domingo, 8 de outubro de 2023

COLUNA DO DR. ERIVELTON LAGO

 

TODA DEMOCRACIA É FRÁGIL 

É muito difícil definir a democracia, bem como indicar os requisitos indispensáveis à sua constituição, devido à sua incompletude essencial. Na democracia não há modelos a seguir, pois a noção de modelo supõe a imposição antecipada e indevida de algo que é considerado o melhor, certamente por alguém, mas por quem? Quem é que define o que é o melhor numa democracia? É o povo? Qual povo? O mais rico ou o mais pobre? O povo preto ou o povo branco? O povo índio do coração da mata amazônica ou o povo da avenida paulista? Quem escolhe o que é melhor na democracia, é o povo que quebra coco babaçu nas matas ou o dono da fazenda ou das matas? Ao contrário, a democracia se autoproduz no seu percurso, e a árdua tarefa em que todos se empenham está sujeito aos riscos de enganos ou desvios. 

Embora a democracia seja a antítese de todo poder autocrático, o exercício do poder muitas vezes se perverte nas mãos de quem o detém. Por exemplo, a transparência é um atributo do espaço democrático, por isso o filósofo Norberto Bobbio prefere definir democracia como o (poder em público), justamente no sentido em que os governantes devem tomar decisões às claras, para que os governados “vejam” como e onde as tomam. Bobbio cita o escritor Elias Carnneti que diz em sua obra Massa e poder: “O segredo está no núcleo mais interno do poder”. Isso significa que os que governam são tentados a agir às escondidas para melhor dominar; mais ainda, além do silêncio, recorrem à mentira. 

  Aceitar a diversidade de opiniões, o desafio do conflito, a grandeza da tolerância, a visibilidade plena das decisões políticas é exercício de maturidade. 



Por isso mesmo, a democracia é frágil e não há como evitar o que faz parte da sua própria natureza. A democracia se permite a expressão dos pensamentos divergentes, entre eles surgirão até os que combatem a democracia em nome de religião, do amor, da moralidade e da honra por identificá-la com a anarquia dos jovens, com a pederastia dos velhos, com a malandragem do esmoleiro, com a contracultura dos hippies e com a igualdade entre os sexos. Em outras palavras, é na democracia que surgem aqueles que a combatem impondo os seus pontos de vista, além daqueles que surgem para tentar homogeneizar os pensamentos e as ações das pessoas. Um dos riscos da democracia é recair-se no totalitarismo, como consequência de determinados frupos deixarem-se sucumbir à sedução do absoluto e desejarem restabelecer a (ordem e a hierarquia). 

Em resumo, a condição do fortalecimento da democracia encontra-se na polarização das pessoas que devem deixar o hábito ou o vício da cidadania passiva, do individualismo, para se tornarem mais participantes e conscientes da coisa pública onde deve caber todas as pessoas sem qualquer distinção. Todos sabem que o termo autoridade exige obediência, mas é comumente confundida com alguma forma de poder e violência. Contudo, a autoridade exclui a utilização de qualquer meio externo de coerção das pessoas, pois onde a força é usada, a autoridade, em si mesma, estará fracassada.

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