domingo, 15 de maio de 2022

COLUNA DO DR.ERIVELTON LAGO

 


O MENDIGO E O LEVIATÃ

Litigiana, foi a primeira cidade do mundo. As pessoas de lá viviam num permanente Estado de Natureza. Nessa cidade vivia um homem muito culto conhecido pelo nome de Tomaz. Ele trabalhava na feira vendendo esculturas de madeira, imagens de homens, mulheres, animais etc. Tomaz observava a desorganização da cidade. Dizia ele para o mendigo Agripino: sabe, Agripino, essa cidade precisa de freios, aqui ninguém tem segurança. Não existe um governo central para estabelecer regras de convivência, aqui se vive num estado constante de guerra. Aqui ninguém tem garantia de vida, nem da posse do fruto do próprio trabalho. Ontem eu trouxe para cá várias esculturas e roubaram a metade em um curto tempo de descuido. Aqui todos nós vivemos com medo e desconfiança e toda desavença é resolvida pela força, que cidade difícil de se viver! Aqui ninguém está livre da brutalidade. Respondeu o mendigo: todos os homens nascem iguais e livres, mas a luta pela sobrevivência, os interesses opostos, a competição, a desconfiança e a vaidade os tornaram rivais, inimigos e egoístas. Eu tinha a minha propriedade, mas a perdi porque não tive força para resistir a força de quem a tirou de mim, então virei mendigo. Aqui cada pessoa procura o seu bem e usa o seu próprio poder para atingir os seus objetivos. Perguntou Tomaz ao mendigo Agripino: você quer dizer com isso que a liberdade natural coloca o homem em estado permanente de guerra? A liberdade é sinônimo de injustiça?


A liberdade natural deixa o homem sem critério para determinar o que é justo e o que é injusto? Respondeu o mendigo: estou afirmando que a sociedade precisa ter um “poder comum” respeitado por todos. Continuou Agripino: essa cidade precisa determinar leis definindo o certo e o errado, o justo e o injusto, pois sem a existência de um poder soberano e central não se pode afirmar se uma ação é justa ou injusta. Todo homem é inimigo de todo homem. Sem leis para controlar as paixões, o homem vira lobo de si mesmo. Perdi tudo que eu tinha por que não há uma lei nessa cidade para garantir a propriedade, perdi para quem tem mais força do que eu. Sem a lei ninguém é dono de nada, a não ser que se viva pelo uso da força. O povo daqui precisa se organizar politicamente para poder alcançar a paz. Perguntou Tomaz ao mendigo Agripino: então você acha que para se evitar a guerra constante, para preservarmos nossas vidas e termos garantia de estabilidade, precisamos nos associar uns aos outros? Respondeu Agripino: sim, o homem precisa formar uma sociedade política. Os homens precisam abdicar de suas paixões naturais e do direito à liberdade natural de conquistar tudo por meio da força para poder viver em paz com os demais. Perguntou Tomaz: seria a feitura de um pacto entre os homens? respondeu Agripino: sim, um “Contrato Social” entre os cidadãos que abdicariam de seus direitos de fazer tudo transferindo-os para um governante soberano ou para uma assembleia. A vontade de cada cidadão se submeteria à vontade do soberano, que conquistaria força e poder para decidir e agir sobre a paz, a defesa e demais questões internas e externas relacionadas ao bem comum. Perplexo, perguntou Tomaz: para um homem atingir o bem comum tem que abrir mão da sua liberdade? Isso é justo? Respondeu o mendigo: evidente, no momento em que os indivíduos dessa cidade decidirem renunciar as suas paixões egoístas e destruidoras para se submeterem à autoridade de um soberano que lute pelo bem-estar e pela paz do povo, estará instalada a “república política”, ou melhor, O LEVIATÃ. Em suma, hoje, todos os países do mundo vivem sob um pacto, uma Constituição. Porém, hoje estão em guerra os seguintes países: Rússia, Ucrânia, Etiópia, Iêmen, Mianmar, Haiti, Síria, Militantes islâmicos na África, Afeganistão e mais cerca de 15 povos ao redor do mundo. Estamos ainda como a cidade de Agripino ou atingimos a verdadeira civilização com a invenção das Leis e do Leviatã?



5 comentários:

  1. Bom texto. Porém, entre a "anarquia" e "o bandido estacionário" há muita coisa a se discutir. De qualquer forma, viva a Constitução!

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  2. Acho que a anarquia é da essência humana. A lei é apenas um parâmetro, talvez um norte para os momentos da liberdade natural. Ainda não alcançamos esse dia em que a lei nos impede de fazer as coisas. Só obedece a lei aquele que obedece a própria moral.

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  3. Na verdade, a democracia acredita, ingenuamente, na boa intenção do Estado em nos proporcionar segurança e liberdade individual, mas isso é um mito criado por esse tal Bandido estacionário. Talvez acreditar seja uma forma disfarçada de viver melhor....

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  4. Querido César Borralho, não sei porq o Google me colocou como Anônimo, mas Erivelton (eu) respondeu a vossa preciosa manifestação 😂😂😂

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  5. César, o Leviatã está combalido

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