domingo, 5 de dezembro de 2021

COLUNA DO DR. ERIVELTON LAGO

 

A CONDENAÇÃO DE SÓCRATES

Por que Sócrates morreu? Podemos considerar que a sua condenação condenou também o espírito crítico? Sócrates dizia que foi vítima do excesso de democracia e da ditadura da ignorância. Hoje, na pós-modernidade do Brasil, existe excesso de democracia? Será que a democracia não pode ser também a causa da ditadura? Posso sair por aí chingando ministros, juízes e promotores de justiça de ladrões e safados? A liberdade de expressão permite condutas como essas nos países democráticos? Sócrates morreu como viveu. Porém, ele não era político no sentido dos negócios públicos de governo. Sócrates era coerente com a verdade e com os princípios éticos que pregava, nunca foi oportunista. Sócrates não desrespeitava qualquer membro dos poderes públicos da velha Grécia. Sua forma de viver incomodava a ordem estabelecida; fosse ela política, social ou religiosa, porém nunca foi desrespeitoso. Sabe-se que o verdadeiro motivo da condenação de Sócrates foi sua suposta influência sobre os seus jovens discípulos que haviam se tornado famosos por suas condutas antiatenienses e antidemocráticas. Temos que ter cuidado com os “Sócrates” de hoje, pois muitos são políticos frustrados com o passado e com o presente. Alguns políticos têm fala bonita, são mágicos com as palavras e fazem muitos jovens desavisados o seguirem cegamente, porém temos que ter cuidado, falácia parece verdade, mas não é.  Quando Sócrates convidava seus jovens ouvintes, filhos dos homens mais ricos de Atenas, a se afastarem da política e da aquisição de riquezas para se voltarem para o amor ao saber e ao conhecimento, aparecia como um importuno, capaz de perturbar a sociedade e do qual esta devia se livrar. Todavia, Sócrates era apenas um pobre professor e não um político rico, porém frustrado com a carreira que lhe trouxe muitos dias de amargura. Outros pensadores, como Protágoras, Eurípedes e Anaxágoras responderam processo em razão de suas ideias.  Porém, a excentricidade religiosa de Sócrates colaborou para o seu destino trágico. A voz interior que guiava seus atos possuía um caráter divinal que jamais pode ser confundido com o caráter dos falsos Sócrates da modernidade. Sócrates era visto como um religioso atípico e como um subversor da religião e da moralidade tradicional, mas não há notícias de que ele tenha jogado na lama o nome de políticos e outras autoridades da sua época. O poeta Aristófanes transformou Sócrates em um subversor da religião tradicional. Ele elaborou peças em que insinuava que Sócrates era o líder de uma panelinha que influenciava indiretamente na vida política de seus discípulos. Aristófanes afirmava que Sócrates utilizava-se de sofismas para tornar mais forte diante dos tribunais, a causa mais fraca. Temos que ter cuidado com os Aristófanes, pois ele era um poeta cômico, falante e bufão de profissão muito parecido com o bufão do Brasil.  Aristófanes foi um mal caráter, mas era inteligente. Ele era eloquente como o Aristófanes do Brasil, mas um comediante sem escrúpulo que indisfarçadamente acusou Sócrates nas esquinas das ruas de Atenas. Mas Sócrates foi um réu orgulhoso e o seu martírio foi a coroação de sua vida. A morte parecia-lhe apetecer, ele queria morrer. O seu comportamento diante do Júri foi a maior demonstração de que não queria curvar-se diante dos seus acusadores. Apesar das molecagens de Aristófanes, Sócrates sempre se manteve temperante e sóbrio, na própria defesa manteve-se excessivamente orgulhoso. Sócrates optou pela morte, e só conseguiria obtê-la se irritasse o júri. Não era o seu objetivo cativar juízes, pelo contrário, foi arrogante e calculadamente jactancioso. Aristófanes foi o seu algoz nas ruas e nos teatros, mas os seus acusadores oficiais foram: Meleto, um poeta menor, cuja motivação parece ter sido a de chamar a atenção sobre sua pessoa; Lícon, que nutria certo ressentimento pessoal contra o filósofo; e Anito, um rico curtidor de couros, que por sua influência granjeava maior peso à acusação. Sócrates Foi julgado e condenado à morte, mas não se desviou da verdade e jamais fez da imoralidade a sua arma. Tem muita gente por aí pensando ser Sócrates, mas na verdade são Aristófanes.



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