quarta-feira, 23 de julho de 2025

COM A PALAVRA - A HISTÓRIA HAVERÁ DE SE IMPOR - POR RENATO DIONÍSIO

.

A HISTÓRIA HAVERÁ DE SE IMPOR

*Renato Dionísio

*Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural

Passado o período junino, voltamos todos a nossa faina diária e a convivência com os nossos e com os não tão nossos, com os problemas postergados pela festança e com todas as perspectivas futuras que moverão nosso caminhar. Como se a cidade estivesse despertando de longo sono, estamos voltando lentamente a nossos afazeres e problemas. Entretanto, como vigilante infalível, a perscrutar os atos, pensamentos e ações de todos, se apresenta a história que se faz senhora inclemente do tempo.


Pelo fato da nobre vereadora, Profa. Magnólia, capitaneando um movimento declaratório de amor ao bairro da Cohab, que para ser sincero, compreende a junção de quatro conjuntos, criados ou fundados, em dias e anos diferentes, fato que se não compromete a unicidade da data natalícia deste vigoroso polo de atração comercial da cidade, não pode ser desprezado, na definição de uma data, que tem que ser precedida de pelo menos um combinemos que exponha com clareza a cristalina verdade. O referido coletivo convocou os cohabianos para a celebração, no último dia 10 deste mês de julho, do 58º aniversário deste bairro. Fato que, aliás, tem se repetido com outros bairros e com outros vereadores.

A prática de comemorar aniversário, remota às civilizações antigas como o Egito e a Grécia, onde rituais eram realizados para homenagear deuses e líderes, além de afastar espíritos malignos. Ao criarmos, entretanto, datas efemérides, temos que agir com rigor histórico para que este fato seja validado. Este rigor fez da cidade de Uruk, na Mesopotâmia, atual Iraque, ser reconhecida pela ciência como o primeiro centro habitacional criado pelos humanos. Embora, para a bíblia, por razões que deixamos de comentar, a primeira cidade seja Jericó, localizada na atual Cisjordânia, em território que faz parte da Palestina.

Se movimentos como este trabalham a autoestima, o sentimento de pertencimento e o amor ao torrão, causam também um prejuízo, na medida que produz uma certa insegurança, posto que propagam uma mentira histórica ou uma meia verdade, se for possível relativizar a verdade. Que parâmetros foram usados para esta afirmativa? No presente caso pergunto. Foi usado o dia da entrega das casas pelo poder público? Foi usado o dia da assinatura do contrato para a construção? Que outro fundamento foi utilizado? É imperioso que saibamos.

Não sendo assim, estaremos incorrendo em erro, como fizeram, por exemplo, os que divulgam, sem precisão histórica, as datas do início dos festejos de São Marçal no João Paulo. A festa lava bois em São José de Ribamar. A procissão marítima na capela de São Pedro. E a origem de bairros como o matadouro, hoje liberdade. Cavaco, hoje bairro de Fátima e o Sacavém, onde a empresa americana Ulen & Company, contratada em 1923, pelo governo do Estado, buscou água para abastecer São Luís.

Se não podemos, para ser moderno, chamar de fake news os movimentos que comemoraram o aniversário de vários bairros, não podemos, na mesma ordem, aceitar que a vontade ou o achismo de quem quer que seja se configure verdade. Afinal, se temos como a data pacificada da fundação de nossa São Luís, como sendo 8 de setembro de 1612, porque não observar este rigor, com todos os gentílicos que a nós se apresentam, tenham eles a magnitude que tiverem.

Confesso que, ainda no século passado, quando inventamos esta maneira de homenagear o bairro, não tivemos o rigor que o fato merece. Em função disto, proponho que por ser nossa representante, legitimamente eleita, a nobre vereadora Magnólia, organize e coordene um encontro, com a presença de quem tiver interesse, para a discussão deste tema e de outros comuns, onde ficará pacificado as visões e versões. Precisamos entender e aceitar que a inverdade deliberada ou a imprecisão histórica, além de causar um grande malefício ao valor moral chamado verdade, fere de morte o postulado da verdade histórica.


Nenhum comentário:

Postar um comentário