domingo, 3 de janeiro de 2021

COLUNA DO DR. ERIVELTON LAGO - A ARTE DE TER RAZÃO

 


A ARTE DE TER RAZÃO-

Schopenhauer

A arte de ter razão é pura e simplesmente isto: é a arte de ganhar uma discussão. A arte de ter razão é a arte de vencer um debate, de convencer uma plateia ou um grupo de pessoas ali por perto. A premissa aqui é bem clara: convença-se de uma vez por todas que quando as pessoas querem discutir ou debater, o interesses delas não é com a verdade; o promotor de justiça ao debater com o advogado no plenário do júri ou numa audiência de instrução, o interesse de ambos não é com a verdade, à moda Platão. Quando as pessoas discutem e debatem, o que elas querem é ganhar a discussão, o que elas querem é ter razão, e ter razão é simplesmente ganhar a discussão.

Quando as pessoas se põem a discutir e a debater, o que elas querem é vencer o outro. E aí você pergunta; mas quem vence o debate não é quem está com a verdade? não! Quem vence o debate é quem é mais astuto com as palavras. 

Em geral os homens não sabem onde está a verdade, pois a verdade é relativa. Isto é a primeira conclusão. De modo geral, os homens não sabem onde está a verdade. E, portanto, o que eles querem mesmo numa discussão é vencer o seu oponente. Se você acredita que entrou num debate para encontrar a verdade, você já começou mal. Por que se fala isso?  Porque a perspectiva do seu adversário não é essa. O seu adversário quer ganhar o debate, e para ganhar o debate não é fundamental estar com a verdade. O fundamental é ser astuto. Aliás, debater acreditando estar com a verdade seria uma espécie de incoerência estranha; porque se você debate para encontrar a verdade, como você poderia ter a verdade antes do debate? Se uma pessoa é denunciada por um promotor de justiça por crime de homicídio fútil, e você acredita nessa denúncia como uma verdade, então você tem que concordar com o promotor. Advogados não concordam com denúncias ministeriais. 

Então, qual é a conclusão a que  se quer chegar com o que foi dito acima? A conclusão, é que a maioria das pessoas adoram dar opiniões sobre tudo, e poucas pensam antes de dar opiniões. De modo geral, as pessoas falam antes de pensar, opinam antes de pensar, argumentam antes de pensar, e quando descobrem que estão erradas, elas não mudam de opinião. Elas não cedem, elas não se dobram em nome da verdade. Um exemplo é quando os promotores de justiça elaboram as suas denúncias baseadas apenas no relatório policial sem se debruçarem racional e minuciosamente nos autos do inquérito policial. 

Assim, mesmo depois de descobrirem a verdade eles insistem. Como insistem? Usando falácias para ganhar o adversário. Muitas vezes ganham. Essa á a primeira ideia. Schopenhauer não está ensinando você a achar a verdade, ele vai ensinar você a ganhar um debate, usando meios lícitos ou ilícitos, não importa. O que você tem que fazer é ganhar o debate e ponto final. Os meios não importam, ganhe o debate.

Finalmente, você deve perceber que no debate o seu objetivo não  é convencer a outra pessoa que está debatendo com você. Perceba que além de você e do seu contendor existem outras pessoas por ali ouvindo e julgando a sua performance: uma plateia, um juiz ou juízes, jurados, amigos etc. 

Às vezes quando você está em debate nas reuniões de família você fica encolerizado quando uma ou outra pessoa adere à ideia do seu contendor. Passa a ideia de que você está errado, está blefando, etc. O alvo da sua argumentação são os outros e não o seu contendor. Convencer uma plateia é convencer um indivíduo. A plateia é a massa que importa. O seu objetivo é a retórica em direção à plateia. Observe bem para que plateia você está falando. Qual é o perfil da plateia? Então, ensina Schopenhauer: distorça a tese do seu adversário e depois ataque a distorção, e não a própria tese. O resto é com você.

4 comentários:

  1. Para mim, o filósofo tem algumas razões a partir do contexto a que se inseriu sua "verdade" sobre o conceito de razão à luz de uma suposta verdade. No fundo, parte da premissa de que a verdade é relativa e como tal se sujeita a variações de interesses. Ocorre que, numa perspectiva de disputa de teses em antítese, claro que a argumentação melhor é quem prevalecerá diante de uma plateia alheia ao que de fundo se debate. Contudo, quando se busca o justo do caso concreto, penso que como operadores do Direito, advogado e promotor se justica, não deveriam se ver como rivais, mas convergentes na busca da efetividade da Justiça diante de um caso concreto, cujo resultado maior tenha como vitoriosa a justiça destinada à quem se encaminha o próprio direito como instrumento finalistico de paz social. Para mim, quando se veem como concorrentes, são e serão profundos alienados a interesses umbilicais e não da coletividade a qual juraram proteger como simbolo maior da Justiça. Pena que o lugar comum é a prática da concorrência num verdadeiro cenário de ganhos e perdas, quando assim pensando, todos são perdedores em suas consciências mais profundas e até dormem com pesos em suas cabeças quando o tribunal da consciência lhes chama à verdadeira razão, salvo melhor interpretação. Contudo, parabéns pelo artigo, pois provoca reflexões.

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    1. Eu costumo acreditar no cliente, embora saiba que às vezes a sua crença divirja da minha. Desde quando acordei, percebi que nem sempre as coisas nas quais acredito me levam onde quero.

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    2. Meu caro advogado Sebastião Uchoa, concordo com V Exa, não à rivalidade entre advogado e MP, mas essa rivalidade é salutar desde que fique dentro do debate e das ideias. A justiça do Promotor, via de regra, não é a mesma do Advogado. Daí a máxima: todo conhecimento é relativo.

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  2. Nobre amigo, concordo na parte que o MPE defende sua tese mesmo sabendo ser a errada. No que pertine advogados fazerem o mesmo, eu discordo. Só defendo o que acredito.

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