domingo, 2 de abril de 2023

 


O VIGARISTA QUE ENGANOU AL CAPONE


Um gesto sincero e honesto encobrirá dezenas de outros gestos desonestos. Até as pessoas mais desconfiadas baixam a guarda diante de atitudes francas e generosas. Uma vez que a sua honestidade seletiva as desarma, você pode enganá-las e manipulá-las à vontade. Um presente oportuno – um cavalo de Tróia – será igualmente útil. Um dia, em 1926, um homem bem vestido foi até Al Capone pedir a ele 50 mil dólares emprestados. Ele falou o seguinte, para o gangster: senhor, eu sou o conde Victor Lustig, eu pego o seu abençoado dinheiro e devolvo em dobro. Esse dinheiro não era nada para Capone, mas ele jamais colocaria um valor desse nas mãos de um desconhecido. Porém, ele examinou o conde, percebeu nele um homem diferente, seu estilo chique, seus modos, seu tom de voz, verdade no rosto e no falar, sem omissão, sem dissimulação sem mentiras. Capone resolveu experimentar. Tudo bem, conde, disse Capone. Dobre esse dinheiro em 60 dias como prometeu. Lustig saiu da sala com os dólares, guardou num banco em Chicago e foi para Nova York, onde tinha em andamento outros planos para ganhar dinheiro. Os dólares foram para os cofres do banco intocados, ele não gastou um centavo. Lustig não fez nada para duplicá-los. Dois meses depois, ele voltou a Chicago, pegou o dinheiro e foi novamente falar com Capone. Sentou-se diante do homem sob os olhares impassíveis dos capangas ali na sala, sorriu constrangido e disse: “lamento muito, senhor Capone, mas vim dizer que o meu plano falhou...na verdade, eu falhei”. Capone se ergueu devagar. Olhou para Lustig com ar ameaçador, pensando em que parte do rio ele jogaria o corpo do conde. Mas o conde colocou a mão no bolso do casaco, retirou os 50 mil dólares e os colocou sobre a mesa. Aqui, senhor, o seu dinheiro, até o último centavo. Mais uma vez, aceite as minhas sinceras desculpas. É muito constrangedor. As coisas não funcionaram como eu pensei. Adoraria ter duplicado o seu dinheiro para o senhor e para mim, só Deus sabe como eu precisava disso, mas o plano não se concretizou. 

Capone despencou da poltrona, confuso. “Sei que você é um charlatão, mas conde, disse Capone, eu soube disso na hora que você entrou aqui. Eu esperava os 100 mil dólares ou nada. Mas isto...receber de volta o meu dinheiro, era uma dúvida. Então disse Lustig: bem, senhor, minhas desculpas, novamente. Lustig pegou o chapéu e preparou-se para sair. Meu Deus, disse Capone, aos gritos, você é honesto. Se você está em dificuldades, fique com 5 mil para ajudar por enquanto. Ele retirou 50 notas de cem dólares do maço de 50 mil. O conde parecia atordoado, curvou-se profundamente, murmurou um agradecimento e saiu, levando o dinheiro. Os cinco mil dólares era o que Lustig pretendia desde o início. Ele deu um golpe no gangster. O conde Victor Lustig, homem que falava várias línguas e se orgulhava do seu refinamento e cultura. Foi um dos grandes vigaristas dos tempos modernos. Durante toda a nossa existência convivemos com pessoas assim. Nascem com essa capacidade de desarmar os outros através de um ato de aparente sinceridade e honestidade. É o uso da conhecida honestidade seletiva. Quem desconfiará de uma pessoa apanhada num ato de honestidade? Este é um gesto inesperado e oportuno que causa conflito com as emoções, distrai as pessoas e põe a besta mais brutal e cínica do reino a comer na sua mão. Na China antiga, isso era chamado de "dar antes de tirar". Essa tática suaviza o terreno, remove a hesitação de uma solicitação futura ou simplesmente cria uma distração. A doação dificulta a outra pessoa ver o tirar. O conde construía uma reputação de honestidade com base numa série de atos. Ele dava presentes. Ora, poucas pessoas resistem a um presente, mesmo do inimigo mais endurecido como o troiano em relação ao grego. É por isso que geralmente é a maneira perfeita de desarmar alguém. Um presente traz à tona a criança em nós, diminuindo instantaneamente as nossas defesas. Embora muitas vezes vejamos as ações de outras pessoas sob a luz mais cínica, raramente vemos o elemento maquiavélico de um presente, que muitas vezes oculta motivos ocultos. Um presente é o objeto perfeito para ocultar um movimento enganoso. Cuidado. (Robert Green- As 48 leis do poder)

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