O
governo montou nesta terça-feira, 16, uma operação de “contenção de danos” com
vistas a minimizar possíveis estragos causados pelo depoimento que o ex-diretor
de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa deve prestar na tarde desta
quarta, 17, à CPI mista (CPMI) da estatal instalada no Senado em decorrência da
Operação Lava Jato da Polícia Federal.
O
Palácio do Planalto teme que, se o ex-diretor resolver falar sobre o esquema de
corrupção que tem delatado à Justiça Federal do Paraná, a presidente Dilma
Rousseff pode sair extremamente desgastada a 19 dias do primeiro turno das
eleições.
A
aposta inicial dos governistas é de que o ex-diretor permaneça em silêncio
durante o depoimento, que ocorrerá sobre forte esquema de segurança.
Desde o
dia 29 de agosto, Costa tem prestado depoimentos à Justiça no qual vem
revelando a participação de políticos, inclusive filiados ao PT e ao PMDB, num
esquema de recebimento de propina em contratos sob a diretoria que comandou nos
governos Lula e Dilma (2004 a 2012). A avaliação é de que o ex-diretor poderia
perder o direito à redução da pena prevista no acordo de delação caso fale aos
deputados e senadores.
Dilma
afirmou ontem que “não tem a menor preocupação” com a ida do ex-diretor para
depor no Congresso. Apesar das declarações da presidente, o governo está
acompanhando o tema de perto e o ministro- chefe da Secretaria de Relações
Institucionais, Ricardo Berzoini, foi escalado para atuar junto ao Congresso.
Berzoini se reuniu na manhã desta terça-feira, no Planalto, com o presidente da
CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), para debater a estratégia de condução
dos trabalhos durante o depoimento.
Enquanto
o assunto Petrobrás estiver em ebulição na CPMI, o afastamento do ministro
Ricardo Berzoini do governo está adiado. A ideia inicial consistia em que ele,
a exemplo dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), que tirou férias,
e do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, que deixou temporariamente o
cargo para reforçar a campanha, também se afastasse do Planalto para colaborar
nas eleições.
Mas,
agora, diante das denúncias de corrupção na estatal, o plano foi adiado.
Berzoini, no entanto, já participa das reuniões de coordenação da campanha
petista no Alvorada.
Manobra.
Em sintonia fina com o Planalto, caso Costa queira falar à CPI, parlamentares
da base vão defender que o depoimento do ex-diretor seja realizado em sessão
fechada. Embora justifiquem publicamente que desta forma o ex-diretor vai se
sentir mais à vontade para falar, os governistas avaliam que um depoimento
feito sem a presença da imprensa terá um efeito político - e, naturalmente,
eleitoral - reduzido.
Outro
ponto que os governistas pretendem explorar, caso o ex-diretor resolva falar, é
sobre a ascensão de Costa na Petrobrás durante o governo Fernando Henrique
Cardoso. A estratégia da base é mostrar que, se o ex-diretor atuou mesmo no
esquema de corrupção da Petrobrás, o início se deu ainda nos governos
tucanos.
O
ex-diretor, que entrou para a estatal em 1977 por concurso público, ocupou
importantes funções na companhia durante a gestão FHC. Um grupo de 10
assessores da base fez um pente-fino na atuação de Costa a fim de encontrar
indícios de atuação irregular dele desde o governo do PSDB (1995-2002).
Apesar
da apreensão nos bastidores, o presidente da CPMI afirmou que não está
preocupado com as eventuais repercussões que as revelações do ex-diretor possam
trazer para seu partido. “(O PMDB) não (teme o depoimento), eu acho que todos
nós torcemos para que ele possa falar e confirmar as notícias vazadas por
vocês”, respondeu Vital do Rêgo.
O
relator da comissão, deputado Marco Maia (PT-RS), disse esperar que Costa
confirme as declarações. “Provavelmente esta sessão será fechada e nós
deveremos dar esta oportunidade ao depoente para que ele possa falar mais. Nós
queremos ouvi-lo, obter informações dele durante o processo de investigação”,
disse. O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), também concorda com o
relator. “Se formos realizar a sessão secreta, vamos preservar a condição do
delator”, afirmou.
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