sexta-feira, 3 de outubro de 2025

COM A PALAVRA - O BENDITO REGGAE - POR ZÉ CARLOS GONÇALVES

 

O BENDITO REGGAE 


    Tenho ouvido, muito, umas historinhas da entrada do reggae na Baixada. Umas, muito interessantes; outras, por demais, cabeludas.

    A verdade é que a Baixada (con)viveu com grandes orquestras. E a JAZZ PINHEIRENSE, de meu bisavô, Filipinho Pessoa, é um exemplo, das que quebraram as suas fronteiras, chegando a embalar muitas festas, em vários outros municípios. E, um bom exemplo, era a participação nos festejos da Santa Fazendeira, em Viana. Assim como, em Santa Helena e São Bento.

    E, como os simples são filhos de Deus, alcancei os conjuntos, denominados "Pau Furado", com suas rabecas e suas cabaças, que faziam levantar poeira nos barracões, cobertos de pindoba braba, sem tapume, a temperar os corpos banhados de Van Ess ou lambuzados de minâncora e encharcados de suor, a atestar a bruta lida, que alimenta.

   No entanto, as minhas festas foram dançadas ao som do merengue. Um presente das ondas AM, que se evadiam do Caribe a me fazer "balançar o esqueleto". E, balançava, em um voejar leve e frenético, que até me leva de volta ao quintal, da casa de Dica Galinha, mergulhado no ensurdecedor som de uma vitrola, roufenha, a se emprenhar em dois potentes e roufenhos alto-falantes.

    Aí, sim, nessa onda caribenha,  veio "o reggae". E, como lembrança primeira da minha referência, ouço o som da casa de Mané de América, no Campo de Aviação. Num momento, em que o regueiro era demasiado discriminado, colocado no limbo da solidão, jogado às traças do desprezo. Tanto que o adjetivo, aterrorizador, que se lhe apregou era "maconheiro". Um passaporte para se manter distância. Um passaporte para ser a ovelha perdida da família. Um cancro social. Um elemento da tribo, que trazia pequena tatuagem, um molho de chave dependurado do cós do calção, e o calção no rendengue, e o andar embalado no embalo do vento. Tudo no maior "manaice!"

    Mas o regueiro foi, é e será sempre guerreiro. E, com a sua resistente resistência, foram surgindo outros salões, que marcaram época na vida noturna pinheirense, como o Sindicato e o Palmeirinha.

   Interessante é que a palavra "maconheiro", que marcou, em definitivo o regueiro, da pior forma possível, vem da palavra maconha, que se apresentava algo terminante proibido. De verdade, era um cabeludo palavrão e um pecado mortal, que assustava mais que alma penada. Mas a sua utilização, ao que se sabia, nos sussuros e nas conversinhas abafadas, era permitida aos cincunspectos e respeitados senhores, protegidos por uma moral inabalável, que se divertiam nos carteados e nos dominós, da vida, embalados pelo murmurar das cabaças! 

    E, para não esquecer e fechar, "ao som de Bob", nas décadas de 70 e 80, na Baixada, quem reinava, no reggae, era Nestabo e Carne Seca!

     E, não vamos inventar historinhas!

   

           Zé Carlos Gonçalves

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