terça-feira, 28 de outubro de 2025

DESVIO DE RECURSO DO FUNDEB LEVA A CIDADE DE BOM JARDIM A APARECER NO FANTÁSTICO

O Fantástico revela a situação precária da educação pública em Bom Jardim, cidade no interior do Maranhão. O município, que recebeu mais de R$ 650 milhões do Fundeb (o principal fundo de financiamento da educação) nos últimos 13 anos, mantém escolas improvisadas em igrejas, casas de moradores e até ao lado de fornos de farinha.

A cidade também apresenta um longo histórico de corrupção: dos últimos cinco prefeitos, quatro foram condenados por desvios ou improbidade administrativa.

O retrato do descaso é visto no caminho diário de Eudinete e seus seis filhos. Eles caminham por uma estrada de terra até uma pequena igreja. O local, porém, não é usado para missas, mas como sala de aula improvisada. O prédio original onde a escola funcionava foi interditado por risco de desabamento. Eudinete, que trabalha no local como zeladora, merendeira e vigilante, sonha com o básico para os filhos: “Um banheiro, pelo menos um.”

A equipe de reportagem passou por onze povoados e encontrou sinais de descaso por toda parte. Na escola improvisada na igreja, o estudante Jean, de 7 anos, observa: “Aqui nem é de verdade. Parece que aqui é só uma igreja.” Em outro povoado, Dona Elivânia oferece a própria casa para que os filhos e outras crianças tenham onde estudar há mais de 10 anos. Questionada sobre o que falta, ela resume: “O que falta é a escola mesmo ser construída.”

Banheiro é item raro; em um local, é apenas um cercado de palha, em outro, uma estrutura inacabada. “A gente tem que ir pra dentro do mato, porque tem um banheiro ali que nem vaso não tem”, conta um estudante. Em outra escola, onde o professor Antônio trabalha, a água usada pelos alunos vem de um poço cheio de insetos.

Professores se desdobram para lidar com a situação. Em uma das salas improvisadas, uma professora atende crianças de idades diferentes ao mesmo tempo. “O rebolado é grande. Eu tento me multiplicar o máximo que eu posso”, diz ela, que admite: “A defasagem é bem grande.”

Enquanto isso, estruturas de alvenaria, que poderiam ser escolas, estão abandonadas. Um prédio foi fechado há 10 anos para uma reforma que nunca aconteceu e hoje está com a estrutura deteriorada.

As péssimas condições não são novidade e coincidem com o histórico político da cidade. Em 2015, Lidiane Leite ficou conhecida como a “Prefeita Ostentação” por divulgar uma vida de luxo nas redes sociais. Ela foi presa, acusada de desviar cerca de R$ 15 milhões que deveriam ser destinados ao ensino público. Lidiane tem 10 condenações, que somam quase 40 anos de prisão.

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