domingo, 1 de outubro de 2023

COLUNA DO DR. ERIVELTON LAGO

TODA EMBRIAGUEZ ALCÓOLICA  É FORTUITA  

Várias drogas ilícitas começaram como medicamentos úteis e benéficos para as pessoas. Entre essas substâncias hoje consideradas ilegais estão a maconha, a cocaína, a heroína e a anfetamina. Porém, o álcool, apesar de ser uma das drogas que mais aniquila a personalidade humana, sempre esteve entre as drogas lícitas. Desde a aurora dos primeiros povos civilizados, a humanidade consome álcool, na forma de diferentes bebidas, seja em comemorações festivas, cerimônias religiosas, festas ou em momentos de lazer e descontração. Porém, o motivo do seu consumo é devido aos efeitos que ele provoca nas pessoas: coragem, alegria, diminuição da ansiedade, descontração, aumento da autoestima e da sociabilidade. Todavia, o consumo exagerado do álcool revela o seu outro lado: a sonolência, sedação, falhas da memória, lentidão da fala e dos movimentos e, em casos extremos, coma e até morte, sem falar na ressaca no dia seguinte. Por que isso ocorre? A metabolização do álcool se dá pela ação de duas enzimas, a álcool desidrogenase e a aldeído desidrogenase. A primeira converte o etanol em acetaldeído, que também é uma substância tóxica para o organismo. Por isso, a segunda enzima entra em ação, convertendo esse composto em ácido acético. Então, como acontece a embriaguez? quando consumido, o álcool entra na corrente sanguínea, se difundindo por todo o corpo, chegando até o cérebro. Como ele é uma molécula menos polar que a água, ao chegar nas fendas sinápticas (local onde um neurônio troca informações químicas com outro), ele dificulta que os neurotransmissores se desloquem entre eles, causando uma certa lentidão em nossas ações, o que gera assim a embriaguez. Num primeiro momento, as pessoas ficam desinibidas e com sensação de bem-estar geral. Depois de absorvido pelo estômago, o álcool entra na corrente sanguínea, indo rapidamente para o fígado, onde é metabolizado. Inicialmente, o fígado transforma o álcool em ácido acético, que é utilizado para gerar energia nas células, o que nos confere inicialmente uma sensação de bem-estar e alegria. Aos poucos, o ácido chega aos neurônios e inibe de forma sutil a troca de alguns neurotransmissores, o que gera a desinibição, a euforia e, consequentemente, uma maior sociabilidade. A pessoa fica muito falante e segundo uma lenda árabe essa é a fase do macaco. Em resumo, o movimento do álcool no nosso organismo ocorre por oxidação e excreção: pequeníssima parte do álcool é eliminada pelos pulmões. Um pouco mais pelos rins, entre 1 a 15%. De 85 a 99% é oxidado no organismo: o álcool gera aldeído acético, que se transforma em ácido acético, que se transforma em água e gás carbônico. Queima-se por hora 7/10 de centímetros cúbicos de álcool em um adulto de 70 kg. Ao ser ingerido, o álcool libera no cérebro neurotransmissores como dopamina e serotonina, que estão relacionados com a ativação dos centros de prazer e recompensa. Devido a essa liberação exacerbada, ocorrem mudanças fisiológicas no organismo, como sensação de bem-estar, relaxamento, desinibição e euforia.


Desinibida, e após a euforia vem a depressão, a pessoa às vezes passa a ficar valente, provoca confusão e brigas, segundo a lenda árabe, essa á a fase do leão. O álcool nesse momento inibiu a inibição. Entre a euforia e a depressão algumas pessoas podem disparar crises de ansiedade, delírio persecutório, ataque epilético, entre outros problemas. Nessa fase pode os neurotransmissores como a serotonina, dopamina, glutamato e o ácido gama-aminobutrico interagirem com os receptores e estimulam ou inibem importantes funções e sensações do corpo. Também, devemos saber que cada área do sistema nervoso central regula diferentes funções e percepções. Em contato com os receptores, esses transmissores exercerão um efeito excitatório ou inibitório, de acordo com a carga do transmissor enviado. O efeito excitatório é provocado por neurotransmissores como a acetilcolina, o glutamato, a serotonina e a adrenalina. Na medida em que se bebe mais, somam-se os efeitos depressores do álcool. Depressor no sentido de anular a atividade dos neurônios. Daí, teremos sinais iniciais de sonolência (tendência a dormir), sedação (tirar a excitação), lentidão do pensamento e das atividades cognitivas de atenção e memória. Essa é a terceira fase da embriaguez que é a fase do porco. Moral da história: toda embriaguez alcoólica é fortuita, pois ninguém aprende na escola ou na família o processo de metabolização, oxidação e excreção do álcool no nosso organismo.


3 comentários:

  1. Dr. Erivelton Lago, belo texto: a ciência do lado de dentro da garrafa. A gente abre e o álcool no corpo vira vinagre e azeda tudo. Rsrsrs. O álcool dá, o álcool tira. “Quem evita a primeira dose, evita a segunda”, mas quem lança seu corpo em sacrifício alguma dádiva alcança. Confesso que amo as moléculas menos polares que a água em toda sua licitude. Quero morrer bebendo, entretanto, em hipótese alguma morrer de beber. Quanta música, literatura, pensamento se originou num guardanapo que a sobriedade não permite? Quantas amizades nasceram entre copos e palavras, embora inimigos o mesmo cenário os produziu? Quantos amores começaram num bar e por causa do bar se diluíram como o éter? Quantos de nós nasceram por intermédio do fortuito e pela tragédia do fortuito não se puderam delongar? Seria possível aprender a beber corretamente (socialmente)? Uma pedagogia etílica: manifestar o macaco e evitar o porco em alguma justa medida!

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  2. Caro poeta, todo banquete tem alguma taça de vinho para celebrarmos a paixão sem tirarmos o pé do chão. É uma refeição solene para se falarmos sobre o amor e esquecermos a dor. Porém, o verdadeiro boêmio é aquele que perde a timidez sem perder a LUCIDEZ.

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  3. Ops, para falarmos sobre o amor (sem o "se"...😂😂

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