisa que não é de hoje que abomino e rejeito de forma peremptória,
portanto, alerto de antemão que o que direi a seguir é resultado de minhas
observações, isentas, sobre o funcionamento da nova gestão política e
administrativa do Maranhão.
Em primeiro lugar devo falar ainda sobre a eleição.
Ela transcorreu de forma normal e refletiu claramente a vontade popular, mesmo
que os atores políticos, alguns por ações e outros por omissões, tenham
contribuído para que o jogo eleitoral não tivesse transcorrido em melhores
climas.
Dito isso, devo tratar da indicação dos nomes
escolhidos para gestores das diversas secretarias e autarquias do governo do
Maranhão, dizendo desde logo que eles foram o que de melhor havia a disposição
do governador. No entanto, havia antes, continua havendo ainda hoje e pelo
visto vai continuar existindo, uma discrepância muito acentuada entre o calibre
do governador e o de seus auxiliares, causando um efeito nocivo à estrutura de
autoridade do governo. Sinto que o governador se impõe mais pelo medo que ele
causa nas pessoas que pelo respeito e a admiração que na verdade ele gostaria
de imprimir com suas atitudes.
Podemos comprovar essa discrepância no fato do
governador ter passado mais tempo que o necessário para trocar o comando da
SECMA, já que era sua autoridade discricionária que estava em jogo e não apenas
o desastroso desempenho da citada pasta antes da indicação do excelente Felipe
Camarão. O mesmo fato não foi sentido quanto à recusa de aceitação do deputado
Zé Reinaldo à pasta de Minas e Energia, uma vez que essa pasta efetivamente não
existe mesmo. O governador simplesmente tentou com essa manobra acomodar o
prefeito de Santa Inês, cuja esposa assumiria a Câmara no lugar de Zé Reinaldo.
Secretariado indicado e empossado, os desempenhos
foram ficando visíveis conforme as peculiaridades de cada pasta e as
capacidades de cada gestor, coisa que já era de se esperar.
Aqui cabe um parêntese: O governo cometeu um
equívoco grave ao não cooptar para si funcionários de segundo e terceiro
escalão, temendo que eles fossem partidariamente comprometidos com o grupo
outrora dominante, com isso perdeu agilidade e certa continuidade das ações
normais da máquina administrativa. O uso dessa forma de tentativa de
aniquilação, ao contrário do resultado imaginado, só perpetua a rixa e preserva
os possíveis laços de lealdade e gratidão que porventura possam existir, e não
existindo, os cria.
Lembro que uma coisa deixou o então candidato Flávio
Dino um tanto chateado comigo. Foi quando escrevi que a diferença que haveria
numa mudança de grupo dominante na política do Maranhão seria meramente de
nomes e conceitos ideológicos, e que a política, que tem poder e força própria,
independentemente de nomes e ideologias, seguiria seu caminho igualmente como
antes. Dito e feito.
Este continua a ser o cerne de minha análise, tanto
que a secretaria que mais trabalhou neste primeiro ano de governo foi a de
Transparência e Fiscalização, voltada a levantar tudo que possa ter sido feito
de errado na administração anterior.
Concordo que esse trabalho seja importante, mas em
minha opinião, um governo que prioriza essa ação em detrimento de outras, está
focado tão somente no lado policial e eleitoral da gestão. Mas não estaria
sendo justo se afirmasse que o atual governo só faz isso. Não, não é bem assim.
Ele faz outras coisas também.
Por falar em policial, este foi um setor que teve
desempenho semelhante ao dos anos anteriores, onde a incorporação de novos quadros
para a Polícia Militar se deu apenas no final do ano, mas a notícia sobre ela
palmilhou cada instante do tempo midiático do governo. Inclusive, sobre este
assunto, parece que apenas 455 novos policiais foram realmente incorporados,
enquanto as notícias fazem com que, erroneamente, acreditemos que já foram
acrescidos aos quadros da PM do Maranhão 1500 novos praças. Simples detalhes
midiáticos, com os quais governos desta ou daquela coloração estão afeitos.
Da extensa lista de compromissos de campanha, o
novo governo cumpriu nove, operacionalizou oito e não deu conta de cumprir
quatorze, mas ninguém vai exigir que tanto o atual governo quanto o seu
governante sejam mágicos, que de uma hora para outra solucionem problemas
antigos e de grande complexidade, mesmo que tenhamos na campanha eleitoral
ouvido promessas que nos faziam acreditar que seria muito fácil solucionar
problemas como, por exemplo, o do IDH, que requer investimentos constantes e
sistemáticos em melhoria de infraestrutura, saneamento básico, saúde, educação
e cidadania.
Neste ponto poderia fazer uma clara e direta
comparação entre as gestões de antes e de agora, quanto a SEDEL. Posso falar
desta pasta com propriedade, pois estive em seu comando entre 2011 e 2014. O
que se vê hoje, em termos gerais, não é muito diferente do que acontecia
anteriormente na maior parte dos setores. Os JEM’s continuam sendo o grande
trabalho desta pasta, o Castelão continua sendo uma das prioridades, a lei de
incentivo continua ativa, as praças esportivas continuam sendo mantidas, as
piscinas, depois de um ano, continuam estagnadas, no mesmo estado, uma vez que
a solução para o caso delas é bem complicada…
Há, no entanto, dois fatores que fazem a atual
administração da SEDEL ser bem diferente da anterior. Primeiramente o grande
prestígio pessoal que o atual secretário desfruta por parte do governo, coisa
que na minha época não acontecia. Segundamente o esforço que a nova
administração está fazendo para elevar o IDH de alguns de nossos mais carentes
municípios, o que levou a iniciarem a construção de pequenos complexos
esportivos e de lazer nestas localidades.
