domingo, 8 de maio de 2016

COLUNA DO ZÉ LOPES


DONA ANAZILDE

Alem de carregar o pesado fardo
De nascer preta e pobre neste país
Carregava dois filhos,
Fruto de um casamento fracassado
E a vida ainda lhe deu como cruel esmola
Uma escoliose, que como cruz
Deixou sua costa deformada.

As coisas nunca foram fáceis
Sua histíoria de lutas
Daria livros e livros
Escritos a mão,
A mesma que amassou o pão asno
Que sustentou a prole.

A vida lhe deu água e limão
Mas não lhe deu açúcar
Pra adoçar a limonada
E para aumentar o amargor
Dos seus dias enfadonhos
Adoçou seu sangue
Lhe deixando, até seu último suspiro,
Refém da insulina.

Era o amor de nossas vidas
Tinha orgulho dos filhos
Dos netos, dos adotivos.
Tinha nos tristes olhos
O sol que mantinha acesa
A chama de um amanhã sem dificuldades.
Nos dentes mal cuidados
Um sorriso sem graça
Amarelo, mas acima de tudo,
Um sorriso humano.
Suas palavras soavam como orações
E aniquilavam o ódio, o mau humor, o rancor.

A soda cáustica, o ácido acético,
A química de um viver corroído,
Aliviado pelo trigo
E pelo suco ensacado e congelado
Foi conservado pelo  vinagre de álcool
Inrrigador da minha eterna embriaguez
Onde meus pensamentos
Se fundem e se confundem
Na lembrança viva
Da sua morte anunciada.

Zé Lopes

Do livro –BACABAL ALVES DE ABREU SOUZA SILVA DE M,ENDONÇA E DA INFÂNCIA PERDIDA.

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