quinta-feira, 2 de outubro de 2025

COM A PALAVRA - O BENDITO BREGA - POR ZÉ CARLOS GONÇALVES

 

O BENDITO BREGA 

   Recentemente, em uma roda de conversa, virtual, a conversa cambou para a delicada situação da escola. E as reflexões, que deveriam ser consistente e equilibradas, começaram a desandar para um caminho de irracionalidade, que negou, por completo, o grupo de pessoas esclarecidas, inclusive "alguns fessores", envolvidos ali.

    E, como já venho defendendo, há um bom tempo, mostrei a involução cultural, que vem nos assolando, sem perspectiva de reversão, e nos colocando em uma situação crítica. Algo extremamente preocupante. Da qual nada escapa. Nem a música, nem a literatura, nem o cinema, nem as artes plásticas, muito menos, o consistente conhecimento.

    Para minha surpresa, e descrença, a discussão ganhou um ar de peleja mortal. O que mais ouvi é que sempre houve músicas e filmes ruins. Tudo bem, tudo certo. E ficou difícil, mesmo, quando começaram as comparações com a atualidade. Digo difícil, pela tentativa de igualar acontecimentos e produções, principalmente, as musicais. Aí, não aguentei. E, como diziam os meus antepassados, "gato escaldado tem medo de água fria". Me calei. Me tornei invisível, "no meet".

   O certo é que não fiquei alheio ao passado, já que em minha infância / adolescência, mesmo as pessoas "torcendo o nariz". Um absurdo, quando envolve o nariz; e, não o ouvido. Mas, vamos lá. Tá tudo certo. "Torciam o nariz", verdade verdadeira, para "o brega". E esse ódio nunca foi consenso. Nem podia. A música, independente de rótulos, vinha revestida de mensagem e muita qualidade. Como escantear, só num exemplificar simples, Núbia Lafaiete, Nelson Gonçalves, Evaldo Braga, Waldick Soriano, Odair José?! E, como escantear o que mexia com a dor de cotovelo, a dor da perda, a dor da partida, a dor da saudade, a dor de amar, a dor da existência?! E, para os mais exaltados, a dor de corno?! 

    E, como escantear a revolta amorosa, tão sentida, em "SE MEU AMOR NÃO CHEGAR", que descreve cenas icônicas e, poeticamente, perfeitas, a nos brindar com "Têm dois copos na mesa / e uma cadeira vazia / e eu aqui, na incerteza / de amanhecer o dia". Uma prova, inconteste, de que o vazio maltrata. Com a válvula de escape se materializando na força da valentia, que permeia o papo do bêbado. "Hoje eu quebro essa mesa / se meu amor não chegar". Este bêbado quis ser brabo; a maioria dos bêbados se tornam ricos. De verdade, nunca vi um bêbado pobre. Nem que depois, a ressaca moral lhe mostre a sua real realidade. Mas o estrago já foi feito. Só lhe restam dívidas.

    O papo tá bom, mas voltemos ao brega. Como desprezar A VOLTA DO BOÊMIO. O maior exemplo de abnegação lírica, que nos delicia até hoje. "Acontece / que a mulher / que floriu meu caminho / De ternura, meiguice e carinho / sendo a vida do meu coração / Compreendeu / e abraçou-me dizendo a sorrir / 'Meu amor, você pode partir / não esqueça o seu violão". Já estou quase chorando.

   Mas, antes que as lágrimas me embotem os  olhos, ainda dá tempo de lhes assegurar que o brega não tem parelha com as baboseiras de hoje. E berra que a falta do amor correspondido é mortal. E vai construindo a decadência e a destruição de quem se encontra solitário, em uma evocação tão sentida e tão sincera. "Verônica me sinto tão só /Quando não estás junto a mim / Verônica eu quero dizer / Que te amo tanto / que não posso mais / Que te quero tanto amor

Quero teus olhos olhar / Quero tua boca beijar / Verônica me sinto tão só / Quando não estás junto a mim"

    Vivamos o brega!


         Zé Carlos Gonçalves

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