Por
Joaquim Haickel
Desde que ouvi as
gravações feitas por Joesley Batista, um dos empresários mais poderosos de nosso
país, que no Palácio do Jaburú conversava com o presidente Michel Temer sobre
diversos assuntos, venho ruminando um entendimento melhor sobre toda essa
situação. É isso que vou comentar com você hoje.
Temer é 19 anos mais
velho que eu, mas começamos na política na mesma época. Ele foi nomeado
procuradorgeral do Estado de São Paulo em 1983 e eu tomei posse como deputado
estadual pelo Maranhão naquele ano. Fomos deputados federais constituintes
juntos em 1987 e depois disso cada um tomou seu rumo. Como curiosidade, posso
dizer que Temer foi meu relator assistente quando da apreciação da emenda de
Amaral Neto sobre a pena de morte.
Eu voltei para o
Maranhão e Temer continuou em Brasília. Sua carreira deslanchou e o levou à
presidência do PMDB, à vicepresidência da República e depois à presidência.
Quanto a mim, trouxe minha vidinha até aqui.
Depois de todas essas
idas e vindas encontreime com Michel umas três ou quatro vezes, ele sempre
muito amável e gentil.
Ele nunca foi e pela
sua forma de ser, nunca seria um homem duro, de posições mais rudes, sem tanta
prosódia, adjetivação, mesóclises, sem tanto refinamento. Ele é o que se pode
chamar de cidadão cordial. Essa não é uma característica apropriada para ser a
mais marcante em um político na situação em que ele se encontra. O temperamento
do qual precisávamos neste momento é um que oscilasse entre três pontos, do
violento Antonio Carlos Magalhães, passando pelo enérgico Itamar Franco até
chegar ao aparentemente pacato, mas obstinado Tancredo Neves.
Porém, Temer não é
nada disso e ainda tem o péssimo hábito de se cercar de amigos ursos, de
pessoas da pior qualidade. Aquele velho ditado que ouvi muitas vezes de meus
pais, “me diga com quem andas que eu digo quem tu és”, poderia servir muito bem
para ele, mas serve também para muita gente, boa e ruim.
Voltando ao problema
em questão, como disse no início deste texto, desde que ouvi as gravações
feitas por Joesley Batista, venho ruminando um entendimento melhor sobre toda
essa situação e acredito ter chegado a uma conclusão. Temer deveria fazer uma
análise dura, profunda e isenta, assistir alguns filmes sobre momentos de
ruptura pelo qual passaram as sociedades, algo como “Danton”… E aí olhar para
sua mulher, seu filho e suas filhas, e renunciar.
Na renúncia ele pode,
veja bem, eu disse pode, ter uma saída menos desonrosa e mais altruísta.
O que ouvi nas
gravações não é suficiente para condenálo a nada, mas é muito mais que
suficiente para destruir o pouco de apoio que ele ainda contava, tanto na
sociedade quanto no próprio Congresso Nacional.
Acredito que o que
pode realmente vir a incriminar Temer é a conversa envolvendo a propina
entregue a Rodrigo Loures. Isso ficando provado, Temer estará definitivamente
acabado! E pode ainda ter outras denuncias!
Apenas o fato dele
ter ouvido um bandido como o Joesley Batista dizer o que disse, já configura
falta de decoro e moral para exercer o cargo de presidente da República.
Fico imaginando o que
passa pela cabeça de Michel e chego a ter pena dele. Imagino que ele não
conseguiu acordar hoje com a mesma disposição que eu, não pôde beijar sua
mulher com a alma leve como eu fiz com a minha, não se sentou à mesa para tomar
café e assistir ao “Bom Dia Brasil” com o mesmo ânimo que eu. Ao pensar nisso
tive pena dele. Muitos irão dizer que pena não seria o sentimento que eu
deveria ter, mas conhecendoo como penso conhecer, sei que ele gostaria de ser
lembrado como o homem que tirou o Brasil de sua pior crise econômica. Ver isso
se esvair deve ser desesperador para ele.
Temer cometeu erros e
deve neste momento tomar uma decisão que, se não pode salvar nem ele nem o
país, pode impedir que ele e o Brasil sejam completamente destruídos.
No lugar dele eu
renunciaria, mas providenciaria para que essa transição fosse feita em paz e
irrestritamente sob a luz da Constituição Federal.
Joaquim Haickel –
Membro das Academias Maranhense e Imperatrizense de Letras e do IHGM
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