domingo, 23 de maio de 2021

COLUNA DO DR. ERIVELTON LAGO

 


A VIAGEM DE MAURÍCIO


O mestre Raimundo Maurício Matos Paixão, partiu para o plano espiritual aos 48 anos de idade. Maurício, como era conhecido, era mestre em Cartografia Social e Política da Amazônia. Homem de vida ativa, militou no Centro de Cultura Negra desde o final da década de 80. Deixou um lindo casal de filhos, cuja mãe é a minha querida Amiga Ana Martinha: Kaynara Andresa Silva Paixão e Maurício Augusto Silva Paixão. Não é tão fácil assim, cumprir a missão na terra ainda vivendo entre a juventude e a fase adulta, mas Maurício lindamente cumpriu. Maurício foi uma das boas almas da Coordenação Ecumênica de Serviço- CESE. Maurício foi um incansável mediador e pacificador quando o assunto era a luta pela igualdade racial. O povo quilombola foi uma das suas grandes inspirações de vida e luta enquanto alma da terra. Hoje, o outro dia após a sua viagem, o povo negro pode contar com seu jovem guerreiro no plano espiritual, como um novo ancestral. Sabemos que a vida não tem replay, por isso devemos aproveitá-la a todo momento para fazer o bem, foi o que Maurício fez. O segredo da vida não é ter tudo que se quer, mas amar tudo que se tem. Maurício teve asas para sonhar, esperança para acreditar, bondade para amar e fé para continuar. Ele continuou até o dia da sua viagem quando homens e mulheres o homenagearam com belos cantos. A luta contra o racismo no Brasil é um trabalho para homens e mulheres de coragem. A luta contra o racismo exige inteligência e sabedoria, o sábio Maurício lutou na sua trincheira sem nunca demonstrar cansaço ou tristeza. A arma da sua luta era a paciência, a irreverência e o riso sem medo. Ainda no limiar da idade, Maurício percebeu que a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cantou, chorou, dançou, riu e viveu intensamente, antes que a cortina se fechasse por aqui e a peça terminasse sem aplausos. Maurício foi aplaudido em vida, mas também, na sua última morada terrestre não faltaram aplausos capitaneados pelo elegante Pai de Santo Wender Pinheiro que cantou, encantou e nos fez cantar na porta da última morada do Jovem Mestre. Maurício não viveu para que a sua presença fosse notada, mas para que a sua falta fosse sentida. Vi os amigos de Maurício chorando, vi os filhos de Maurício abraçados com a mãe Ana Martinha chorando a morte do pai, mas agora posso dizer à família enlutada: A morte consegue nos roubar a presença dos que amamos, mas das lembranças que ficam nem ela pode nos separar. Viver intensamente cada momento é a melhor coisa que existe, mesmo que esse momento seja difícil e repleto de dor. É o caso da morte, a experiência mais poderosa da vida. A morte é um dia que vale a pena aprender a viver, seja no mundo terreno, seja no mundo espiritual. No final, o que vai contar não é o que se conta. Nós não morremos felizes pelo que temos, mas pelo que fizemos. A vida e a morte constituem os limites extremos da existência humana nesta terra. Desde o instante em que nascemos, começamos a morrer e cada dia vivido, torna-se um dia a menos no calendário da nossa existência. Essa é a nossa condição humana, essa é a nossa marca existencial. Agradecemos a você, Maurício, pelos seus 48 anos de existência. Akomabu, a nossa cultura não deve morrer, enquanto a vida viver.



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