MAMBEMBE
Enfio um barbante na agulha de saco
E alinhavo em pontos largos
A lona grossa,
Cobertura do circo
Pedaço de um dia distante
Onde palhaços sem graça
Arrancavam lágrimas
De uma platéia subnutrida
Alimentada de nada
Era menino e gritava na rua
Com outros meninos
As cantigas circenses
Malabaristas atiravam a esmo
Seus malabares de vento
E em pernas de pau
A vida se equilibrava.
Puída, a corda bamba ainda suportou
O peso dos meus sonhos,
A trapezista sentiu medo
E não realizou o próximo numero.
Animais famintos urravam a fome
Em jaulas frias.
A mulher de barba
Mendigou uma tesoura
E um barbeador
O homem enterrado vivo
Não viveu para ver
O próximo espetáculo
E apenas o mágico
Morrendo de fome
Tirou da cartola o último coelho
Que foi sacrificado
Para realizar
A sua última ceia.
Zé Lopes
Do livro “Bacabal
Alves de Abreu Sousa e Silva de Mendonça e da Infância Perdida”
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