COMEMORAÇÃO EM SILÊNCIO: 60 dias de esquecimento
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Essa semana exatamente, faz 60 dias desde que fui submetido a uma cirurgia de prostatectomia. Uma data marcante, memorável… ao menos para mim. Afinal, quem não contaria os dias depois de um procedimento desses, não é mesmo? Mas, curiosamente, tenho refletido sobre algo ainda mais doloroso que o pós-operatório: o silêncio cirúrgico de certos “amigos”.
É interessante notar como algumas pessoas, que se autodenominam próximas, conseguiram a proeza de passar dois meses inteiros sem sequer digitar um “melhoras”, um “força aí” ou, ousando muito, um emoji de coração — afinal, até o WhatsApp oferece mais empatia que certos contatos da vida real. Visita então… ah, essa é exclusiva para os que ainda praticam a arte em extinção da verdadeira amizade.
Agora, troquemos o cenário. Imagine que em vez de uma cirurgia fosse uma festa de aniversário, com muita cerveja gelada, churrasco no ponto e aquele pagodinho animado. Nesse caso, a agenda se abriria magicamente, os compromissos evaporariam e ninguém esqueceria o “grande dia”. Milagres da sociabilidade seletiva.
Mas, sejamos justos: talvez essa atitude seja apenas uma peculiaridade do comportamento humano. Quem sou eu para exigir empatia ou consideração? Afinal, esquecer um amigo doente é quase um ritual social — acontece nas melhores famílias, dizem por aí. E quem sou eu para quebrar essa tradição secular?
Enfim, sigo contando os dias — não só da recuperação física, mas também do aprendizado emocional. Porque cirurgia a gente supera com o tempo. Já a ausência disfarçada de amizade, essa é mais difícil de cicatrizar.
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@poetapaulgetty
Membro da APL - Academia Pedreirense de Letras


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