domingo, 28 de abril de 2013



MAIS UM DIA


Os galos de briga
Presos na jaula
Da minha infância
Ainda mantém
Seus bicos e esporões afiados
Manchados com o sangue
Que também foram tinta
Que no chão
E na parede da rinha
Deixaram para os séculos
E séculos sem fim
Em molduras de ossos
Expostos na galeria do absurdo
A arte macabra da imperfeição.

O milho debulhado e espalhado
No piso do meu quarto de insônia
Foi o conforto para meus joelhos
Na auto-flagelação
Do meu corpo em agonia.

Toda vez que a noite me acorda
Com suas cãibras agudas
E seus demônios malvados
Foge pela fresta da janela
As imagens do novo
Que habitavam em mim
E o velho que sou
Sente lentamente
Mais uma manhã chegar
Trazendo com o sol
O pesadelo de viver mais um dia.

 Zé Lopes
Do livro “Bacabal Alves de Abreu Souza Silva de Mendonça e da Infância Perdida”

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