domingo, 21 de março de 2021

COLUNA DO DR. ERIVELTON LAGO -O MENINO PICOLEZEIRO E O HOMEM PISTOLEIRO

 

O MENINO PICOLEZEIRO E O HOMEM PISTOLEIRO


Entre a segunda metade da década de 70 e a primeira da década de 80, Bacabal tinha um clima de cinema estilo faroeste americano. Não, eu não estou dizendo que as pessoas viviam trocando bala no meio da rua. É que nessa época viveu por lá um pistoleiro famoso conhecido pelo nome de Romão. Um homem branco, alto, passadas longas, cabelos lisos e tinha um jeitão de gente boa. Todavia, na cintura não lhe faltava um revólver 38 e um canivete tornozelo. Ele caminhava como se estivesse sempre pronto para mandar bala no primeiro homem que levasse as mãos à cintura. Nessa época, o maior cabaré da cidade era o “As Três Marias”, mas era conhecido apenas como “As Três”. Era uma rua cheia de boates, ou seja, eram casas de diversões abertas à noite, onde os homens iam para dançar, assistir a shows, beber Pitu e cerveja, comer e fazer sexo com as mulheres mais bonitas de toda a região. Era uma cultura “aceita”. Quando o Romão chegava no cabaré, todas as mulheres iam para a mesa dele. Os outros homens ficavam chateados, mas baixavam a cabeça para Romão não pensar que eles estavam o encarando, pois era morte certa. O único homem que não tinha medo de Romão era o “Cabo Santos”, um policial militar de cara feia que era temido por nós meninos, pelas mulheres e pelos homens daquela época. Todavia, percebia-se que o Romão e o Cabo Santos se respeitavam e até parecia que eram amigos. Romão respeitava o cabo e o cabo respeitava Romão. Nesse tempo eu já estava no início da adolescência, um pouco acima dos 13 anos de idade, mas eu e meus colegas da época tínhamos muito medo da polícia e do Romão. Em 1975 o prefeito de Bacabal era o Dr. Coelho Dias, nessa época, os homens ainda insistiam em ouvir as músicas “Foi Deus” e “Quem Sabe” de Agnaldo Timóteo, sucesso desde 1972 e Waldick Soriano com “A Carta”, de 1964 e “Eu não sou cachorro não”, de 1972. Pois bem, lembro-me que um dia, já na minha última profissão de menino picolezeiro, eu passava na “Rua das Três”, num sábado, por volta das 11 horas, ainda restavam uns doze picolés na minha caixa de isopor, pois eu havia vendido apenas uns oito. já passando na porta da boate, uma mulher me chamou: ei menino, encosta aqui, quero comprar um picolé. Quando eu encostei vieram todas as mulheres de dentro da boate, meteram as mãos na caixa de picolé e, em poucos segundos, não havia um só picolé na caixa. Com a caixa vazia, um homem alto e branco, falou: ei Neguin, coloca essa caixa no meio da rua para eu saber se meu revólver ainda presta. Era o Romão. Eu não entendi muito bem a toada dele, mas vi que uma das mulheres pegou a minha caixa, colocou no meio da rua, e, em seguida, eu vi bagaços isopor voando para todo lado, era a minha caixa sendo crivada de balas. Nessa hora, eu corri para um lado qualquer da rua, não lembro se para a direita ou para a esquerda, mas sei que cheguei em casa em pouco tempo e sem fala. Mamãe perguntou: o que foi meu filho? Mas eu ainda estava sem fôlego, não conseguia falar, acho que corri muito mais rápido do que o atleta jamaicano Usain Bolt, bicampeão olímpico e mundial. Terminado o cansaço, chegou uma mulher muito bonita na minha casa com uma certa quantia de dinheiro enviado pelo pistoleiro. Eu não sei quanto foi, mas sei que mamãe foi para a feira e trouxe de lá tanta coisa que até pensei que ela havia ganhado no “jogo do bicho”. Acho que passamos um mês de fartura lá em casa. Depois contaram o acontecido para a minha mãe e eu não retornei mais à profissão de picolezeiro, fui vender revistas da Editora Abril Cultural e outras: Veja, Disney, Mandrake, Capricho, Sétimo Céu, Cruzeiro, Manchete, Contigo e Fatos e Fotos. Acho que virei fã do Romão, mas pedi a Deus para que nunca mais aquele generoso homem aparecesse na minha frente. Acontece, porém, que em 1980 mudei para São Luís, MA. Em 1981 passei no concurso da Polícia civil, no governo de João Castelo. Ainda na primeira metade da década de 80, eu cheguei para tirar o meu plantão de 24 horas no 3º distrito policial da Vila Palmeira. Recebi o plantão do comissário Marcos Valério, por volta das 13 horas. Ouvi um barulho na cela, um chamado de preso quando quer pedir alguma coisa para os policiais. Marcos me alertou: cuidado, está preso aí um pistoleiro muito perigoso. Então entrei no corredor da cela. Quem estava lá? Romão. Estava de bermuda, uns três cordões de ouro no pescoço, um relógio muito bonito e uma pulseira dourada no braço direito. Diga, falei para o preso. Respondeu ele: por favor, você pode mandar comprar um galeto para eu comer? Respondi: claro, posso providenciar. Ele puxou o dinheiro do bolso e me entregou. Pedi para o Arnaldo ir comprar o galeto. Arnaldo era um daqueles caras que virou policial sem fazer concurso. Naquela época, a pessoa que começava ir para uma delegacia, caía na graça do Delegado e dos outros policiais, virava garoto de recado e estava sempre disponível, em pouco tempo, começava dizer que era policial. Como ele estava sempre junto com os policiais, ganhava prestígio, status e até “dinheiro”. Pois bem, Arnaldo trouxe o galeto e eu levei para o homem. Olhei para ele, criei coragem, e perguntei: você lembra de mim? Ele respondeu: não lembro, você me conhece de onde? Sou de Bacabal, respondi. Contei a história da minha caixa de picolé e do pagamento generoso feito por ele. O pistoleiro chorou. Ele estava com a autoestima baixa. Porém, senti que ele ficou feliz por mim. Passaram-se umas três semanas e Romão foi transferido para uma delegacia mais segura. Depois ouvi a notícia de que ele havia fugido depois de um ano de prisão. Alguns anos depois, tive outra notícia: Romão foi assassinado por outro pistoleiro muito famoso, na Boate Beira Rio, em Bacabal. Dizem os curiosos que os dois eram amigos. Enfim, Independente do bem ou do mal que praticamos, sempre passará um homem ou uma mulher que nos dará uma moeda ou um pedaço de pão, pois todo destino nos é dado por Deus.

