terça-feira, 13 de maio de 2014

SOMOS TODOS DIFERENTES E NÃO SOMOS MACACOS


O problema é a bananqa
Ao contrario do que canta o cearense Belchior em  “Como nossos pais”, eu vou falar aqui, das coisas que aprendi nos discos, nos livros, nos folhetos, nos cordéis, nos jornais, no rádio, na televisão,na internet e na vida.
Waltinho carioca - banan contra o racismo

Pra começar, nasci pobre e preto em uma cidade chamada Bacabal, que, na época, era invadida por brancos ricos, e eu, o único pretinho da turma da rua, era responsabilizado por tudo de ruim que os brancos faziam. Trago isso, não como um desconforto traumático de infância, mas como história, uma estatística pessoal que me mantém de cabeça erguida e como diz o negro e advogado Dr. Bento Vieira, - os brancos eram burros e pensavam que nós éramos bestas, os brancos eram engodo, está provado. Bento quebrou a barreira do preconceito e jogou uma pá de cal no estereótipo que os brancos incutiam na cabeça dos nossos pais, de que preto não podia se formar, preto tinha que aprender um ofício.
Dr. lereno e Dr. Rinaldo nunes - Okí pro racismo
Desde criança, como desenvolvi o dom para a música e para a literatura, ouvi canções de sucesso que tratavam justamente de racismo. Posso citar aqui “O negrinho e a senhorita”de Noel Rosa e Abelardo Silva que diz: O Neguinho gostou da filha da Madame /Que nós tratamos de sinhá /Senhorita também gostou do Neguinho /Mas o Neguinho não tem dinheiro pra gastar /A Madame tem preconceito de cor /Não pôde evitar esse amor ... ou mesmo “Preconceito”  de  Wilson Batista e Marino Pinto, eternizada na voz do branco João Gilberto : Eu nasci num clima quente /Você diz à toda gente /Que eu sou moreno demais /Não maltrate o seu pretinho /Que lhe faz tanto carinho /E, no fundo, é um bom rapaz/ Você vem dum palacete /Eu nasci num barracão... e até na dançante Fricote” do baiano Luis CaldaS: Nêga do Cabelo duro/que não Gosta de pentear... E são tantas e tantas. Notem que o preconceito é de cor, de condições financeiras e até de moradia. Tudo com bom humor, mas preconceito.

Gilberto Gil
Pra se defender  e defender os negros de tantas piadas, preconceitos e estigmas, o ícone Gilberto Gil, cantou; em “Sarará”:  Sara, sara, saracura/Dessa doença de branco/De querer cabelo liso/Já tendo cabelo louro/Cabelo duro é preciso/Que é para ser você, crioulo  e concluiu na belíssima “A mão da limpeza O branco inventou que o negro/Quando não suja na entrada/Vai sujar na saída, /Imagina só/Que mentira danada/Na verdade a mão escrava/Passava a vida limpando/O que o branco sujava/Imagina só/Negra é a mão da pureza/Negra é a mão de imaculada nobreza/Êta branco sujão...
 
Daniel Alves
Agora que Daniel Alves deu uma lição inconsciente de racionalidade ao comer uma banana jogada por um torcedor, esse ato heróico ganhou o mundo e acreditem, vem mais coisas por aí, pois o que dá IBOP, sempre tem alguma empresa por trás. Que digam Neymar, Ronaldinho e Alexandre Pires. O marketing é grana, preconceito é outra coisa.

Se olharmos pelo lado cor, para os critérios nacionais, o Daniel Alves é branco, cabelos lisos, olhos verdes e acima de tudo: é rico. Se jogaram para ele uma banana, imaginem para um realmente preto, cabelo duro, beiço roxo, canela cinzenta, pés rachados. Jogariam várias bananas, mas de dinamite.
Essa história de preconceito, racismo ou como queiram chamar, tudo é um conceito, atinge brancos pobres, pretos, gordos, homossexuais, lésbicas, magros, loiras, cadeirantes, velhos, pedintes, na verdade atinge a todos, é só uma questão de ângulo e ótica, ignorar ou não, relevar ou fazer alarde. Cada cabeça é uma sentença. negros como Pelé, Agnaldo Timóteo, Elza Soares, Dudu Nobre, ´Tinga, entre tantos outros famosos, ja passaram por tal vexame. Todo negro passa por preconceitos todos os dias e todas as horas e não vai acabar nunca. 
Fragmentos do cordel “A chegada de lampião no inferno”
Há poucos dias, por exemplo, saí de São Luis para Bacabal em um ônibus da empresa Guanabara e na recontagem de passageiros em Miranda, fui hostilizado pelo motorista, que depois de contar e recontar todos, me olhou de cima a baixo e perguntou se eu tinha passagem. Mandei bem alto, ele tomar naquele lugar e continuei lendo o livro “O Alienista” de
Machado de Assis. Na descida ele me pediu desculpas. Poderia muito bem chamar a policia e registrar um boletim como racismo, pois, como testemunhas eu tinha todos os passageiros.
Ninguém, principalmente nós negros, podemos dizer que nunca sofremos algum tipo de preconceito e se engolimos um leão ou mais a cada dia, uma simples banana é cafezinho, e  hoje um monte de brancos, aparece nas redes sociais com uma banana na mão: banana pra eles.

Na minha autodidata antropologia,  pesquisando sobre literatura de cordel, descobri que o cordelista José Pacheco, um dos mais afamados poetas repentistas do Brasil, no clássico “A chegada de Lampião no inferno”, usa de um preconceito ímpar onde todos os que estão no purgatório, são negros, como se todos os brancos que morrem, vão para o céu.
Quem está feliz com tudo isso são os plantadores e vendedores de bananas, é a próxima atração nacional “A mulher Banana”. Diante de tanta mídia, vai sobrar muta casca e vai ter muita gente que vai escorregar e essa história de que somos todos iguais e que somos macacos, é história pra vender imagem e banana. Somos tão diferentes, o que queremos, e nunca conseguiremos, é sermos tratados com igualdade, por isso, banana pra quem não gosta da gente.
 O Cobaia de Deus, ou melhor, o cobaia dele mesmo, o Cazuza, cantou em seu leito de morte: “Me tire dessa jaula, irmão, não sou macaco “


Para: Bento Vieira, Bentinho, Bruno, Erivelton Lago, Ademas, Waltinho Carioca, Donatinho, Osmar Noleto, Lúcia Noleto, Zé Alberto Veloso, Alberto Filho, Jeferson Santos, Neto Barbeiro, Riquinho, Josidarck, Ademar Galvão, Itacimar, Itaguacy Coelho, Paulinho Lemos, Eveline, Joacy, Zilda,  Meló, Abel Carvalho, Auto Cutrim, Manu Lopes, Raimundo Máximo, Pedro Neto, Arquimedes, Bibiça, Douglas, Ezrael Nunes, Henrique Franklin, Chico Matos, Eufrásio Filho, Clemilton, Lílio Lago, Masa, Mingo, Hélio Santos,  Antônio santos, Nonato Andrade, Lisboa, Nonato Chaves, Alexandre, Mundinho Salazar, Bismark, Klinger Santos, Oswaldinho Filho, João Baiano, Edmarley, Dalva Lemos, Luana, Rafaela, Dalva Lopes, Lea Waldilena, Lúcide, Helena, Geysa,  Ana Luisa, Dalva Lopes, Cristina Miranda, Marlélia, Carmem Lopes, Nélia, Lucília, Edvana, Régia, Lindoracy e tantos outros e outros, que em meio a qualquer preconceito, mantém viva, a história  étnica da raça.

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