quinta-feira, 24 de julho de 2025

COM A PALAVRA - TRES ANOS SEM O IRREVERENTE LIMA TROVAO- POR VALMIRO COLIBRI

 

Três anos sem o irreverente Lima Trovão... VC o conheceu?


Lauro Gama, considerado o maior violonista bacabalense em todos os tempos, afirmava que pra ter amigos de verdade, só frequentando ambientes de butecos e no esporte.

Estava com razão, o velho Mestre, que se vestia impecável e pagava uma pessoa somente pra carregar e cuidar de seu violão. E Lima Trovão se encaixava perfeitamente nessa teoria, uma vez que era muito conhecido e querido nessas categorias. Na adolescência e juventude foi um craque de futebol jogando em várias equipes de bairros e de  escolas,  conquistando vários títulos nos famosos jogos escolares, pelo seu colégio -  o Ginásio Municipal, juntamente com feras como Pedão, Miguel, Nato, Dico Salazar, Augusto e tantos outros. Sempre foi irreverente, brincalhão, chegando a ser irresponsável e moleque. Não estava "nem aí" pra nada e levava tudo com naturalidade. Vou contar dois casos do futebol protagonizados por ele: Certa vez, jogando pelo Colégio Sarney - do Lendário Prof. Raimundão , que ' enchia' seu time "COM GATOS" ( atletas/alunos de idade superior à permitida..rsrs)...- numa semi- final do intercolegial ( futebol de campo) num lance em que o goleiro escorregou e caiu, Lima sozinho de frente pro gol, chutou a bola pra fora, levando Raimundão quase à loucura. No intervalo explicou que não fez o gol, porque não ia ter graça com o goleiro indefeso.... más vc quer gol? perguntou. No segundo tempo fez 4...

Em outra situação, disputando o campeonato amador no antigo campo do operário, ao receber cartão amarelo do juíz Coqueiro, ele suspendeu a camisa do juíz e acariciou a enorme barriga dele. Foi expulso na hora. Então ele deu um beijo na careca do juíz. O estádio inteiro explodiu numa gargalhada. Vermelho de raiva, Coqueiro ergueu o cartão umas 10 vezes na cara de Lima...foi o lance do jogo! Pronto! a tarde foi 'ganha' pra todos...

Nas 'peladas', jogava em todas às posições, até de goleiro, onde imitava o colombiano Higuita com cambalhotas, às vezes fingia encaixar a bola e matava no peito e driblava o atacante... 

Assim era Lima Trovão, um exímio contador de piadas. Colocava apelidos, que tornavam-se pseudo nome nas pessoas. Foi assim com Zé Quebrado, Sambô, Curió, Butão,  Bodó, Fala Besteira, Ripao, Mau-Conduta, Zorro, Longao, Bico de Bule, Cambota, Massa Bruta, Batoré, Cabo Wilson, Peito de Pombo, Vida Dura, Cara de Onça, Fedora, Pimenta, Mirim, Chico Boca de jia, Meio Quilo, Cigarreira, ...e tantos outros! O engraçado, era que o apelidado, muitas das vezes se zangava com quem o chamava e nunca com o autor do apelido, no caso, ele Lima.

Eterno boêmio, sempre morou em Bacabal. Na única vez em que " arriscou -se" em sair, foi numa longa jornada de ônibus pra Brasília, no final dos anos 70, em que tornou-se a 'atração' da viagem. Numa parada pro almoço, o motorista explicou que todos teriam que descer. Lima retrucou que ia COMER O FRITO DE CAPÃO feito por sua mãe. Capão? o que era isso? Todos curiosos até descobrirem que se tratava de um frango caipira. Em Brasília, passou pouco tempo. Não se 'adaptou' ao estilo de vida rude e ás várias miscigenação. Lá ninguém ria muito de suas piadas e, quando assassinaram "Pequeno" filho de Roque Enfermeiro, em uma parada de ônibus, ele amedrontado, voltou pro seu velho e querido BACA onde foi direto pro Bar de dona Izaura, atrás da União - um dos seus "setores" -   tomar uma meiota de Pitú com Coca cola. Foi lá que ele CRIOU seu "trio," formado por ele,  Walber de Roxo e Cabo Wilson (assessorados por Lino) - os reis do PINDURA,  e que juntos, consumiam 30% de toda a cachaça da cidade, passando a integrar a elite da boemia bacabalense e sonho de consumo dos donos de buteco. Em muitos bares só bebiam, se pagassem adiantando.

Com sua morte, Zé Buchim decretou feriado e não abriu o Bar por um dia, assim como bares do Ramal à Terra do Sol. Tristeza nos bares do Teté, Bulão, do Nilson, Cebola Cortada, das Torcidas, Tia Preta e Mamãe não me Acha. O puteiro de Maria Cara de Jipe tava de luto. Até Lili Cabeça de Pinto - triste e choroso - apareceu com o seu temível sax soprano e 'entoou' o minuto de silêncio militar;

 levando maís meia dúzia de pigunços ao farelo pela cidade.  O prefeito, evangélico, decretou ponto facultativo. Em seu velório, desfilaram ESTRELAS da boemia, (nova e velha guarda) -  Compareceram Zé Marimbondo, Meio Quilo - bêbado desde a virada de ano - Café, Cantareira Filho, Santa Inês, Thakatá, os parças Cabo Wilson, Valber de Roxo e Edson. Wagner Cutrim, Pedro Neto e o Irmão Arquimedes,  Vários Boleiros, Vereadores, ex pingunços e todos ligados ao movimento etílico e afins da cidade. Chegou litrão de pinga de vários locais (alguns doações anônimas) durante todo o velório.

 Vários empresários compareceram, onde os elogios sobre o seu talento profissional (carpinteiro e marceneiro)- foi aprendiz de Nonatão - era exaltado. Lindomar e Cabo Wilson até discursaram!

Lima, tinha um outro lado que pouca gente conhecia: No trabalho e com a família era sério e responsável!

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CHEGADA AO CEU...

Foi recepcionado por um sorridente Nonato Andrade que lhe disse: agora nosso time está completo!...e, com o queixo,  indicou Eutimidio, Nô, Flaubert, Jânio Chaves, Nonatinho , Luiz Marino, Seu Cláudio, Serginho, Pepê, Castro, Fafá e outros mais...

Escutou lhe chamarem e do outro lado viu Gramichó que lhe avisou: Aqui NADA DE FIADO! Temos até uma equipe jurídica e indicou em uma mesa Evan Soares, Serrão, Ramar Belo e Ademar Galvão.  Lima sentiu alguém lhe 'cutucando' nas costas. Era Chico Pitú querendo um real pra uma dose e apontou pros Bares de dona Izaura e Santaninha. Viu também Péricles, Toim Pé de Pano, Jabiraca, Prof. Welman, Doidão, entre outros, e ao fundo, no palco, Zezico, Bibiu Balaiada, Tarrindo, ( Lauro Gama, sentado), Chico Fedora, Chicopel, Dionésio, Massa Bruta, Getúlio, Diordico, Luis do Banjo, Jaime, Palito...de repente: atenção, som! som! era Laurindo afinando o microfone!...Lima sorriu:

Tô em casa!...pensou enquanto sentava. De relance, viu Nonatão, Hélio Santos, Zé Bicudo e...o juiz de futebol Coqueiro - que não tirava o olho dele -conversando com Zé Aranha..... HUM!...


Valmiro Silva:

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