Sem sair dos holofotes, das conversas de mesas de bar, das histórias que compuseram o arquivo imaginário de Bacabal, pelo menos, há mais de cinquenta anos, Garganta é partícipe e com pompas de de um bravo guerreiro.
Desde criança, sempre foi apaixonado por armas brancas e logo nas primeiras brincadeiras infantis com os coleguinhas, a sua espada feita de talo de coco, já trazia um prego afiado na ponta.
E o menino foi crescendo e já aos 15 anos, conseguiu comprar uma faca peixeira de 30 polegadas, faca essa que lhe acompanhou por toda a vida, isto é, até ontem, quarta feira, dia 15 de maio, na sessão ordinária da Câmara Municipal de Vereadores de Bacabal.
A faca de Garganta era afiada dos dois lados, e em suas costas, ele carrega um calo seco, provocado justamente pelo atrito do cabo com a pele. Essa faca, que também chamam de Viana, carrega no seu gume, muitas histórias, a mais contada é a de cima da ponte quando ele vinha do Mufumbo e o saudoso amigo Zé Gangá tentou lhe dar um susto e ele riscou a faca no chão e perguntou : - Quem é que tá aí? E Zé Gangá gritou : - Sou eu, Zé, e Gartanta continuou com a sabatina: - Qual Zé, tem muito Zé No Mundo, e Zé Gangá continuou, - Sou eu, Zé Gangá, e Garganta riscando novamente a faca no chão deu uma bela carreira no amigo.
Garganta também foi jogador de bola e certa vez pegou dois dribles de um atacante que quando partiu para o terceiro, levou um raspa tão grande que caiu arfando - Socorro, tá me faltando o fôlego, e Garganta agachou-se e falou ao seu ouvido: - Da outra vez vai te faltar é a vida
Ele também já foi parar nas barras da justiça por dizer que o saudoso Laurindo Trindade havia, na época, transado com uma mulher, e por isso, foi impedida de entrar em uma festa. Garganta foi denunciado e o seu advogado, o rábola Luis Mário Jácome, lhe disse para ele dizer que se enganou e quando o juiz perguntava se a mulher era aquela ele respondia: - É essa aí mesmo, é essa aí que Laurindo me disse que transou. E só na quarta audiência que ele falou o que o advogado pediu e foi condenado a passar um mês limpando a delegacia.
Garganta também foi pedreiro e contratado para fazer o muro da senhora Maria Rocha e levou o ajudante Venta de Cobra. No final da tarde ele pediu pra Venta de Cobra segurar o muro que ele ia cobrar o dinheiro. Minutos depois ele gritou: - Pode soltar o muro que o dinheiro já tá aqui na mão, e foi só soltar o muro pra ele vir abaixo.
Garganta também foi parar na delegacia por ser acusado de matar o galo de estimação do seu padrinho de batismo, o saudoso Zé Bicudo, e o delegado Afrodísio queria lhe prender e ele saiu da delegacia correndo com uma cavalaria atrás, liderada pelo soldado Mundico Mota, e caiu nas águas do Mearim em plena cheia.
Hoje o nosso herói está triste, seus fãs estão tristes, e a cidade chora a queda do ex-valente. Ontem, na sessão da Câmara de Vereadores, em um acirrado debate na tribuna, os ânimos invadiram a galeria e começou um bate boca entre Garganta e Neto Furado e daí os dois partiram pras vias de fato e o nosso herói levou a pior.
Garganta foi derrubado, pisado e quando puxou a sua velha faca, foi dominado e desarmado e quando se levantou, saiu correndo debaixo de uma sonora vaia, direto para o Bar do Luisão onde bebeu uma água gelada, descansou e triste, sem a sua faca de estimação, foi para sua casa no bairro Trizidela.
Neto Furado, o novo herói bacabalense, agora é o detentor do Troféu Dois Gumes, a faca que Garganta carregou por mais de meio século. "Eu estou pasmo, pensei que o nosso Garganta nunca sucumbiria diante de um anônimo, mas tenho que admitir que a idade chega" disse Hermano Nogueira, assessor parlamentar e amigo de Garganta.
Garganta agora terá que se contentar com a fama de ex-heroi e os amigos estão se organizando para fazer um bingo e comprar uma nova peixeira de 30 polegadas para o malvado. " Eu vou dar uma caixa de cerveja para o bingo, afinal, Garganta é meu amigo e mora em área de risco e não pode andar desarmado" Finaliza Luisão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário