A “fuga” de Júnior Bolinha e a sua prisão após sequestrar um
empresário na Av. Dos Holandeses na noite de sábado já ganhou repercussão
nacional. O jornal O Globo já traz matéria sobre o assunto.
O jornal carioca lembra que na quinta-feira passada, o Procurador
Geral da República, Rodrigo Janot, estuda a possibilidade de pedir intervenção
federal no Maranhão, depois das cinco mortes ocorridas na terça-feira em
Pedrinhas. Três presos foram degolados.
Preso deixa cadeia à noite
e sequestra empresário no Maranhão
Júnior Bolinha é acusado de ser um dos mandantes do assassinato do
jornalista Décio Sá
SÃO LUÍS (O GLOBO)- Acusado de ser um dos mandantes do assassinato
do jornalista Décio Sá no Maranhão, em abril de 2012, Raimundo Sales Silva
Júnior, conhecido como Júnior Bolinha, aguarda julgamento na cadeia, mas foi
preso novamente na noite de sábado, quando sequestrava um empresário que lhe
devia R$ 180 mil. Júnior Bolinha tinha saídas facilitadas durante à noite na
Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos, em São Luís, onde estava preso. Antes
de sequestrar o empresário, ele ainda promoveu uma festa com amigos e
familiares.
A delegada geral da Polícia Civil do Maranhão, Cristina Menezes,
disse na manhã deste domingo que a polícia já estava monitorando as
movimentações de Júnior Bolinha, depois que descobriu que ele tinha combinado
um encontro para cobrar débitos pendentes.
- Estávamos monitorando as condutas dele e das pessoas que o
rodeiam. Estava havendo uma ameaça a um empresário que devia uma quantia em
dinheiro a ele por parte do próprio Bolinha, por parte do advogado e de
parentes dele – afirmou a delegada.
Cristina Menezes garantiu que Bolinha foi seguido pela polícia
desde que deixou a delegacia até o sequestro do empresário, após a festa que
realizava em sua residência.
- Nós o seguimos. O empresário foi colocado dentro do veículo. No
um momento em que Bolinha parou o carro, os policiais aproveitaram para fazer a
abordagem, mas ele arrancou – disse.
Somente após uma longa perseguição é que o Júnior Bolinha resolveu
se entregar. A delegada Cristina disse ainda que ele teve a “fuga” facilitada
por um policial civil, que deveria estar de plantão na delegacia, e por um
guarda que estava em seu lugar e que confessou ter recebido R$ 150 para deixar
o preso sair.
Júnior Bolinha é um dos 12 acusados de envolvimento na execução do
jornalista Décio Sá, e seria quem intermediou a contratação do pistoleiro
Jhonathan Silva, réu confesso. Os outros presos cumprem pena no Quartel da
Polícia Militar.
Há denúncias de que não somente Júnior Bolinha, mas também Gláucio
Alencar, seu ex-sócio em negócios de agiotagens com prefeitos no Maranhão e um
dos acusados do crime, também estaria sendo beneficiado com saídas noturnas, o
que não foi confirmado pela delegada geral.
Na última quinta-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, enviou ofício à governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pedindo
informações atualizadas sobre a situação do sistema carcerário do estado.
Janot estuda a possibilidade de pedir a intervenção federal no
estado, depois do último conflito na Penitenciária de Pedrinhas, onde cinco
pessoas morreram, três delas decaptadas. Somente este ano, 50 pessoas morrerem
nas rebeliões de Pedrinhas, várias delas foram degoladas em cenas típicas da Idade
Média.
Júnior Bolinha foi transferido na manhã deste domingo para
Pedrinhas.
PARENTES
E UM POLICIAL ESTAVAM COM JÚNIOR BOLINHA DURANTE SEQUESTRO
Policiais
que prenderam ontem Raimundo Sales Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, acusado de
ser o contratante do Johnatan Silva, assassinato confesso do jornalista e
blogueiro Décio Sá, desconfiam que a saída dele da prisão tenha sido
facilitada.
Bolinha
deixou a prisão onde aguarda julgamento sem ser incomodado e deve ter contado
com a ajuda de um vigilante e um policial que não estava dentro do seu plantão.
O
contratante da morte de Décio Sá e de Fábio Brasil ocupava em um veículo
Corola acompanhado de dois parentes, sendo uma irmã, um irmão, e um policial
civil quando estava no Araçagy para fazer uma cobrança. Além de outras
atividades, ele era agiota.
A pessoa
que deve Júnior Bolinha foi colocada dentro do carro e quando avistaram que a
polícia estava ao encalce deles, empreenderam uma fuga que chamou a atenção das
pessoas na avenida dos Holandeses, no Araçagy.
