O
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou na tarde de ontem,
terça-feira em sessão da CPI mista que confirma tudo o que disse no processo de
delação premiada que firmou com a Justiça. Acusado de irregularidades na
estatal, ele está colaborando com as investigações, com o objetivo de ter uma
redução da pena. Ele disse estar arrependido e que decidiu participar da
delação premiada por orientação da família. Isso teria lhe trazido “sossego à
alma”. Paulo Roberto disse que todas as indicações para cargos de diretoria da
empresa são políticas e que está arrependido de ter assumido o posto. Afirmou
ainda que as irregularidades na Petrobras acontecem no Brasil inteiro, das
rodovias às hidrelétricas.
A CPI fez uma
acareação entre Paulo Roberto Costa e o ex-diretor da Área Internacional da
Petrobras Nestor Cerveró para esclarecer as divergências em depoimentos
anteriores feitos pelos executivos. Costa já disse à Polícia Federal (PF) que
houve pagamento de propina para que a empresa adquirisse a refinaria de
Pasadena, nos Estados Unidos. Cerveró nega irregularidades.
Em sua primeira fala,
Paulo Roberto Costa disse que, assim como na primeira vez que foi à CPI mista,
em 17 de setembro, permaneceria calado, justamente para não atrapalhar o
processo de delação premiada. Segundo ele, todas as dúvidas já haviam sido
esclarecidas ao Ministério Público, Polícia Federal e Justiça Federal. Mas
ressaltou que faria alguns esclarecimentos. Neles, lembrou que assumiu o posto
de diretor de Abastecimento 27 anos depois de ter entrado na empresa por
concurso público. Nesse período, disse, ocupou postos importante por sua
competência técnica, mas destacou que isso não seria suficiente para se tornar
diretor.
- Nesses 27 anos,
assumi cargos importantes. Em todos esses cargos que assumi, não precisei nunca
de apoio político. Consegui esses cargos por competência técnica. Quando surgiu
a oportunidade de obter uma diretoria, era sonho meu ser diretor e, quem sabe,
a presidência. Mas desde os governo Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula,
Dilma, todos os diretores, se não tivessem apoio político, não chegavam a
diretor. Infelizmente, aceitei uma indicação política para assumir a diretoria
de Abastecimento. Estou extramente arrependido de fazer isso. Se pudesse, não
teria feito isso. Quisera eu poder não ter feito isso. Isso tudo, para tornar
minha alma mais pura, confortável, para mim e para minha família, fiz o acordo
de delação. Passei seis meses na carceragem. O que acontece na Petrobras
acontece no Brasil inteiro, nas rodovias, ferrovias, portos, aeroportes.
hidrelétricas - disse Paulo Roberto.
Ele confirmou tudo o
que disse no processo de delação premiada, mas não quis dar detalhes. Segundo
eles, fatos e pessoas envolvidas nas irregularidades serão conhecidos no
momento oportuno.
- Tudo que falei lá
eu confirmo. Não tem nada lá que não confirmo. É um instrumento sério, que não
pode ser usado de artificio, de mentira, que não pode ser na frente confirmado.
Nos mais de 80 depoimento que eu fiz, foram mais de duas semanas de delação, o
que está lá eu confirmo. Provas existiram e estão sendo colocadas. Falei de
fatos, de pessoas. Na época oportuna, virão a conhecimento público - disse
Paulo Roberto.
Ele afirmou ainda que
a família está sofrendo e que foi, por orientação dos familiares, que está
colaborando com as investigações.
- Quando resolvi
falar a delação premiada, não foi orientação do advgado, de ninguém. Foi da
minha família. Quem colcoou com clareza foi minha esposa, minhas filhas, meus
genros e netos. Falavam: por que só você? E os outros? Você vai pagar sozinho.
Fiz a delação para dar um sossego à minha alma e conforto à minha família.
Cerveró, por sua vez,
disse que não conhece o conteúdo da delação premiada de Paulo Roberto.
Perguntado pelo deputado Enio Bacci (PDT-RS), autor do requerimento que levou à
acareação, Cerveró negou ter recebido propina.
- Ratifico o que
disse antes, que não recebi - disse Cerveró.
- Então se o Paulo
Roberto disse que o senhor recebeu ele está mentindo - pergunta Bacci.
- O senhor (Bacci)
está fazendo uma ilação. Não conheço o depoimento do Paulo Roberto. Aí é o
caminho do "se" - disse Cerveró.
Cerveró confirmou que
sua defesa está sendo paga pela Petrobras, mas de forma indireta, por um seguro
que cobre acões dos gestores da emprsa.
- A minha defesa está
sendo paga pelo seguro, é uma forma indireta. Modelo americano que cobre atos
de gestão de diretores e conselheiros. Cobre toda atividade de defesa de gestão
desses diretores.
Em seguida, Paulo Roberto
Costa negou que tenha se valido do mesmo mecanismo.
- A defesa de Paulo
Roberto Costa não pagou um centavo. A defesa de Paulo Roberto Costa quem paga,
com muito sacrificio, é Paulo Roberto costa - disse Costa
Cerveró afirmou que
não conhecia esquema ilícito na Petrobrás como um todo. Perguntado que citasse
nomes envolvidos no escândalo, Paulo Roberto disse que não declinou nomes no
depoimento para Sérgio Moro mas que confirmava tudo que disse ao juiz.
O deputado Carlos
Sampaio (PSDB-SP) disse que o Brasil "vai ter limpa sem igual".
- Onde está o
problema em afirmar o óbvio, que Aécio Neves perdeu a eleição para uma
quadrilha? - disse Carlos Sampaio, acrescentando: - Quadrilha havia. Desvio,
houve. Propina, inegável. Corrupção não tem coloração partidária. O senhor
Paulo Roberto errou, merece críticas. Mas sua mudança de postura trouxe um
ganho ao país. O Brasil vai ter uma limpa sem igual.
O deputado perguntou
a Cerveró se não tinha corrupção na Petrobrás ou ele desconhecia.
- Desconhecia, logo,
não tinha - respondeu Cerveró.
Os dois diretores já
foram convocados a depor na CPI Mista. Na primeira vez em que esteve presente
na comissão, em 17 de setembro, Costa se recusou a responder as perguntas. Na
época, o acordo de delação premiada de Costa ainda não havia sido homologado
pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Assim, ele preferiu ficar calado para não
se comprometer. Pelo acordo, Costa decidiu colaborar com as investigação, tendo
em vista uma redução da pena.
Cerveró, por outro
lado, declarou, em 10 de setembro, não ter havido desvio de dinheiro na compra
da refinaria de Pasadena. Ele também garantiu desconhecer qualquer participação
direta do também ex-diretor Paulo Roberto Costa nos acertos empresariais para a
compra da refinaria nos Estados Unidos.
Costa está em prisão
domiciliar no Rio de Janeiro depois de ter firmado o acordo de delação
premiada. A presença dele na CPI foi autorizada pelo juiz federal Sérgio Moro,
responsável pelo processo da operação Lava-Jato. Moro determinou que Costa
fosse escoltado pela Polícia Federal até o Senado, devendo ser “evitada a
utilização de algemas”.
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