Romao Dantas de Sá 

22 comentários:

  1. Gostei da história, até porque reporta a história de um Grande Amigo, defensor e confidente Dr Elivelton, um amigo pra vida toda.

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    1. Um confidente é também um oráculo, um defensor é também um advogado, um amigo é aquele de todas as horas...

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  2. O filho dele virou pistoleiro em Roraima conhecido de romaozinho

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    1. Isso ñ é verdade , o filho dele é oficial de justiça

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    2. Ele nao tem filho oficial de justiça, o filho dele era meu padrasto, era policial militar em Pernambuco e falaceu em 2020 por um problema de coração

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    3. Tenho interesse histórico no assunto. Gostaria que entrasse em contato, você cujo padrasto era filho do Romão. Pode entrar em contato?

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  3. Gastei da história, riquíssima de detalhes. Ri bastante imaginando a cena do Dr Erivelton correndo com medo.... kkkk

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  4. Todo menino é feliz, mesmo que tenha medo dos fenômenos do mundo.

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  5. Gostei da história, até mesmo por ser um bscabalense ainda não tinha ouvido falar da mesma, lembro também de um outro pistoleiro chamado de Nego-gato, que também ouvi falar da boca de alguns bscabalense que os dois eram compadres, você pode me confirmar isso? Um grande abraço " MESTRE "

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    1. Eu não sou parente do Romão nem o conheci. Mas ouvi relato de uma pessoa que conheceu o Negro Gato, e disse que eram amigos, Romão e Negro Gato, e ganhavam dinheiro fazendo as mesmas atividades. O que matou o Romão, o Gerson, também era "amigo".

