domingo, 13 de junho de 2021

COLUNA DO DR. ERIVELTON LAGO

 


VIDAS CRUZADAS


Carlos Vargas e Ivete Calas casaram-se no ano de 2003, no mês de abril, no coração do outono. Vargas sempre foi muito dedicado ao casamento e sua vida caminhava de vento em popa. Tudo sob controle. Ele era criador de carneiros e todo mundo sabe que os ovinos geram alimentos importantes para a dieta da população, é lucro certo. Especialmente na região Nordeste do Brasil, a carne de ovinos deslanados é muito apreciada na culinária típica. Eles também fornecem pele de qualidade para a indústria calçadista. Já na região Sul, os rebanhos destinam-se à produção de lã fina que é exportada para vestuário. Pois bem, o quilo de carneiro chega até a R$ 25,00. Vargas tinha cerca de 30 alqueires de terra que corresponde a mais ou menos 36 hectares. Na sua propriedade ele criava cerca de 170 ovinos da raça dorper voltados, principalmente, para a produção de carne. A vida do casal estava muito próspera. Um dia Vargas viajou para fazer negócios na cidade de Oriximiná-PA. Lá ele conheceu uma bela jovem de 26 anos, Lacina Cairu, seu nome significa borboleta de asas douradas. A jovem era casada com o colombiano Alejandro Perez, proprietário de duas joalherias em Oriximiná, três em Belém e mantinha negócios em minas de ouro na colômbia. Vargas dormiu num pequeno Chalé nos arredores da cachoeira de jatuarana. Foi Lá que ele conheceu Lacina. Foi amor à primeira vista, apesar de os dois serem bem casados e comprometidos com seus consortes. Dizem que o amor é um sentimento de afeição, paixão, obsessão e um grande desejo por outra pessoa, mas ninguém escapa das suas armadilhas. Com Vargas e Lacina aconteceu exatamente isso. Quando um homem se apaixona por uma mulher, ele perde a razão, apesar de que quando uma mulher se apaixona por um homem, ela ganha emoção sem perder a concentração. Nesse caso aparentemente isolado, Lacina pode também ter perdido a razão, mas isso foi uma exceção. Os dois jovens se conheceram no dia 25 de setembro de 2009, numa manhã de sábado e fugiram para São Luís-MA, no dia 26, domingo. Na 2ª feira à noite ele a deixou num hotel na Av Litorânea. Pela manhã os dois saíram para comprar roupas, pois Lacina fugiu somente com a roupa do corpo: uma calça jeans, uma blusa amarela e tênis. Bom, mas Alejandro não entendeu o desaparecimento da esposa e logo descobriu que ela havia fugido do chalé por volta das três horas da manhã com um homem desconhecido que havia negociado peles de ovelhas com o cafuso Jarbas Barba Azul. Foi fácil saber que Vargas e Lacina haviam partido para a Ilha de Upaon Açu. Alejandro, acompanhado de seus amigos Juan e Orejuela, seguiram para São Luís armados com pistolas 380. “Tengo que buscar a mi esposa”, disse Alejandro com o coração cheio de ódio e descontentamento. Pois bem, depois de comprar roupas para sua mais nova paixão, Vargas a deixou no hotel e seguiu para a sua propriedade na cidade de São José de Ribamar-MA, onde estava lhe esperando com o coração aberto, sua esposa, Ivete Calas. Perguntou ela: Onde andaste, querido? Demoraste muito e eu já estava preocupada. Nenhuma notícia, nenhum telefonema. Respondeu Vargas: preciso contar para você uma coisa muito importante: estou apaixonado por outra mulher. Mas o que aconteceu? Perguntou Ivete. A rotina, talvez. Respondeu Vargas. Ivete falou: sei, normalmente, a vida matrimonial, a rotina e o costume fazem com que a magia do amor e da paixão vá se deteriorando. Mas, você não deve "ficar cego" por essa emoção porque é passageira. Respondeu Vargas: Não é passageira, estou com 48 horas de obsessão, estou cego, doente, alucinado e não consigo ver nada a não ser a imagem de Lacina. Estou encantado. Estou vivendo uma alegria diferente. Estou sentindo a alma flutuar. Parece que de repente o mundo é outro. A voz dela, o cheiro dela, os gestos dela, tudo é como uma flor desabrochando sem parar. Veja, estou falando isso para você sem qualquer pudor e até te peço perdão pelo meu atrevimento, pois és uma pessoa maravilhosa, mas estou com meu espírito livre e feliz com todas as coisas. Não tenho explicação. Estou apaixonado, estou amando. Enquanto o casal conversava, ouviram latidos dos cães lá fora. Em