segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

FAMÍLIA DE OUTRO BRASILEIRO CONDENADO À MORTE DIZ QUE ELE NÃO ACEITA IR PARA HOSPITAL


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 Pessoas próximas à família de Rodrigo Gularte dizem que o curitibano tem mostrado comportamento arredio e paranoico na prisão. Se antes ele costumava guardar cartas enviadas por amigos, em uma visita recente de familiares ele teria dito que sente que estão “todos contra ele” e que está “sendo perseguido”. O comportamento levou a mãe do preso, Clarisse Gularte, a procurar psicólogos para avaliar o brasileiro. Um médico indonésio teria emitido um laudo recomendando que Gularte faça tratamento para esquizofrenia, segundo a advogada Andréa Sarmento: 

— Esse laudo ficou pronto ano passado e diz que o Rodrigo está doente e precisa ser tratado. Mas ele se recusa a tomar remédio e ir para o hospital. As autoridades locais teriam até autorizado a transferência, mas ele não quer ir. Por isso, pediram para alguém da família tentar convencê-lo.

O curitibano, hoje com 43 anos, foi preso em 2004, no aeroporto de Jacarta, com a cocaína escondida em oito pranchas. Ele seguia para Bali e estava com dois amigos, mas assumiu a autoria do crime sozinho. Gularte já teve pedido de clemência negado, e aguarda resposta do governo de Joko Widodo, presidente da Indonésia, para um segundo pedido feito pela família.
Angelita Muxfeldt, prima de Gularte, chegou a Jacarta no sábado, após três dias de viagem, para tentar agilizar o tratamento. A viagem, que já estava marcada, coincidiu com a execução de Marco Archer. Segundo familiares, Rodrigo tem poucos pertences na cadeia. Assim como Archer, ele foi transferido ao menos três vezes — e a cada transferência via livros, roupas e objetos pessoais serem apreendidos. 

O advogado Cleverson Teixeira, que assiste a família Gularte e diz conhecer o preso desde pequeno, contou ao GLOBO que a família está tentando poupar Clarisse dos detalhes. Ela ainda não saberia da possibilidade de execução do filho em fevereiro.

MÃE RELEMBRA DESPEDIDA

O “Fantástico” exibiu entrevista feita há cinco anos com a mãe de Gularte, em que ela lembra como foi a despedida do filho antes da viagem para a Indonésia: 

— Parece que ele estava prevendo alguma coisa. Na hora que eu fui levá-lo no aeroporto, a última imagem que eu tenho dele, ele me abraçou muito e disse: “Mãe, eu te amo”. E na hora que ele foi, ainda me abanou e disse: “Mãe, não esqueça que eu te amo muito”.


Marco Archer Cardoso Moreira
CINZAS DE BRASILEIRO EXECUTADO NA INDONÉSIA SERÃO LEVADAS PARA O RIO DE JANEIRO


Reprodução Free Curumim/ Todos Direitos Reservados Marco Archer Cardoso Moreira O corpo do brasileiro Marco Archer foi cremado na Indonésia, informou hoje (18) a embaixada brasileira em Jacarta. As cinzas serão trazidas para o Brasil pela tia dele Maria de Lurdes Archer Pinto. Archer foi fuzilado no sábado (17) por ter sido condenado por tráfico de drogas. Além do brasileiro, foram executados neste sábado cinco pessoas também condenadas por tráfico de drogas.

A execução do brasileiro criou uma crise diplomática entre Brasil e Indonésia. No sábado (17), a presidente Dilma Rousseff – que chegou a fazer uma apelo ao presidente Indonésia, Joko Widodo, para que Archer não fosse morto -, se disse “consternada” e “indignada” e convocou para consultas o embaixador do Brasil em Jacarta. No meio diplomático, a medida representa uma espécie de agravo ao país no qual está o embaixador. Já o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que a execução causa “uma sombra” na relação entre o Brasil e a Indonésia.

