quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

SANGROU - O POEMA DO ANO


SANGROU

A tua poesia é uma dor sem fim.

A tua poesia sangra como um sudário sem dono.

O meu amor esparge o fel do sofrimento.
O meu amor por ti trespassa meu sonho timorense.

A tua ausência é um crucifixo sem história
Sem corpo, sem chaga, sem véu.

A tua saudade me aniquila em alma, luz, escuridão.

A tua lembrança me corrompe, constrange meus desejos,
Desenfreia, arde como o canto da lira que eu nunca ouvi.

A minha dor...
A minha dor dói cálida e perene,
Não seca, comprime, cega, estremece,
Emudece a minha insônia sem fim.

A minha dor...
A minha dor cresce, não estanca,
Desanca como um Céu em tornado,
Como o mar em turbilhões,
Como um coração parado, seco, separado,
Entregue as mãos de quem não quis.

A tua poesia e a minha dor caminham juntas, a passos largos,
Em tragos, disseminações e reminiscências.

Em essência fogem de si mesmas, se conhecem, não se amam,
Se odeiam como dois tolos enamorados sem destino,
Se fecham, se calam, se martirizam para sempre.

A minha dor é o teu poema,
E sangra.


Abel Carvalho

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