terça-feira, 27 de outubro de 2015

FLORBELA, O FILME: BIOGRAFIA DE POETISA PORTUGUESA CHEGA AOS CINEMAS BRASILEIROS


Florbela, um dos filmes mais assistidos em Portugal em 2012 chega aos cinemas brasileiros. O longa-metragem de Vicente Alves do Ó retrata parte da biografia da poetisa portuguesa Florbela Espanca: uma mulher a frente do seu tempo que em meados da década de vinte divorciou-se várias vezes, escreveu textos eróticos, tentou suicídio mais de uma vez, foi internada em sanatórios e morreu aos 36 anos deixando uma obra riquíssima.

Os apaixonados por literatura que invadirem as salas de cinema para assistir ao filme Florbela, que acaba de estrear, perigam sofrer uma baita decepção.
Apesar de a atriz Dalila Carmo ter alcançado o olhar melancólico da poetisa portuguesa e da fotografia ser bonita e coesa o filme é bastante frágil.

É frágil, entre outras coisas, porque o conflito é apresentado de maneira periférica: as dificuldades que uma escritora sofria em meados da década de vinte para se impor no cenário literário - numa época onde somente os homens tinham voz - bem como o preconceito que uma mulher a frente do seu tempo - que divorciou-se várias vezes, usava calças, fumava, bebia e escrevia poemas eróticos - aparecem superficialmente em breves diálogos ao longo da trama.

Nem mesmo a intensidade e/ou a personalidade neurótica que a levou duas vezes ao sanatório, tampouco o suicídio, sombra que rondou duas vezes Florbela Espanca e tirou sua vida na terceira tentativa com uma super dosagem de barbitúricos, tem destaque no filme.
O diretor Vicente Alves do Ó privilegiou sua relação simbiótica com o irmão Apeles e durante 1h59min insinuou haver um amor incestuoso entre eles - retratando as suspeitas da época.

Segundo biógrafos como Agustina Bessa Luís ou Maria Alexandrina, não existiu, na realidade qualquer tipo de relacionamento incestuoso entre Florbela e o irmão Apeles. O fato de ser como irmã que Florbela se entrega mais profundamente, deve-se, no fundo, a Florbela ter tentado ser, mais do que uma irmã e confidente, uma mãe para Apeles”, que perdera a mãe aos quatro anos de idade. (fonte)

Em seu segunda longa-metragem, Vicente Alves do Ó erra por excesso de cuidado, por não querer errar: os atores são marcados demais, as pausas longas, algumas sequencias teatrais. E erra, também, por querer pretensamente traduzir a poesia - o que resulta em cenas batidas e cafonas, como uma chuva de folhas brancas caindo sobre a poetisa.

O figurino apesar de coerente e bonito é mal arrematado, empresta ares de brechó e não de uma época.

Saí do cinema com uma pequena certeza: apesar de biografias e filmes demonstrarem esforços para dar conta do tamanho de um artista, só há um meio de conhecê-lo inteiramente: procurando-o em sua arte. Eis aqui Florbela Espanca por Florbela Espanca:

O meu mundo não é como o dos outros. Quero demais, exijo demais. Há em mim uma sede de infinito, uma angustia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa, sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada. Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... Sei lá de quê”.


Para saber mais sobre a poetisa portuguesa, aqui

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