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  6. Romão Dantas de Sá, foi nosso vizinho em bacabal, morávamos na rua Teixeira Mendes a rua da igreja católica porta aberta. Dona Lurdes a esposa dele era ma mulher bonita e bem educada, tinham um filho.

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  7. Grande irmão. Gostei da história. Somos contemporâneos de polícia e conterrâneos. Tbm conheci Romão ainda antes de ser policial.

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  8. Gostei, eu morei em Bacabal entre 1978 e 1980, conheci Romão, foi meu cliente, ele dizia se alguém mexer com você me diga que eu resolvo, mas eu tinha era muito mede dele.

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  9. Alguem sabe do paradeiro do filho dele? Sera que ainda é vivo? Gostei dessa história

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  10. Ele não teve nenhum filho pistoleiro , inclusive minha mãe é filha dele

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  11. Romão era meu conterrâneo e amigo da minha família em Salgueiro Pe,todas as vzs que ele ia passear por lá ele fazia uma visita a minha avó,conheci a família dele toda,teve dous irmãos deles quw foram assassinados também eram Ivan e Ferrugem,tinha também Silvio Dantas,Poncioo,Quinquinha que é delegado lá em Pernambuco.

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  12. Conheci o Romão, conheci a Maroca e também a filha dela com quem dizem ele haver se relacionado um tempo depois que a mãe foi assassinada.
    Conheci tambem algumas pessoas da família Lago, que tinham um Supermercado mas não sei se eram parentes do garoto do picolé.
    E na época ouvi falar que havia sido o Nego-Gato que o havia assassinado.
    É uma história marcante, mas infelizmente não é uma ficção. É uma história da vida real que poderia ter tido um final diferente pra muita gente.

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    1. Sou de Bacabal, moro em SP. Poderia me falar mais sobre este moço o Romão e o Nego Gato, se ainda está vivo o Nego gato

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  13. Certa vez, o pneu do carro de Romão furou e ele estava trocando o pneu. Estava longe, não dava pra ver direito, aí minha mãe disse, eu era menino: "aquele homem que está trocando o pneu é o Romão, mas não fica olhando muito não" kkkkk

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  14. O Nego Gato morreu antes do Romão. Depois que o Gerson (irmão da esposa do gerente do Banco do Nordeste em Bacabal na epoca) matou o Romão, alguém escreveu um romance sobre ele. que eu li. É interessante tem muitas verdades da vida dele. por coincidência fiquei emocionada qd vi essa reportagem pois estava falando para meu filho historia da vida do Romão. ele morreu no final da rua28 de julho, foi traido pelo um falso colega, que Romão ajudou bastante, ele atirou nas costas do Romão qd entrou no banheiro. Um dia antes avisei a ele que tinha sonhado com ele, que alguém tinha matado ele e pendurado em um terreno proximo ao cemitério que fica ao lado do iguat do meu compadre Jurandi que tb foi prefeito de Bacabal. Ele me respondeu : "isso é coisa de cabeça de mulher, o homem que vai me matar ainda não nasceu" no outro dia a tardinha o miséravel matou meu grande amigo. estava contando a vida dele para meu filho e ele por curiosidade colocou o nome dele no google e encontrou essa reportagem. quando eu estava lendo eu falei ao meu filho o final da historia sera essa, pq sabia exatamente como ele reagiu e o que ele fazia e como fazia. muitos segredos que daria um grande livro, não sõ dele como do nego Gato, conheci muito bem, que Deus abençoe seus filhos. sei tb da historia dele, como viva, como morreu.... homem admirado e respeitado pela sua esperteza, se eu fosse comparar ele hoje diria que seria o JOHN WICK - ( filme)

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    1. Romaovsovtevectres filhos dois já morreram e um anda é vivo o mais velho moraxaqui na Bahia com lurdes ele não teve filho criou um que não era dele

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    2. Boa tarde a verdadeira estória de Romão não foi contada nem a metade duque ele era se for contar tudo que ele fez em toda sua vida dar um grande jornal algumas das coisas contadas são verdades e outras não

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