A Síndrome de
Guillain-Barré é uma doença autoimune inflamatória dos nervos e de
suas porções próximas a suas origens junto a medula espinhal, caracterizada por
quadro de fraqueza progressiva, podendo levar a insuficiência respiratória.
A Síndrome de Guillain Barré é uma das
doenças causadas pelo Zika vírus, mas esta não é sua única causa. Ela
pode ser caracterizada como problema neurológico que envolve os nervos
periféricos das pernas e dos braços, normalmente secundário a uma infecção
viral, bacteriana respiratória ou intestinal.
Tipos
Antigamente, acreditava-se que a Síndrome de
Guillain-Barré era uma doença de um tipo só. Agora sabe-se que ela pode ocorrer
de diversas formas, como:
Polirradiculoneuropatia
Desmielinizante Inflamatória Aguda (AIDP)
É o tipo mais comum nos Estados Unidos. O
sinal mais comum dessa forma da doença é a fraqueza muscular que começa na
parte inferior do seu corpo e se espalha para cima.
Síndrome
de Miller Fisher (MFS)
Aqui, a paralisia começa nos olhos. A MFS
também está associada ao caminhar instável e ocorre em cerca de 5% dos
pacientes com a Síndrome de Guillain-
Neuropatia
Motora Axonal Aguda
É um dos tipos menos comuns, afetando mais
jovens e adultos, ela é mais frequentes na China, no Japão e também no México.
Esse tipo de neuropatia é caracterizada por atacar os nódulos de ranvier dos
nervos motores.
Neuropatia
Motora-sensorial Axonal Aguda
É um dos tipos menos comuns, afeta
principalmente adultos, ela é mais frequentes na China, no Japão e também no
México. É semelhante a neuropatia motora axonal aguda, atingindo os nervos
sensoriais e as raízes dos nervos. Neste caso, a recuperação é mais lenta.
Causas
As causas da doença ainda é muito estudada
dentro da medicina, contudo em 2015 o Ministério da Saúde confirmou que a
infecção pelo Zika Vírus pode provocar também à Síndrome de Guillain-barré, confira aqui.
No Brasil, a ocorrência de síndromes neurológicas relacionadas ao vírus Zika
foi confirmada após investigações da Universidade Federal de Pernambuco, a
partir da identificação do vírus em amostra de seis pacientes com sintomas
neurológicos com histórico de doença exantemática. Deste total, quatro foram
confirmadas com doença de Guillain-barré.
Na síndrome de Guillain-Barré, o sistema
imunológico de uma pessoa, que é responsável pela defesa do corpo contra organismos
invasores, começa a atacar os próprios nervos, danificando-os gravemente.O dano nervoso
provocado pela doença provoca formigamento, fraqueza muscular e até mesmo
paralisia. A síndrome de Guillain-Barré costuma afetar mais frequentemente o
revestimento do nervo (chamado de bainha de mielina). Essa lesão é chamada de
desmielinização e faz com que os sinais nervosos se propaguem mais lentamente.
O dano a outras partes do nervo pode fazer com que este deixe de funcionar
completamente.
Outros vírus e bactérias associados ao
Guillain-Barré são o Campylobacter jejuni, Citomegalovírus, vírus Epstein-Barr,
vírus Varicella-zoster. O mecanismo autoimune que leva esta doença a destruir
os nervos periféricos após uma infecção é conhecido de "mimetismo
molecular", ou seja, existem pequenas partículas protéicas nestes vírus
e/ou bactérias que são semelhantes a proteínas do nosso organismo e, ao
produzir anticorpos, nosso corpo acaba destruindo tanto os vírus/bactérias,
como os nervos periféricos das pernas e braços.
Fatores de risco
A síndrome de Guillain-Barré pode afetar
todos os grupos etários. Pessoas inseridas dentro de determinados grupos podem
estar sob maior risco do que outras, especialmente pessoas do sexo masculino e
adultos mais velhos. Além disso, a síndrome pode ser desencadeada por:
- Mais
comumente, por uma infecção com a Campylobacter, um tipo de bactéria
frequentemente encontrada em aves mal cozidas
- Vírus
Influenza
- Vírus
de Epstein-Barr
- HIV,
o vírus da Aids
- Pneumonia
- Cirurgia
- Linfoma de Hodgkin
- Raramente,
vacinas da gripe ou a vacinação infantil.
