domingo, 15 de outubro de 2023

COLUNA DO DR ERIVELTON LAGO

 

TENHO MEDO DO MEU FANTASMA

A imaginação é uma das mais poderosas aliadas do medo. Desde os dois anos de idade as crianças já possuem um esboço da vida imaginária. Isso significa que uma lembrança pode a qualquer momento se transformar em imagens aparentemente reais e voltar a apresentar-se ante a pessoa depois de adulta. A vida mental desenvolvida sobre o presente e sobre o ambiente, adquire relevo. O passado e o futuro criam vida, transcendem o pensamento e criam asas, criam estímulos próprios que se alimentam a si mesmo sem necessidade de recorrerem a estímulos exteriores. O indivíduo torna-se escravo da sua própria magia. O indivíduo torna-se um homem sedento parecido com aquele que viaja pelo deserto e, em certo momento, abandona a sua rota para seguir um lago de águas frias, mas não é um lago, é simplesmente uma miragem. É normal brincarmos com a imaginação. Até faz parte do cotidiano. O problema é quando a imaginação se torna submissa a algumas tendências imaginativas e negativas em forma de dúvidas constantes, presságios negativos, suspeitas infundadas e temores dos fenômenos corriqueiros da vida. E então, tão depressa como a imaginação cavalga sobre tudo isso, nos traz a galope o tenebroso manto do medo, que se instala na nossa vida fazendo sombra sobre todos os nossos caminhos. 

A partir daí, o homem, que não é mais criança, mas adulto ou já com maior compreensão da vida, começa a sofrer um dos mais sinistros efeitos deste gigante: o MEDO IMAGINÁRIO, contra o qual pouco se pode fazer depois de atacado por ele, pois a razão, o raciocínio e a lógica já se encontram impotentes diante dos efeitos deletérios, ágeis, cálidos e sutis da FANTASIA pavorosa. Até parece estranho e paradoxo, mas quanto mais irreal, quanto mais imaginário é o temor, mais difícil se torna combatê-lo. E isso se explica por que até os mais valorosos soldados da guerra, capazes de lançar mísseis e manusear canhões, retrocedem apavorados ante a suspeita de um inimigo invisível. É assim mesmo, os mortos assustam muito mais do que os vivos; os “fantasmas” angustiam e torturam as mentes ingênuas muito mais do que um bandido de carne e osso. Os FANTASMAS assustam muito mais do que os assaltantes, latrocidas e maníacos sexuais; em suma, o que NÃO EXISTE oprime mais do que aquilo que EXISTE. Porém, seria injusto negar a existência daquilo a que dizemos NÃO EXISTIR no sentido comum do termo, pois a verdade é que EXISTE na imaginação, ou seja, criado por quem o sofre e, justamente por isso, não pode dele fugir, pois seria necessário FUGIR DE SI PRÓPRIO para safar-se da sua ameaça e do seu semblante assustador. Em seu livro intitulado Quatro Gigantes da Alma, o sociólogo e médico psiquiatra cubano Emílio Mira Y Lopes, criador do psicoteste muito aplicado no Brasil, onde ele viveu e morreu, dedica todo um capítulo ao medo, que nomeia “Gigante Negro”. Esta denominação, por si só, indica os danos que o medo provoca na vida das pessoas. O remédio então consiste em convencer a pessoa atingida pelo MEDO a exercitar dentro de sua mente um “SEGURO PLANO INTERIOR DE AÇÃO”, que, dando certo, possibilita que essa pessoa descubra uma nova forma de “ser no mundo”, ao conhecer a si mesmo e afastar os FANTASMAS que um dia se instalaram sem que fossem percebidos. Um indivíduo que tem medo de vento tende a ficar dentro de casa e fechar portas e janelas, mesmo que se trate de um vento brando e não um furacão ou tornado. Lute contra os pensamentos paranoicos. Traga os seus pensamentos de volta à realidade praticando coisas que você gosta. Identifique as causas dos seus FANTASMAS, cure-se a si mesmo.



4 comentários:

  1. O medo assusta e com o próprio medo você segue enfrete,porque é com medo que se enfrenta a vida.
    Se estiver com medo de seguir em frente vá com medo mesmo que as portas do mundo se abre.

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  2. Realmente o medo pode até contribuir para o controle da perigosidade. Na verdade, a ira, o medo, o amor é o dever, se equilibrados, podem nos conduzir a uma vida feliz e sem fantasmas sombrios.

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  3. O medo cria os nossos fantasmas que deixamos adormecidos nalgum lugar, para seguirmos a vida até um dia zombarmos do próprio medo.

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    1. Admito que sigo a vida equilibrando o medo e o dever, pois tenho consciência que tanto um quanto sempre foi o meu ponto de luta e equilíbrio, claro, sem perder de vista a importância da ira e do amor.

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