CAL
Sou produto do rejeito
Dos engenhos. das usinas
Sou uma alma perdida
E um corpo em ruinas
Sou um vendaval de areia
A embaçar as retinas
Fumaça de querosene
No fogo das lamparinas
Sou o suco da bacaba
Da Juçara. Buriti
Azedo da manga verde
O travo do cajuí
Espinho do tucunzeiro
O ranso do murici
O cortante croatá
O ácido abacaxi.
A mortandade dos peixes
Atraindo os urubus
A rota das andorinhas
O balé dos mururus
Sou a fome do roçado
A sede do Mearim
Lagoas que soterradas
Respiram dentro de mim
Sou a casca do Arroz
Sou xerém e sou cuim
Sou bôrra do babaçu
A adubar o capim
Sou a rampa, sou o cais
Sou a ponte no inverno
Um banho de bica forte
Um sonho infantil eterno
Sou o lápis, sou caderno
O peso da palmatória
A tabuada no bolo
Enredo ora tanta história
Que se perde com o tempo
Carcomida pela cal
Que tinge de branco os muros
Pra te escrever, Bacabal.
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