quinta-feira, 4 de abril de 2013



BACABAL@CULTURA.SEM
          Agora que estamos em abril, mês em que se comemora  o aniversário de Bacabal, mais precisamente no dia 17, o nosso blog prestará uma homenagem a essa cidade. Quando  saí   de Bacabal para fixar residência em São Luis em busca de oportunidades que a minha terra nunca me deu, escrevi um livro de poemas intitulado “Bacabal Alves de Abreu Souza e Silva de Mendonça e da Infância Perdida”, onde eu verso sobre a minha infância na cidade e a cidade na minha infância. Como não tenho nenhuma pretensão em publicá-lo, vou presentear os meus leitores com alguns deles, que poderão ser lidos até o niver da cidade. Curtam o primeiro


CIDADE SITIADA

Carrego entre os dentes
A faca cega e enferrujada da história
Que me contaram sobre as histórias de uma cidade
Que nasceu em pencas como a banana
Madurou em cachos como o arroz
 Viajou em fardos como o algodão
E quebrou como o coco babaçu.

Cidade que se prostituiu nas noites
Nos cabarés e prostíbulos
Da rua 28 de julho
No Mufumbo, na Rua dos Prazeres
No buraco do Tatu na Rua Rui Barbosa
Nas Três Marias na Rua Djalma Dutra
No Preto Oito na Rua Frederico Leda.

Cidade que acordava com o barulho das usinas
E com o cheiro do cuim e xerém,
Cidade que se acalentava
Ao som das sirenes das fábricas
Ao som do apito da Polar
E de outras lanchas e batelões,

Trago em minha cabeça a rodilha dos anos
Um velho chapéu de palha carcomido
Amassado pelo peso das lembranças
Dos tabuleiros de quebra-queixo,
Das tábuas de pirulito, das bandejas de pão doce,
Das bacias de cocada, dos sacos de algodão doce,
Das caixas de picolé, dos carrinhos de sorvete,
Do tambor de chegadinho cavaco chinês,
Da maleta de Cuscuz Ideal,  do isopor de dim dim

Ainda alimenta as lombrigas dos meus primeiros anos
A doce lembrança do sabor
Do Picolé Jeneve, do Refresco Topogigio
Do refrigerante Grapetti, do bombom São João
O sabor caseiro do alfinim, do puxa-puxa,
Da chupeta, da raspadinha, do suspiro
Do mingau de milho, da canjica,
Da pamonha, do mungunzá.

Trago em meu corpo
As cicatrizes deixadas pelos cacos de vidros,
Pregos enferrujados, pedras de baladeira,
Quedas de arvores, topadas, esbarrões
Arranhões no asfalto, nas calçadas
Nos matos espinhentos e arames farpados.

Ainda está lá na beira do Rio Mearim
A marca dos meus pés
Moldada no barro da inocência
Ouço no fundo perdido da minha criancice
O barulho das águas quando pulava de ponta
Quando jogava cangapé, virava pulitrica
Tocava borá, batia canapum e dava cambita.

Tudo está vivo, escondido n’algum lugar
Na velha casa onde eu nasci e que ainda se mantém em pé
No quintal carente de infância
Debaixo da ponte, , nas praças, nos bueiros e galerias
No beco da bosta, na Rua do Fio, do Axixá, do Maxixe
Da Ponta Fina, do Tecelão, do Quebra Coco, da Salvação

Procuro sob a palha de arroz, sob a borra do coco babaçu
Sob o rejeito do algodão, sob o bagaço da cana
Das inúmeras usinas que acordaram sonhos
Procuro no escuro dos cinemas
No pátio dos colégios
Nos barracões das escolas de samba

Está vivo, eu sei
Procuro e não acho esse passado tão bonito
Que a vida fez questão de esconder
Mas que ninguém foi capaz de procurar.

Zé Lopes

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