Esta semana foi detectado no
Maranhão, um aumento de pacientes com o
mal de Hansen. Dr. Otávio Pinho Filho explica:
O que é
hanseníase?
A hanseníase, comumente conhecida como lepra, é uma doença infecciosa
causada pela bactéria Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, que
lesiona os nervos periféricos e diminui a sensibilidade da pele. Geralmente, o
distúrbio ocasiona manchas esbranquiçadas em áreas como mãos, pés e olhos, mas
também podem afetar o rosto, as orelhas, nádegas, braços, pernas e costas.
A doença tem cura, porém exige tratamento prolongado para não desencadear
problemas ao paciente ou a transmissão da bactéria para indivíduos de convívio
próximo. Nos dias de hoje, sabe-se que não há necessidade do isolamento dos
indivíduos, pois o SUS fornece a medicação necessária para recuperação dos
portadores da hanseníase.
História
A hanseníase detém o título de uma das doenças mais antigas da história
da humanidade, com relatos que datam até 1350 a.C. O registro oficial aconteceu
somente em 1873, pelo médico norueguês Gerhard Armauer Hansen, responsável pela
identificação do bacilo causador da doença.
Antigamente, por falta de conhecimentos específicos, a hanseníase
carregava um grande preconceito, associando os portadores ao pecado, à impureza
e a desonra. O tratamento dos pacientes consistia em excluí-los da sociedade,
com o impeditivo de visitar ambientes sociais, como igrejas e escolas,
obrigação de usar roupas e luvas específicas e carregar sinos que anunciasse
sua presença. A enfermidade era constantemente confundida com outras doenças de
pele e venéreas, que também não apresentavam a cura.
No Brasil, até 1962, a política visava afastar os portadores da doença
ao obrigá-los a se isolar em leprosários e queimar todos seus pertences. Após a
internação compulsória deixar de ser obrigatória, a Organização Mundial da
Saúde passou a recomendar o tratamento com a poliquimioterapia, que se trata do
uso de antibióticos oferecidos gratuitamente para todos os pacientes do mundo.
O avanço das descobertas e o fornecimento da cura da hanseníase fez 5,4 milhões
de casos registrados em 1985 se reduzirem a pouco mais de 200.000, em 2008.
Atualmente, a prevalência da doença está diretamente ligada a condições
precárias de higiene, afetando regiões mais carentes, como Brasil, Índia,
Madagascar, Moçambique, Miamar e Nepal. O Brasil é o país com maior número de
casos de hanseníase na América Latina, com o valor estimado de mais de 33 mil
doentes, em 2011.
Dia
mundial do Hanseniano
Celebrado sempre no último domingo de janeiro, o Dia Mundial do
Hanseniano teve sua origem através do jornalista francês Raul Fourreaux, que,
em 1954, motivou a Organização das Nações Unidas (ONU) a lembrar sobre a doença
até o dia em que a cura estivesse acessível a todos.
A data tem como objetivo reduzir o preconceito contra os portadores da
doença, que ainda sofrem com julgamentos baseados em informações ultrapassadas.
Assim, são intensificadas ações de assistência ao redor do mundo, na intenção
de evitar o contágio e conscientizar sobre os tratamentos e cura
disponibilizado aos pacientes.
