domingo, 9 de maio de 2021

COLUNA DO DR. ERIVELTON LAGO

TODO HOMEM PRECISA DE UMA MÃE 

Estávamos na década de 60, a minha melhor década. A década dos meus primeiros 10 anos de vida. Na segunda metade dessa década tive centenas de dias felizes numa pobreza sem comparação, mas eu ainda não sabia se existia alguém rico no mundo. Mamãe me contava uma história de um turco que tinha cinco fazendas: uma de gado, uma de porcos, uma de ovelhas, uma de cavalos e uma de gansos. Porém esse turco era um homem muito mau. Um dia o turco raptou a bela Alice ainda com 13 anos de idade e casou-se com ela. Rapto é a retirada de uma pessoa de sua casa, mediante o uso da violência, ameaça ou fraude. O turco se passou por padre e levou a moça para as suas terras nos arredores de Istambul. Lá ela passou a ser uma rica mulher, mas triste e longe da sua família. Um dia o seu irmão Wilson Piancó foi buscar a sua irmã naquele país distante, mas teve o pescoço degolado pelo turco malvado no mesmo dia em que chegou a Istambul. O segundo irmão de Alice, Zé Golias Graziano foi buscar a bela moça naquela capital. Chegando lá, ele teve uma luta com o turco matando-o. Com o turco morto, Graziano trouxe a irmã de volta e toda a riqueza do turco. Um dia mamãe chegou da roça e me disse que viu uma cobra engolindo um boi lá no Riacho do Coló. Disse ela: aquela cobra vai passar umas duas semanas parada até digerir o boi na barriga. Ela estava certa. Em 1971 tive sarampo, quase morro. Dei uma febre muito alta. Tive alucinações visuais e auditivas: vários cães latiam e me perseguiam num capinzal. Eu pedia para mamãe pegar os cachorros que queriam me morder. Ela dizia aos prantos: é só febre, meu filho, não tem cachorro nenhum aqui. Toma, bebe, é chá de erva cidreira. “Tu vai ficar bom já já”. Fiquei bom. O chá de erva cidreira, de casca de laranja e xarope de mastruz, curavam todas as doenças que apareciam lá em casa. Em novembro de 1970, a doença da malária foi lá em casa, mas os homens da Sucam chegaram e deram para mamãe 10 comprimidos de Cloroquina. Cada menino tomou um comprimido. A malária foi para a casa do vizinho e matou a mãe do meu colega Badu, dona Laura. Coitado, Badu chorava rolando no chão chamando a mãe. Ele dizia: mamãe acorda, mamãe levanta daí, já amanheceu o dia, mas dona Laura não respondia. Perguntei: mamãe a senhora vai morrer um dia? Ela disse: não, meu filho, mamãe não vai morrer. Porém, mamãe  morreu em 2019 com 86 anos de idade. Um menino que perde a mãe aos 8 de idade, se sobreviver, será feliz pela metade, pois a metade da sua felicidade vai embora com a mãe. Na época da morte da mãe de Badu, minha mãe tinha apenas 36 anos de idade. Ela ainda era uma garota, pois a juventude só termina aos 40 anos. Mamãe passava o dia na roça ou quebrando coco babaçu, mas contando os dias para a chegada dos festejos dos santos. A cada trimestre algum santo em algum povoado era homenageado com uma festa, ela sempre me levava a todos esses festejos. A desculpa era vender café com bolo, mas meia noite ela já havia vendido tudo e caía na dança. Eu, Jorginho, Inácio e Badu ficávamos perto dos músicos apreciando as peripécias do baterista nos pratos e taróis da banda do Bibil Balaiada. Mamãe, dona Laura, Mazinha, Zefa e Tertúlia eram companheiras inseparáveis de trabalho, pescaria e festas. No dia 17 de outubro de 1971, num domingo, aos 12 anos de idade, me trajei e fui para o cinema, na época, cine ideal, Bacabal, MA. No caminho arranjei uma briga com o garoto Mauro Onça. Ele acertou uma pedrada na minha cabeça. Voltei para casa chorando todo ensanguentado. Mamãe viu aquela cena e ficou desesperada. O que foi isso, meu filho? Eu fuxiquei sem pensar nas consequências: Mauro Onça me deu uma pedrada. Mãe, ele foi covarde, pois eu dei só um murro nele e ele me deu uma pedrada. Perguntou mamãe: por que você deu um murro nele? Respondi: porque convidei Vera, a irmã dele, para o cinema. Aí ele me chamou de negro filho de uma égua. Ora, você é negro mesmo. Respondi: Mas a senhora não é égua e fiquei com vergonha da Vera, mãe. Tá bom, vou conversar com Jandira, mãe dele. Vou agora mesmo. Minha mãe seguiu para o local do crime e eu fui atrás. Quando fomos chegando Mauro Onça ainda estava na rua e me deu outra pedrada acertando minha canela. Doeu demais, fiquei sem ação com aquela dor insuportável. Voltei ´para casa chorando e deixei mamãe lá. Mauro Onça era o diabo. Minutos depois, mamãe retornou dizendo que Mauro havia levado umas cipoadas de dona Jandira, mas que eu não tinha razão. Realmente eu não tinha razão. Foi ainda na infância que aprendi: TODO HOMEM PRECISA DE UMA MÃE. Feliz dia das mães, MAMÃE.

Um comentário:

  1. Toda mundo precisa de uma mãe que ame incondicional, meus filhos são TD de mais precioso que eu tenho na vida, quando tinha eles comigo fui feliz de verdade.

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