Nas
proximidades de Churrascaria Berro foi montado o cerco e a pessoa que estava
sendo sequestrada aproveitou para se atirar pra fora do carro.
Um cidadão
que vinha mais atrás em seu veículo informou ao blog que alguns policiais
avançaram pra cima do homem caído ao solo e ainda desferiram nele vários
chutes, imaginando tratar-se de um dos elementos que estavam ajudando Bolinha
na fuga.
Todos
foram encaminhados para a SEIC onde foram ouvidos durante toda a madrugada de
hoje.
A
Secretaria de Segurança Pública vai informar hoje toda a operação e como Júnior
Bolinha teve a saída facilitada, a partir das 10h de hoje na sede da Segup.
Alguns policiais acreditam que esta não seja a primeira vez que ele tenha saído
durante a noite para fazer “negócios”.
O blog do
Luís Pablo chegou a publicar que ele fazia farras na cadeia onde se encontrava,
no ano passado, com a participação de mulheres nas orgias.
Nome de gente importante nos caso das mortes
Bolinha,
após a elucidação da morte do jornalista, passou alguns meses no 8º Distrito
Policial, na Liberdade e foi transferido para a Delegacia de Roubos e Furtos de
Veículos, na Vila Palmeira.
Naquela
época, ele responsabilizou a transferência como sendo retaliação da polícia por
ter manifestado desejo de contar todos os detalhes do assassinato de Décio Sá e
Fábio Brasil, este último em Teresina. Ele insinuava que havia participação
de gente graúda no caso.
Ao
jornalista Osvaldo Viviane, do Jornal Pequeno, ele contou o seguinte:
“Na primeira noite aqui [na DRFV], dormi no
chão, numa cela sem luz e molhada, em condições desumanas, como uma solitária.
Tenho certeza de que a transferência foi uma represália da Secretaria de
Segurança por eu falar com a imprensa quando estava no 8º DP, e dizer que
queria ser ouvido pela Justiça novamente para contar tudo o que sei dos crimes
que me acusam. É claro que é retaliação por eu querer falar o nome de gente
grande envolvida nos crimes. Até as visitas de pessoas da minha família estão
sendo proibidas. Nem a comida e água que me trazem podem chegar até mim. O
pessoal do DP diz que eu tenho que comer só as ‘quentinhas’ que eles trazem.
Estou preferindo ficar sem comer. Estou com medo de me matarem aqui dentro como
queima de arquivo”.
Mas o
delegado Augusto Barros, superintendente da Seic rebateu as informações de
Júnior Bolinha à época, informando que a medida foi para proteger a própria
vida do preso porque carros estavam rondando a delegacia.
Bolinha,
em junho do ano passado, se manifestou ao juiz Márcio Castro Brandão, e ao
promotor Luís Carlos Duarte que queria se reunir com os dois e seu advogado,
Armando Serejo, para contar detalhes dos crimes que ele havia omitido e teve o
pedido negado.
O promotor
Luís Cláudio Duarte, segundo reportagem do Jornal Pequeno, informou que um
grande empreiteiro do Maranhão seria investigado por suposta participação
no assassinato do jornalista Décio Sá, como um dos mandantes.
O
promotor chegou a pedir a entrada do Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP) no caso, já que o suposto “consórcio” para assassinar o
jornalista também teria a intenção de mandar assassinar um promotor de
Justiça, Luís Fernando Cabral Barreto Júnior (3ª Promotoria Especializada de Proteção
do Meio Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Cultural).
Acusação a dono de construtora
Na metade
deste ano, Júnior Bolinha informou que havia enviado uma carta feita do próprio
punho em que relacionava o nome do empresário Marcos Regadas, dono dos empreendimentos
imobiliários da construtora Franere, como uma dos participantes da morte de
Décio Sá, e do plano para matar o promotor Fernando Barreto. O secretário
de Segurança Pública, Aluízio Mendes, negou que tenha recebido o documento.
A carta
chegou às mãos de jornalistas e blogueiros e foi publicada por jornais
impressos e blogs. O blog do Luís Cardoso informou que a carta era uma
tentativa de extorsão de Bolinha que teria pedido do empresário R$ 2 milhões,
mas ainda assim o jornalista foi processado por Marcos Regada pela publicação
da carta.
O advogado
de Bolinha, Armando Serejo, que havia deixado a causa de seu constituinte,
disse desconhecer a tentativa de extorsão. Hoje ele voltou a advogar para o
contratante da morte de Décio Sá.
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