quinta-feira, 17 de abril de 2025

CAL - POR ZÉ LOPES

 

CAL

Sou produto do rejeito

Dos engenhos. das usinas

Sou uma alma perdida

E um corpo em ruinas

Sou um vendaval de areia

A embaçar as retinas

Fumaça de querosene 

No fogo das lamparinas

Sou o suco da bacaba

Da Juçara. Buriti

Azedo da manga verde

O travo do cajuí 

Espinho do tucunzeiro

O ranso do murici

O cortante croatá 

O ácido abacaxi.

A mortandade dos peixes

Atraindo os urubus

A rota das andorinhas

O balé  dos mururus

Sou a fome do roçado 

A sede do Mearim

Lagoas que soterradas

Respiram dentro de mim

Sou a casca do Arroz

Sou xerém e sou cuim 

Sou bôrra do babaçu 

A adubar o capim

Sou a rampa, sou o cais

Sou a ponte no inverno

Um banho de bica forte 

Um sonho infantil eterno

Sou o lápis, sou caderno

O peso da palmatória 

A tabuada no bolo

Enredo ora tanta história

Que se perde com o tempo

Carcomida pela cal

Que tinge de branco os muros

Pra te escrever, Bacabal.



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