O carioca Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi o primeiro brasileiro executado por crime no exterior. Archer trabalhava como instrutor de voo livre e foi preso em agosto de 2003, quando tentou entrar na Indonésia, pelo aeroporto de Jacarta, com 13,4 quilos de cocaína escondidos em uma asa-delta desmontada em sete bagagens. Ele conseguiu fugir do aeroporto, mas foi localizado após duas semanas, na Ilha de Sumbawa. Archer confessou o crime e disse que recebeu US$ 10 mil para transportar a cocaína de Lima, no Peru, até Jacarta. No ano seguinte, ele foi condenado à morte.

new caption 'ELE NÃO QUERIA SER LEMBRADO COMO O 1° BRASILEIRO EXECUTADO DA HISTÓRIA', DIZ CINEASTA
 
  • O cineasta Marcos Prado, que dirigiu Paraísos Artificiais (2004) e produziu Ônibus 174 (2002) e Tropa de Elite (2007 e 2010), preparava um documentário sobre Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, executado por fuzilamento na Indonésia. Ele conversou com o Estado sobre o projeto.
 
Como surgiu a ideia para o documentário?

A ideia do documentário veio do próprio Curumim (apelido de Marco Archer). Há dois anos ele esteve na mesma situação, no corredor da morte, para ser executado. O advogado conseguiu que a execução fosse cancelada. Nesse momento de tensão ele falou com um amigo nosso em comum que me procurou perguntando se eu queria fazer um filme sobre ele. Eu resolvi fazer. Mas, ao fazer um filme de uma pessoa que está dentro de um presídio de segurança máxima, você não consegue muitas imagens.

Então eu estava esperando ele sair, eu acreditava que ele iria sair por diversas razões: pressões internacionais relacionadas à penas de morte, o ministro da Justiça da Indonésia que é contra pena de morte, então existiam indícios de esperança de que talvez as leis da Indonésia mudassem. Existiam boatos de que o pedido de clemência feito pela Dilma na Rio + 20 para o presidente anterior iria funcionar, existia um “otimismo diplomático” de estava tudo certo, estava sendo bem negociado. Tinha esse otimismo e eu segui tendo contato com o Marco por dois anos, por telefone, mas para realmente fazer um filme sobre o protagonista você precisa de imagem e eu não tenho essas imagens. Então é um projeto que ainda vai ser analisado, que eu não sei se eu vou fazer.

Você chegou a visitá-lo na prisão?

Fui lá uma vez, em 2014. O segundo pedido de clemência feito pela Dilma não tinha sido respondido, mas ele tinha muita fé que iria sair. O presídio em que ele ficava é moderno e não tem similaridade com as cadeias brasileiras: tem quadra de tênis, sala de ginástica, três igrejas, um mercadinho, uma cozinha. Se o prisioneiro quiser comprar um prato, um frango, algo diferente do que é oferecido pelo na cantina, ele pode. O Curumim jogava tênis todo dia, estava com a pele bronzeada, tinha várias horas em que não precisava ficar trancafiado. A saúde dele, tanto mental quanto física, estava em boas condições. E ele tinha essa esperança, essa certeza na verdade, que a coisa ia se reverter para o lado dele.

Quando isso mudou?

Depois que saíram as notícias nos jornais do mundo inteiro dizendo que o presidente ia executar seis prisioneiro e seu nome estava na lista, no início de janeiro, Marco ficou com sentimento dúbio. Acreditava numa saída diplomática mas mudou completamente, óbvio. Ele estava tenso. Eu falei: “Curumim, se precisar, faz um pedido de clemência, vamos gravar, explicando os motivos para sair daí, porque se as coisas não andarem conforme o que você espera, vamos fazer de outra forma”. E ele gravou aquele vídeo (que circulou no Youtube essa semana) para tentar de alguma forma reverter o que estava acontecendo.

O que ele queria mostrar nesse documentário? Qual era o principal objetivo dele?

Ele me falou que não queria ser lembrado como o primeiro brasileiro executado da história do País, que estava arrependido, que queria falar aos jovens que não cometessem essa burrice. Ele já estava nessa prisão há 11 anos, já tinha sido duro demais. Já a minha motivação para fazer esse filme era contar uma história de volta por cima, e não o roteiro trágico do anti-herói. 

Queria acompanhá-lo quando ele retornasse, seguir vendo o seu cotidiano dele, se realmente ia retomar a rotina. Essa era a ideia do projeto. Agora ,com a execução, talvez existem outros temas que valham a pena ser explorados. O ideal seria esse, era o meu ideal. Eu realmente comecei a acreditar acho que o Curumim sai dessa. Mas infelizmente não aconteceu.


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