Sintomas de Síndrome de
Guillain-Barré
Os sintomas típicos da Síndrome de
Guillain-Barré incluem:
- Perda
de reflexos em braços e pernas
- Hipotensão
ou baixo controle da pressão arterial
- Em
casos brandos, pode haver fraqueza em vez de paralisia
- Pode
começar nos braços e nas pernas ao mesmo tempo
- Pode
piorar em 24 a 72 horas
- Pode
ocorrer somente nos nervos da cabeça
- Pode
começar nos braços e descer para as pernas
- Pode
começar nos pés e nas pernas e subir para os braços e a cabeça
- Dormência
- Alterações
da sensibilidade
- Sensibilidade
ou dor muscular (pode ser cãibra)
- Movimentos
descoordenados
Outros
sintomas podem ser:
- Visão
turva
- Descoordenação
e quedas
- Dificuldade
para mover os músculos do rosto
- Contrações
musculares
- Palpitações
(sentir os batimentos cardíacos)
Os sintomas da Síndrome de Guillain-Barré
podem piorar rapidamente. Os sintomas mais graves podem demorar apenas algumas
horas para aparecer, mas a fraqueza que aumenta ao longo de vários dias é
normal.
A fraqueza muscular ou a paralisia afeta os
dois lados do corpo. Na maioria dos casos, a fraqueza começa nas pernas e
depois se propaga para os braços. Isso é chamado de paralisia ascendente.
Os pacientes podem notar formigamento, dor nos pés ou nas mãos e descoordenação. Se a
inflamação afetar os nervos do diafragma e do peito, e se houver fraqueza
nesses músculos, a pessoa poderá necessitar de assistência respiratória.
Buscando ajuda médica
Alguns sintomas são emergenciais. Isso quer
dizer que, se você senti-los, você deve procurar ajuda médica imediata. São
eles:
- Respiração
interrompida temporariamente
- Não
conseguir respirar profundamente
- Dificuldade para respirar
- Dificuldade para engolir
- Babar
- Desmaios
- Sentir
vertigem ao se levantar
- Perda
de movimentos.
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar a
Síndrome de Guillain-Barré são:
- Clínico
geral
- Neurologista
- Infectologista.
Estar preparado para a consulta pode
facilitar o diagnóstico e otimizar o tempo. Dessa forma, você já pode chegar à
consulta com algumas informações:
- Uma
lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram
- Histórico
médico, incluindo outras condições que o paciente tenha e medicamentos ou
suplementos que ele tome com regularidade
- Se
possível, peça para uma pessoa te acompanhar.
O médico provavelmente fará uma série de
perguntas, tais como:
- Quais
são seus sintomas e quais partes do seu corpo são afetadas?
- Quando
você começou a sentir sintomas? Eles começaram de repente ou gradualmente?
- Seus
sintomas parecem estar se espalhando ou piorando?
- Se
você está sentindo fraqueza, isso afeta um ou ambos os lados do seu corpo?
- Você
já teve problemas com o controle da bexiga ou intestino?
- Você
teve algum problema de visão, respiração, mastigação ou deglutição?
- Você
recentemente teve uma doença infecciosa?
- Você
passou algum tempo recentemente em uma área florestal ou viajou para o
exterior?
- Você
já teve algum procedimento médico, incluindo vacinas?
Também é importante levar suas dúvidas para a
consulta por escrito, começando pela mais importante. Isso garante que você
conseguirá respostas para todas as perguntas relevantes antes da consulta
acabar. Para Síndrome de Guillain-Barré, algumas perguntas básicas incluem:
- Qual
é a causa mais provável dos meus sintomas?
- Que
tipos de testes eu preciso?
- Que
tipo de tratamentos eu preciso?
- Em
quanto tempo você espera que meus sintomas melhoram com o tratamento?
- Quão
plenamente você espera que eu me recupere?
- Quanto
tempo dura a recuperação?
- Estou
em risco de complicações a longo prazo?
Não hesite em fazer outras perguntas, caso
elas ocorram no momento da consulta.
Diagnóstico de Síndrome de
Guillain-Barré
A Síndrome de Guillain-Barré pode ser difícil
de diagnosticar em seus estágios iniciais. Os sinais e sintomas são semelhantes
aos de outras desordens neurológicas e eles podem variar de pessoa para pessoa.
Seu médico provavelmente começará seu
diagnóstico fazendo perguntas sobre seu histórico clínico. Um histórico de
fraqueza muscular crescente e paralisia pode ser um sinal da síndrome de
Guillain-Barré, principalmente se houve uma doença recente.
Um exame médico pode mostrar fraqueza
muscular e problemas nas funções involuntárias (autonômicas) do corpo, como
pressão arterial e frequência cardíaca. O exame também pode mostrar se os
reflexos, como os do joelho, estão diminuídos ou ausentes.
Pode haver sinais de diminuição da respiração
causada por paralisia dos músculos respiratórios
Exames
Os seguintes exames podem ser solicitados
para diagnosticar a doença:
- Amostra
do líquido cefalorraquidiano (punção lombar)
- Eletrocardiograma
(ECG)
- Eletromiografia
(EMG), que testa a atividade elétrica nos músculos
- Exame
de velocidade de condução nervosa
- Exames
de função pulmonar.
Tratamento de Síndrome de
Guillain-Barré
Não existe cura para a síndrome de
Guillain-Barré. Entretanto, há muitos tratamentos disponíveis para ajudar a
reduzir os sintomas, tratar as possíveis complicações e acelerar a recuperação
do paciente.
