M
MONTSERRAT CABALLÉ — uma noite, um teatro, uma voz
.
Há noites que não se repetem — apenas se guardam, intactas, na memória do tempo.
A de 5 de dezembro de 1993 foi uma dessas raridades em SÃO LUÍS. O velho TEATRO ARTHUR AZEVEDO, depois de longos anos silenciado, abriu seus olhos de luz e recomeçou a respirar. As cortinas, que pareciam adormecidas em pó e saudade, voltaram a se mover com a delicadeza de quem desperta de um sonho antigo.
E foi então que entrou a soprano lírica: MONTSERRAT CABALLÉ — a espanhola de voz infinita, de timbre que parecia misturar o divino e o humano. Quando cantou, o teatro inteiro pareceu estremecer, como se suas paredes, colunas e lustres reconhecessem o chamado da arte verdadeira. Cada nota era uma prece; cada pausa, um sopro de eternidade.
SÃO LUÍS ouviu o mundo naquela noite.
E o mundo, por um instante, ouviu SÃO LUÍS. Os convidados na plateia — algumas incrédulas, outras com os olhos marejados — sabiam que estavam diante de algo maior do que um concerto: era o reencontro entre o som e o silêncio, entre o tempo que passa e o que permanece.
Emocionada, MONTSERRAT CABALLÉ elogiou a acústica do teatro, dizendo que o ARTHUR AZEVEDO era “uma verdadeira caixa de música” — e talvez tenha sido mesmo isso: uma caixa de ressonância onde o céu se curvou para escutar. Naquela noite, o palco e a voz se tornaram um só corpo, uma só vibração, um só milagre.
Quando o último aplauso se dissolveu no ar, o TEATRO ARTHUR AZEVEDO já não era apenas um edifício restaurado: era um coração reaberto, pulsando ao ritmo da beleza. E MONTSERRAT CABALLÉ, com sua voz de luar e orvalho, partiu deixando atrás de si não apenas música, mas um eco que ainda hoje se ouve — quando a lembrança decide cantar.
Paul Getty S. Nascimento
Poeta, compositor, cronista e membro da APL — Academia Pedreirense de Letras


Uma aula de história e poesia.
ResponderExcluirQue crônica linda. Conteúdo, narrativa e didática perfeitos. Parabéns
ResponderExcluirJoão Frazão
JOAO FRAZAO