sexta-feira, 20 de novembro de 2015

DIA DE PRETO

Desde que me entendi por gente, se é que, muitas vezes ouvi e ainda ouço a frase – preto não é gente – sinto na pele o preconceito e a discriminação e engulo a seco, um leão a cada dia, a cada hora, a cada minuto. É certo que já houve avanços, mas pela própria evolução dos tempos não por novos heróis. Essa tarefa de heroísmo está na luta individual, na vontade de vencer e as barreiras continuam, são muitas, e são muitos os que fazem a diferença, mas são poucos os que aparecem.

Já são cento e tantos anos e com ele o velho estereótipo – preto quando não caga na entrada, caga na saída – ouço isso dos meus próprios amigos quando estamos juntos e cometo algum deslize.

Ainda bem que o Gabriel Pensador fez o hit – Loura Burra – que, a partir dalí, como que por castigo, passou a ser a pesada evidência e que perdura até hoje. A maioria das  piadas que existiam com os negros, foram adaptadas para as loiras.

Sempre fiquei na minha, nunca participei de movimentos, até porque, nesse caso, é uma ação de um dia e que acaba naquele dia. Quem discrimina, discrimina. Seja preto, pobre, velho, gay, lésbica, tatuado, drogado, bêbado, cabeludo, cadeirante, cego. A discriminação está na ocasião  e na consciência do momento. Eu, por exemplo, teria aqui um monte de histórias de discriminação que aconteceram comigo e na grande maioria, por irmãos de cor.

Inventaram até que negro é raça e preto é cor, que balela, Na física, preto nem cor é, pelo contrário, é ausência. Quando se quer agradar é meu preto, minha preta, meu nêgo, minha nêga, pretinho, pretinha, neguinho, neguinha. Quer agredir ,  esse nêgo, uma preta dessa, quem  esse crioulo pensa que é?  e por aí vai. O termo Negão, virou um vicio de linguagem pronominal.

Tenho amigos, colegas e conhecidos de todas as cores e raças, e, vejo que alguns, se sentem incomodados por serem pretos, ou negros, como queiram, como se o mundo tivesse culpa desse –infortúnio, como se tivesse jeito pra mudar e como se ser preto fosse um infortúnio.

Sempre vai haver alguém pra discriminar o candomblé, a  macumba, o terecô, o jongo, a capoeira, os rituais negros, o sincretismo, as entidades sem ao menos conhecer a história, tudo pelo simples fato da história pregar todas essas mazelas desde o tempo em que se aprisionavam índios, negros e brancos degredados da Holanda, Portugal, França e Espanha, miscigenadores, formadores da raça brasileira..

Nós, pretos, temos todos os dias para nos conscientizarmos que somos escravos da nossa própria luta, pelo nosso pão de cada dia, pelo nosso lar, pelas nossas vestes, pelo nosso lazer, pela nossa cultura, pelo nosso credo, pela nossa religião. Que esse dia da conscientização, sirva para uma boa reflexão e para um bom descanso até porque amanhã é sábado, e como diz o ditado popular, é dia de branco.

HISTORIA MORTA
                                                          
E eu, filho desta vida torta                                                        
Primitivo ser de traços nebulosos                                          
Respiro ainda fatos escabrosos                                              
Que os meus avós guardavam atrás da porta  
                      
Afio mais a faca que me corta                                               
E sangro as dores em profundos ais                                      
Regresso então à tumba dos meus ancestrais                        
Onde repousa as causas de uma historia morta                     

Se errado aprendi, errado me ensinaram                               
Das raças e das cores que se misturaram                               
Pra formar o que hoje se chama mestiço                               

Pelas folhas podres de um livro omisso                                
Corre o mundo lendas que sem compromisso                      
Ensinam aos nossos filhos o que não lhe ensinaram 


Zé Lopes































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