Quando os sintomas são graves, a
hospitalização será recomendada para dar continuidade a um tipo de tratamento
mais específico, que pode incluir aparelhos de respiração artificial.
Nos estágios iniciais da doença, tratamentos
que removam ou bloqueiem a ação dos anticorpos que estão atacando as células
nervosas podem reduzir a gravidade e a duração dos sintomas da Síndrome de
Guillain-Barré.
Um desses métodos é chamado de plasmaferese e
é usado para remover os anticorpos do sangue. O processo envolve extrair sangue
do corpo, geralmente do braço, bombeá-lo a uma máquina que remove anticorpos e
depois enviá-lo novamente ao corpo.
Outro método é bloquear os anticorpos usando
altas doses de imunoglobulina. Nesse caso, as imunoglobulinas são adicionadas
ao sangue em grandes quantidades, bloqueando os anticorpos que causam a
inflamação.
Outros tratamentos disponíveis têm por
objetivo prevenir complicações.
- Podem
ser utilizados anticoagulantes para prevenir coágulos sanguíneos
- Se
o diafragma estiver debilitado, pode ser necessário o uso de um auxílio
respiratório ou até mesmo de um tubo e um ventilador respiratórios
- A
dor é tratada com remédios anti-inflamatórios e narcóticos, se necessário
- O
posicionamento adequado do corpo ou um tubo de alimentação podem ser
empregados para evitar engasgar durante a alimentação se os músculos
usados para deglutição estiverem debilitados.
Pessoas com Síndrome de Guillain-Barré
precisam de ajuda física e terapia antes e durante a recuperação. Os cuidados
podem incluir:
- Movimento
dos braços e pernas pelos profissionais de saúde antes da recuperação,
para ajudar a manter os músculos flexíveis e fortes
- Fisioterapia
durante a recuperação para ajudá-lo a lidar com a fadiga e recuperar a
força e o movimento adequado. Em alguns casos pode ser indicado a
fisioterapia neurofuncional
- Treinar
com dispositivos adaptativos, como uma cadeira de rodas ou suspensórios,
para oferecer habilidades de mobilidade e autocuidado.
Medicamentos para Síndrome
de Guillain-Barré
Os medicamentos mais usados para o tratamento
da síndrome de Guillain-Barré são:
Somente um médico pode dizer qual o
medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a
duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA
se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico
antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a
prescrita, siga as instruções na bula.
Síndrome de Guillain-Barré
tem cura?
A recuperação pode demorar semanas, meses ou
anos, mas não existe cura para a síndrome de Guillain-Barré. A maioria das
pessoas sobrevive e se recupera completamente. Os sintomas de fraqueza podem
persistir em algumas pessoas por muitos anos mesmo com tratamento.
É mais provável que o prognóstico do paciente
seja muito bom se os sintomas desaparecerem dentro de três semanas do início da
doença.
Complicações possíveis
Se não for tratada, a síndrome pode evoluir
algumas complicações de saúde graves:
- Dificuldade
para respirar (insuficiência respiratória)
- Contraturas
das articulações ou outras deformidades
- Trombose
venosa profunda (coágulos sanguíneos que se formam quando alguém está
inativo ou confinado a uma cama)
- Maior
risco de infecções
- Pressão
arterial baixa ou instável
- Paralisia
permanente
- Pneumonia
- Lesões
na pele (úlceras)
- Aspiração
de alimentos ou líquidos para dentro do pulmão
Existe
alguma relação entre vacinação e a Síndrome de Guillain-Barré?
A vacinação estimula o sistema imunológico e
pode, raramente, desencadear a Síndrome de Guillain-Barré. Portanto, não há
contraindicação para qualquer forma de vacinação.
Convivendo/ Prognóstico
Após os primeiros sinais e sintomas, a doença
tende a agravar-se progressivamente para cerca de duas semanas. Os sintomas
atingem seu ápice em aproximadamente quatro semanas.
A recuperação começa logo depois, geralmente
com duração de seis meses a um ano, embora para algumas pessoas possa demorar
até três anos.
Entre os adultos que se recuperam da síndrome
de Guillain-Barré:
- Aproximadamente
80% podem andar independentemente seis meses depois do diagnóstico
- Cerca
de 60% recuperam totalmente a força motora um ano após o diagnóstico
- Cerca
de 5 a 10% têm uma recuperação muito atrasada e incompleta.
As crianças, que raramente desenvolvem
síndrome de Guillain-Barré, geralmente se recuperam mais completamente do que
os adultos.
Prevenção
Não existe prevenção específica para a
doença, entretanto a prevenção de infecções como a gripe, dengue e zika pode
ajudar a reduzir a chance de apresentar a Síndrome de Guillain-Barré.
Por Dr. Otávio Pinho Filho
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