domingo, 5 de janeiro de 2014

'BULÃO' MORRE AOS 87 ANOS


Bulão, uma história de vida e luta

Por Sérgio Mathias

Nas primeiras horas desse domingo (5) nossa cidade perdeu um dos seus filhos mais ilustres. José Santos, o 'Bulão', faleceu aos 87 anos, no no Hospital Geral de Alto Alegre onde estava internado desde o início da semana.

Seu 'Bulão' era bacabalense e há 53 anos abriu as portas do mais tradicional ponto de encontro da cidade. O Bar do Bulão, localizado na esquina das ruas Antonio Lobo com Manoel Alves de Abreu. O empreedimento existe até hoje e, como décadas atrás, continua sendo o local preferido de muitas pessoas que apreciam um bate-papo sadio, assistir aos jogos de futebol pela TV e se divertir em rodas de samba saboreando uma super cerveja gelada.

Jubileu de Ouro

Em 2011, familiares, clientes e amigos comemoraram ao lado do proprietário e fundado o Jubileu de Ouro do Bar do Bulão.

O evento também contou com as participações de inúmeras autoridades, entre elas, a vice-prefeita Taugi Lago, o ex-prefeito Jurandir Lago, o Secretário de Estado Jura Filho, o ex-secretário de Administração do município Almir Júnior, do deputado Alberto Filho e do senador João Alberto.

José Santos, o 'Bulão', era casado há 50 anos com dona Estela Gomes Santos. Ao longo de uma vida de trabalho e construindo amizades, o casal teve 8 filhos e 6 netos.

A legião de amigos e clientes que quiserem se despedir de 'seu' Bulão pode se dirigir à rua Carlos Pereira, 310, em frente a residência do médico Elígio Almeida, onde o corpo está sendo velado.

O sepultamento ocorre neste domingo (5), às 17 horas, no Cemitério do Axixá.
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Da esq. para a dir.: Ivaldo Pouso, Neco Cutrim e do lado de dentro balcão, José Santos - o Bulão.


O Bar do Bulão só não é mais falado do que o Tamió.
Conheci os dois, “seu” Bulão e “seu” Tamió, levado pelo meu pai que gostava de prosear.
Estranharam o “seu”?
No tempo da minha infância tratávamos as pessoas mais velhas por “seu” e “dona”. Ai de quem se referisse apenas ao nome da pessoa. Todos os que fossem mais velhos eram tratados por essa forma respeitosa, mesmo na ausência da pessoa. E como todo mundo era mais velho do que nós crianças, era “seu” e “dona”.

Apelido só para os adultos. Criança não podia tratar pelo apelido, a não ser que já fosse de uso comum e sacramentado. É o exemplo de ‘Tamió’ e ‘Bulão’. Hoje não consigo imaginar dizendo para meus filhos tratarem amigos como o Sérgio Matias ( carinhosamente chamado de cabeção) por “seu cabeção”. Ou o Carlos Henrique ( repórter Big Big para os íntimos) por “seu big big”.

Meu pai não tomava bebida alcoólica mas era freqüentador assíduo dos dois bares. No Tamió, colhia-se sempre alguma piada nova e saímos com um saco de limão, colhidos da plantação que tinha no quintal. O Bar do Bulão sempre tinha novidade. Enquanto os adultos conversavam eu ouvia ou lia jornal. Duas coisas que ficaram no passado: criança não entrava em conversa de adulto e informação da capital só chegava pelo jornal.

Quando conheci o bar do Bulão, o estabelecimento já funcionava onde é hoje, na esquina das ruasAntonio Logo com Manoel Alves de Abreu. Mas nem sempre foi assim. O primeiro bar funcionou onde é o Clube da Melhor Idade. O proprietário era o falecido Tunico Ene. Depois, José Santos, a quem todos conhecem por Bulão, comprou uma casa onde hoje funciona a empresa do Lino, a Elétrica Martins – na Antonio Lobo. A casa era de taipa, eu não lembro, mas sua filha Edileuza dá o testemunho pelos relatos da família.

Além da tradicional cachaça da terra com tira-gosto de camarão, “seu” Bulão vendia gêneroscomo arroz e açúcar. Sua esposa preparava também refrescos para a venda, já que não havia refrigerante com a facilidade que temos hoje.

Uma vez, voltando do Bar do Bulão, levei o maior susto. Fui comprar açúcar, que era entregueno papel de embrulho. Quando volto para casa, um cachorro resolve me atacar. Era o cão do “seu” Adalberto. Conhecido por “Pão-Duro”, ele vendia carvão na rua Antonio Lobo e não gostava do apelido. Eu tinha ordem para só tratá-lo por “seu” Adalberto. Mas me deu uma vontade enorme de chamar pelo apelido depois que o cachorro dele quase me atacou. Se não fossem as grandes canelas, que me serviram para pular no meio da rua, ele teria agarrado um bom par de ossos.

Se eu tenho histórias para contar, imaginemos quantas não há para serem contadas pela turmaque se reúne há 50 anos por ali. A começar pelo próprio Bulão, que chegou a vender cerveja gelada em geladeira movida a querosene quando ainda não existia energia elétrica. Histórias de um dos maiores blocos da cidade, a Turma do Pó que este ano completou 34 anos e que foi criada no Bar do Bulão.

Amanhã será comemorado o Jubileu de Ouro do Bar do Bulão. São 50 anos de história e estórias. A programação vai iniciar a partir das 21 horas com o som do grupo ‘Vamo de Samba’, de São Luis.


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