seguida um chamado: “Vargas, vine buscar a mi esposa, tu ladron”. “Abrir la puerta, sinvergüenza”. Tudo bem, vou abrir a porta, disse vargas. Ele abriu a porta e os três homens entraram. Tudo bem, você está certo. Eu trouxe a sua mulher, leve-a com você, mas leve a minha alma também. Te dou razão se a amas tanto quanto eu a amo também. Leve-a com você e leve também a minha vida. Respondeu Alejandro: No vine a buscar tu vida, vine buscar a mi esposa. Respondeu Vargas: Vou levar vocês no hotel onde se encontra a sua mulher Lacina. Os homens colocaram Vargas no banco traseiro do veículo dirigido por Alejandro, uma Dodge Ram. Juan e Orejuela ficaram no banco de trás com Vargas sob ameaça de armas. Balbuciou Alejandro para Vargas. Te matare despues de todo. Respondeu Vargas: Não me importo, não preciso mais viver se Lacina voltar com você. Pois bem, quando o veículo entrou na Avenida Litorânea, uma Mitsubishi Pajero Sport desgovernada bateu na lateral da Dodge fazendo com que ela batesse num poste de luz causando graves ferimentos nos quatro homens. Foram todos para o hospital. Ivete e Lacina foram as duas mulheres que cuidaram e ficaram como acompanhantes dos quatro homens gravemente feridos. Lacina com a preocupação voltada para Vargas e Ivete com uma certa compaixão por Alejandro que estava em piores condições de saúde e sem nenhum parente por perto. De certo modo, Lacina torcia pela morte de Alejandro para ficar com Vargas e Ivete não escondia o desejo de ver o colombiano sobreviver, pois parecia precisar de mais cuidados. Vinte dias depois do acidente, Juan e Orejuela faleceram no hospital. Dois meses depois Vargas recebeu alta e retornou para a fazenda de carneiros, mas manteve Lacina hospedada no hotel, talvez para evitar confusão com Ivete, que ainda era sua esposa. O fato é que, mesmo depois do marido ter saído do hospital, Ivete continuou visitando e cuidando de Alejandro, havia algo nele que a fazia dormir no hospital todas as noites. Na visão de Ivete, Alejandro parecia sozinho e triste. Três meses depois do acidente, os médicos liberaram Alejandro que ficou com um grave defeito na perna direita tendo que usar muletas por mais uns dois meses. Então, encantado com os cuidados de Ivete, perguntou Alejando: quieres vivir conmigo, Ivete? te necessito. Respondeu Ivete em tom de brincadeira: não posso, você não fala português. Respondeu Alejandro, com a sagacidade de um bom conquistador: não seja por isso, sei falar português e posso afirmar que adorei você, gostei de você. Quer viver comigo para sempre? Quer ir embora comigo? Respondeu Ivete: quero, mas preciso passar lá em casa para pegar as minhas roupas, pois só estou com a roupa do corpo. Respondeu Alejandro: Ivete, você não precisa de roupas tanto quanto eu preciso de você, quando chegarmos em Oriximiná eu compro uma loja inteira para você. Perguntou Ivete: Você não vai se despedir da sua mulher? Não, Ivete, pois toda despedida é dolorida e se for do seu querer, a minha mulher agora é você. Perguntou Alejandro: Você vai se despedir do seu marido Vargas? Respondeu Ivete: não, Alejandro, toda despedida é dolorida, e se for do seu querer, meu homem agora é você. Hoje, a conversa que se ouve é que Alejandro e Ivete vivem entre Bogotá e Oriximiná administrando seus negócios de ouro e joalheria. Dizem que ele a quer muito e ela também muito lhe quer. Lacina e Vargas triplicaram a fazendo de carneiros e são os maiores exportadores de ovinos da região. Ele não sabe viajar sem ela e ela não se afasta dele nem por dez quilos de ouro.

4 comentários:

  1. Coisas da ficção que beira a realidade ou vice-versa...

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  2. Minha saudosa Professora maranhense Georgina acolá escreveu a seguinte frase:"digo-te de todos os meus amores, de minhas paixões nada saberás, ainda que insistas". Parabéns pela poesia em forma de crônica ou prosa,talvez. No fundo, somos eternos apaixonados e disfaçamo-nos,fingindo felicidades no rótulo faceal. Abraços!

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  3. Me prendi no texto. Muito bem escrito passando uma mensagem sobre o poder paradoxal do amor e da paixão.

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