Em campanha o atual governador fez parecer que
resolveria estes problemas de IDH com facilidade, pelo simples fato de querer
fazê-lo e é aí que reside minha discordância.
O grupo que dominava a política do Maranhão, do
qual eu fazia parte, não resolvia este problema porque não tinha capacidade
para fazê-lo, porque tentava fazê-lo da maneira incorreta, pode até quem quiser
dizer, que ele não tentava fazer tais mudanças, mas a verdade é que as
dificuldades que o grupo anterior tinha em melhorar o IDH do Maranhão continuam
existindo sob o comando do atual grupo dominante e isso ninguém pode negar.
O que se pode argumentar é que muito tempo se
passou e pouco foi efetivamente conseguido nesse sentido. Infelizmente o que
constato é que as mesmas dificuldades estão sendo e continuarão sendo
enfrentadas pelos novos governantes.
Um programa implantado pela nova administração deve
ser citado e elogiado. Trata-se de um adendo ao Bolsa Família que destina
recurso uma vez ao ano para compra do material escolar das famílias de baixa
renda de nosso estado. Uma maravilhosa iniciativa. Simples como as boas coisas
devem ser.
No que diz respeito ao grupo que dominava a
política do Maranhão, já era mesmo tempo de dar oportunidade a outros decidirem
os destinos de nosso povo e se responsabilizarem pelos sucessos e pelos
insucessos dessa façanha.
Setores como Saúde e Educação sofrem dos mesmos problemas.
Eles não foram melhorados em absolutamente nada pelo simples fato de ter havido
uma mudança nos nomes dos gestores ou no direcionamento ideológico do novo
governo. O sistema funciona da mesma maneira, as carências são as mesmas, as
dificuldades são idênticas.
No setor de infraestrutura o que se viu foi a
finalização de muitas obras começadas na gestão anterior e o início de novas
obras. Esse setor não para, é um passo após outro.
Setores como o fazendário e o portuário são dois
dos que tiveram melhores performances nesse primeiro ano do novo governo que
foi marcado por uma total inação da mídia governamental, menos por
responsabilidade dos profissionais do setor e mais por consequência de uma
diretriz de governo. Foi dada preferencia às mídias alternativas e sociais em
desfavor da mídia convencional, uma vez que esta, está em sua maioria, em poder
de grupos de oposição ao governo. No final do ano o governo começou a usar a
mídia convencional e sua visibilidade se sobressaiu.
Poderia dizer que esse primeiro ano tenha sido um
ano de preparação e que este segundo ano será de afirmação, tanto que a coisa
mais importante que o governo fez nesse primeiro ano de gestão foi resgatar a
imagem desgastada de seu aliado de primeira hora, o prefeito de São Luís.
O governador disse recentemente em uma entrevista
que a máquina do governo não participará das campanhas eleitorais de 2016 para
as prefeituras municipais. No caso de São Luís, graças a Deus, isso já não é
verdade, pois sem a injeção de recursos e a execução de obras na cidade, seu
candidato continuaria fragilizado e nossa cidade não estaria recebendo
benefícios tão importantes.
Segundo o governador ele participará das campanhas
de seus candidatos, mas seu governo, os recursos dele, não serão usados como suporte
de campanha eleitoral. É nessa hora que reafirmo o que disse antes. Mudamos de
governante, de grupo hegemônico, mas a política não muda, nem mesmo na
retórica.
Nenhum candidato a prefeito apoiado pelo governo
ficará satisfeito apenas com a presença do governador e de seus auxiliares em
seu palanque, o que eles irão querer é o suporte do governo com a realização de
obras ou pelo menos com as promessas delas, o que acaba dando no mesmo.
Se isso acontecer desta forma como estou
descrevendo, qual será a diferença para tempos pretéritos? Os nomes dos atores
e as ideologias professadas por eles!?
No que diz respeito ao relacionamento do governo
com a classe política há uma diferença que deve ser citada e analisada. Se
anteriormente a classe política era desprestigiada porque o governante não os
levava em consideração por desleixo e inapetência, o que se sente hoje é que o
atual governante e seus assessores mais diretos não prestigiam a classe
política por simples desprezo, por não acreditarem ser a classe política
necessária no processo de mudanças que querem implantar no Maranhão.
Se antes se cometia o pecado do desleixo e da falta
de reconhecimento, agora se acredita piamente que a classe política maranhense
não está preparada para agir como vetor de mudança de nosso panorama social.
Quando digo que se mudam os nomes e as ideologias e
não se mudam os fatos e os acontecimentos da política, posso provar. Lembram-se
do incidente que aconteceu em Lago da Pedra quando a prefeita Maura Jorge foi
impedida de falar numa solenidade que fora convidada pelo governo? Pois é!
Coisa muito parecida acontecia antes, quando o grupo Sarney detinha a hegemonia
política de nosso Estado e algum correligionário, cabeça de bagre, emprenhava o
ouvido do governante fazendo com que ele cometesse erro como aquele que foi
cometido naquela ocasião.
Para finalizar essa rápida análise que já se
estende por quase quatro laudas, gostaria de dizer que se fosse dar uma nota
para o governo neste seu primeiro ano, daria um oito, pois se excetuando a
visão fixa no retrovisor, ele cometeu poucos erros quando olhou para frente e
focou no que era realmente importante.
Como muitos eu não vislumbro um ano de 2016 fácil
para ninguém, muito menos para o governo em qualquer uma de suas esferas. O que
se pode fazer em momentos como esse é o básico, o simples feijão com arroz,
quando muito, alguma inovação que não seja muito onerosa e que tenha boa e
grande repercussão.
* Por problema de espaço físico está matéria não
será também publicada na página de opinião de O Estado do Maranhão.