domingo, 17 de novembro de 2013

DETRAN X CARTÓRIO, TORTURA A CONTA GOTAS



            BURROCRACIA - CRÔNICA DE UM ESTRESSE ANUNCIADO


Aproveitando uma oportunidade impar de quitar um carro assumindo as multas, os IPVAs, os seguros e outras taxas pendentes, fiz um raspa na minha conta, liguei para alguns amigos, fiz a operação e enfim, comprei o meu primeiro carro. É um Fiat Uno, ano 2008, mas muito bem conservado. No intuito de arrumá-lo para começar a negociar os débitos, pedi para um amigo levá-lo na oficina e por infelicidade, se envolveu em um pequeno acidente, com danos mínimos, mas por imperícia, não negociou e foi chamada a pericia e por irregularidade na documentação, o carro foi rebocado para o pátio do DETRAN. Até aí tudo bem, pagaria as taxas e tiraria o carro, pensei eu. Era domingo.
Chamam isso de fila
Na segunda feira, eu e meu amigo, fomos até a Secretaria de Fazenda, puxamos os débitos do automóvel, fomos na casa da vendedora pegar uma procuração, fomos no cartório reconhecer a firma e de lá para o Banco do Brasil onde pagamos tudo que o carro devia. Estava solucionado o problema??? Não, aí começou a tortura. Lentamente caia as taxas e quatro dias depois, quando fomos tirar os documentos para retirar o carro, apareceu mais quatro taxas, duas multas e dois seguros. Pagamos e na quinta feira o pagamento caiu no sistema. Na sexta-feira, já com tudo liberado, fomos com a procuração tirar os documentos e ela já não valia mais, tivemos que fazer outra e ir na casa da vendedora para ela novamente assinar. Ao chegar no cartório do Dr. Braúna, tivemos a grata surpresa de uma jovem dizer que as assinaturas estavam diferentes, falamos com o tabelião Braúna que afirmou categoricamente que reconhecia que a assinatura era da pessoa mas que as três últimas letras estavam tremidas. 
Fila quilométrica para pagamentos de taxas
Aquela ação deixou em alta, a minha baixo-estima e voltamos ao DETRAN, mostramos ao diretor operacional, ele autorizou a liberação do documento, mas uma senhora disse que não entregaria, só com a procuração e eu falei que o carro estava com o vidro quebrado e podia chover e ela me disse – vamos trabalhar com a hipótese de que não vai chover, como se eu fosse Deus ou São Pedro. Na sexta-feira, logo cedo, fui ao cartório e apresentei a mesma procuração e reconheceram a firma, pode.
Apresentei, recebi o documento do carro e fui para o setor de apreensão, uma salinha toda fechada, sem ar condicionado, um calor infernal, uma fila totalmente desorganizada e apenas dois funcionários para dois computadores, aprendi até os nomes, Jorge e Bruno que como heróis, fazem milagres para atenderem dezenas de pessoas com os mais diferentes tipos de problemas. Vale ressaltar o heroísmo também de Carlito Longar, o que organiza os papéis e de Sidney, o vistoriador. Esses quatro super-homens, apenas eles, com as mínimas condições de trabalho, são os grandes responsáveis pelo setor mais pesado do DETRAN.


Carros apodrecendo no pátio do Detran
Entreguei os documentos para a liberação do carro e mais uma vez esbarrei na burocracia, apesar de ter a procuração que me delegava todos os direitos sobre o automóvel, a xerox da identidade da vendedora não estava autenticada e tudo ficou para segunda-feira.
Na segunda, fui cedo buscar a senhora, levei-a ao cartório e fiz a operação. De volta ao DETRAN, consegui que o  vistoriador avaliasse o carro. Com um problema em um número que não estava bem legível, tive que assinar um termo em três vias, reconhecer a firma. Cheguei no cartório do Titto Soares onde tenho firma, por não levar minha identidade, não pude reconhecer e mais uma vez esbarrei na tal “BURROCRACIA”, então, pra que eu registrei uma firma lá?
Voltei, peguei minha cédula de identidade, que a menina que reconheceu a firma, nem olhou e fui tirar o carro em meio a tantos carros que apodrecem no patio do DETRAN por falta de uma politica de agilidade funcional.  Foram doze dias de tortura.
Agora veja, como pode um órgão que só arrecada, onde tudo é taxado, onde o item mais barato da lanchonete é  R$ 3,50, onde as filas dobram quarteirão para pagamentos, no seu setor primordial, ter apenas dois computadores e quatro funcionários para uma capital inteira? Por isso é que tem a famigerada propina, a corrupção. De tanta BURROCRACIA, de tanto vender dificuldades, aparece sempre um para vender facilidades. De quem é a culpa? A direção do DETRAN tem lá sua parcela por não comprar computadores e não contratar pessoas habilitadas mas a maior culpa, é de uma burocracia cartorial que se arrasta desde o tempo em que Deus era menino e perambulava pelo Brasil, Brasil que até hoje expõe a vergonha de um selo, um carimbo e uma assinatura de uma funcionária bem vestida de um cartório, ou mesmo de um tabelião, valer mais que um homem presente, com todos os seus documentos em dia. Que país é esse.


Zé Lopes


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