POEMA DA FIDELIDADE
Nenhum poeta é fiel
Nem mesmo a sua própria poesia
A poesia é fiel
É canto
É conto
É companhia
É quilha que corta a heresia
É solidão que compreende e alivia
A poesia é uma ilha errante
Que abriga cultos e rogados
Togados e sem Fé
É [uma] Catedral longínqua
Que recebe crentes e ateus
A poesia é dia
Uma hora sem fim
O momento da criação
Ou um simples espasmo de prazer
Mesmo cria do poeta
A poesia é fiel
Às vezes fel
Outras véu
A poesia é um ponto distante
Um pólo prófugo
Um tempo sem fim
O poeta é vil
Pecador urdido
Amante sofrido
Deus sem Fé e sem pudor
A poesia é dor
O poeta é suor
A poesia tem dó
O poeta é vendilhão de sonhos
Feitor canastrão de elegias
Paridor de rimas desmedidas
Ilador de cismas
Profeta arguto do futuro
Cantor medieval do parnaso
Vetor de crimes em nome do amor
O poeta não é fiel nem a sua própria poesia
Nem mesmo sendo ela sua única e fiel companhia
Abel Carvalho


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