Animais
Embora seja raro, existem espécies de animais que carregam a bactéria e
podem transmiti-las a humanos, são elas:
- Tatu;
- Chimpanzé africano;
- Macaco mangabey;
- Macaco cinomolgo.A hanseníase pode atingir pessoas de todas idades e de ambos os sexos, mas observa-se maior incidência em homens do que em mulheres. Crianças são mais propensas a adquirir a doença, no entanto, como demora a se manifestar, é comum ter mais casos relatados em adultos. Menores de quinze anos adoecem mais quando a hanseníase é endêmica em sua região.Contato íntimo e prolongado com portadores sem tratamento é descrito como o principal fator de risco, porém também há existência de outros, como:Condições higiênicas e climáticasA doença está associada a condições sanitárias insuficientes, falta de higiene, condições precárias de saúde e habitação precária. Ambientes sujos, quentes e úmidos são ideais para a sobrevivência do bacilo, por isso é comum em países com clima temperado, subtropical ou tropical, como o Brasil.As pessoas em maior risco são aquelas que vivem nessas regiões, principalmente onde a hanseníase é endêmica, como partes da Índia, China, Japão, Nepal, Egito, entre outros. Além disso, um número elevado de pessoas convivendo em um mesmo ambiente influencia o risco de adoecer.Contato com animais portadores do Mycobacterium lepraePessoas que lidam diariamente com certos animais que transportam a bactéria estão em risco de também adquiri-la, especialmente se não usar luvas durante o contato.A hanseníase se manifesta através de sinais e sintomas dermatológicos e neurológicos. As alterações neurológicas, quando não diagnosticadas e tratadas adequadamente, podem causar incapacidades físicas e deformidades.A doença atinge a pele e os nervos periféricos, porém, ela também pode acometer outras regiões, como os olhos (o que pode causar cegueira), cílios e sobrancelhas, os tecidos do interior do nariz, planta dos pés e, eventualmente, alguns órgãos. Com o período de incubação lento, o indivíduo pode se contaminar com a bactéria e somente manifestar anos depois.Sintomas dermatológicosO distúrbio se caracteriza pelo aparecimento de manchas arredondadas de cor parda, branca ou avermelhada, às vezes pouco visíveis, que se espalham pelo corpo. As lesões costumam apresentar alteração na sensibilidade, fazendo com que o indivíduo deixe de sentir diferenças de temperatura, pressão e dor no local da ferida. Essa característica que difere a hanseníase da maioria das doenças na pele.As lesões mais comuns são:
- Manchas pigmentares ou discrômicas: resultam da alteração — ausência, diminuição ou aumento — de melanina ou depósito de outros pigmentos e substâncias na pele. As manchas são de coloração branca.
- Placa: se estende no corpo por vários centímetros, seja individual ou em um aglomerado de outras lesões.
- Infiltração: aumento da espessura e consistência da pele, limites imprecisos, às vezes acompanhado de rubor.
- Tubérculo: denominação pouco usada, tubérculo se refere ao nódulo que evolui deixando uma cicatriz.
- Nódulo: lesão sólida, limitada, elevada ou não, de 1 a 3 cm de tamanho, em maioria mais palpável do que visível. Pode se localizar nas camadas da epiderme, derme e/ou hipoderme.A sensibilidade comprometida das lesões pode ocorrer da seguinte forma:
- Hipoestesia: sensibilidade reduzida.
- Anestesia: sensibilidade ausente.
- Hiperestesia: aumento da sensibilidade.Além das lesões na pele, a hanseníase se manifesta através de lesões nos nervos periféricos. Essas lesões são decorrentes de um processo inflamatório chamado neurite, causado tanto pela ação da bactéria quanto pela reação imunológica do organismo para expulsão do bacilo. Em alguns casos, pode ser causada por ambos.As lesões se manifestam pelos seguintes sintomas:
- Dor e espessamento dos nervos são os primeiros sinais de inflamação;
- Perda da sensibilidade nos membros inervados afetados, como olhos, mãos e pés;
- Comprometimento dos nervos periféricos, caracterizado pela perda da força em determinados músculos inervados, principalmente nas pálpebras e nos membros superiores e inferiores, como braços e pernas.A neurite é um processo agudo que acompanha dor intensa e edema, inchaço causado pela retenção de líquidos. O comprometimento do nervo é evidenciado quando a condição passa a se tornar crônica, ocasionando:
- Sensação de dormência, causada pela inflamação dos nervos;
- Alterações na secreção de suor, causando a perda da capacidade de suor, consequentemente, ressecamento da pele.
- Redução da força muscular, caracterizada pela dificuldade para segurar objetos. Isso causa paralisia nas áreas afetadas pelos nervos comprometidos, como braços ou pernas;
- O acometimento neural não tratado pode provocar incapacidades e/ou deformidades pela alteração de sensibilidade nas áreas atingidas. A alteração na musculatura esquelética ocorre principalmente nas mãos.Outros sintomasPodem ocorrer, também, as seguintes sensações:
- Impotência e esterilidade. A infecção pode reduzir a quantidade de testosterona, quanto a quantidade de espermatozoides produzidos pelos testículos;
- Áreas da pele que foram afetadas sofrem alterações na sensibilidade térmica e com a perda de pelos;
- Caroços ou inchaços nas partes mais frias do corpo, como orelhas, mãos e cotovelos.O médico dermatologista deve ser consultado para realizar o diagnóstico eficiente a partir da observação das manchas, análise dos sintomas do paciente e realização de testes específicos. Os exames requisitados podem ser em consultório, para testar a sensibilidade das feridas, ou laboratoriais.
Por Dr. Otávio Pinho Filho
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