POEMA LIVRE
Tu és um poema feito em curvas como um rio
Cujas sinuosidades fazem o navegador
Perder a direção e precipitar-se.
Neste poema não cabem rimas,
A liberdade é a sua regra áurea.
O único hermetismo desta epopeia
É a conjunção perfeita: beleza e inteligência.
Sagacidade e perspicácia formam tua essência.
O conteúdo é o seu bem maior
Elevando-te em contraste ao derredor.
Diante da tua imagem tatuada em minha mente
Quedo-me pensativo e vago alhures e silente,
Onde estarás agora, o que fazes, em que pensas?
Oh distância e tempo, como vós sois cruéis comigo!
O veludo da tua pele ainda acaricia as minhas
Ásperas, atrevidas e insinuantes mãos, na busca
De entender a tua geografia cheia de relevos.
Meu olfato ainda está impregnada do teu perfume
Como uma marca indelével. O perfume de que falo
É o teu perfume, aquele que a sábia natureza te deu.
O meu paladar ainda sente o teu gosto, o sal tua pele.
Minh’alma segue aflita, inquieta a clamar por ti.
Não me abandones, não te percas de mim, serei o que quiseres.
Tu és a um só tempo a calma do córrego Quebra-anzol,
A sobriedade do rio Ínsono e a fúria do rio Mearim em
Época de cheias. Melhor, és a soma de tudo isso e me
Arrasta neste aluvião, nesta correnteza bravia.
Deixo-me levar sem resistência, com prazer e alegria,
Sem os temores e sem a culpa que antes me afligia.
Flávio Xavier
Brasília, 19/02/2015


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