terça-feira, 12 de agosto de 2025

POESIA - O CORPO - POR ABEL CARVALHO

 

O CORPO


Visto a lembrança com a dura capa da saudade

Encarno em mim mesmo o tempo

Véu de sofrimentos

O corpo treme de desejos sem esperanças


Rompo o lacre do passado e vejo a tênue imagem

Do teu corpo

Ouço o sibilar dos teus pedidos

Mistura de prazer e dor sem sentido

Escárnio do desejo incontido

Do coito interrompido

Sem final

Sem fim


Ainda sinto o cheiro do gozo que não veio

E que eu queria

Tanto queria

Mas nunca cheguei a ter

Nem chegarei

E ti pedi


Apenas sonho de olhos abertos

Vez que não durmo

Como se tudo hoje fosse


O suor

Teus olhos cerrados

Teu choro ensandecendo meu coração vorazmente

Tuas pupilas mortas e quebrantadas

Meu corpo inerte a te dar repouso

Em um tempo e final que nunca foi meu


Abel Carvalho


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