Desde que me entendi por
gente, se é que, muitas vezes ouvi e ainda ouço a frase – preto não é gente –
sinto na pele o preconceito e a discriminação e engulo a seco, um leão a cada dia, a
cada hora, a cada minuto. É certo que já houve avanços, mas pela própria evolução
dos tempos não por novos heróis. Essa tarefa de heroísmo está na luta individual,
na vontade de vencer e as barreiras continuam, são muitas, e são muitos os que
fazem a diferença, mas são poucos os que aparecem.
Já são cento e tantos anos e com ele o velho estereótipo – preto quando
não caga na entrada, caga na saída – ouço isso dos meus próprios amigos quando
estamos juntos e cometo algum deslize.
Ainda bem que o Gabriel
Pensador fez o hit – Loura Burra
– que, a partir dalí, como que por castigo, passou a ser a pesada evidência e que
perdura até hoje. A maioria das piadas que
existiam com os negros, foram adaptadas para as loiras.
Sempre fiquei na minha, nunca
participei de movimentos, até porque, nesse caso, é uma ação de um dia e que
acaba naquele dia. Quem discrimina, discrimina. Seja preto, pobre, velho, gay,
lésbica, tatuado, drogado, bêbado, cabeludo, cadeirante, cego. A discriminação
está na ocasião e na consciência do momento.
Eu, por exemplo, teria aqui um monte de histórias de discriminação que aconteceram
comigo e na grande maioria, por irmãos de cor.
Inventaram até que negro é
raça e preto é cor, que balela, Na
física, preto nem cor é, pelo contrário, é ausência. Quando se quer agradar é meu
preto, minha preta, meu nêgo, minha nêga, pretinho, pretinha, neguinho, neguinha.
Quer agredir , esse nêgo, uma preta
dessa, quem esse crioulo pensa que é? e por aí vai. O termo Negão, virou um vicio de
linguagem pronominal.
Tenho amigos, colegas e
conhecidos de todas as cores e raças, e, vejo que alguns, se sentem incomodados
por serem pretos, ou negros, como queiram, como se o mundo tivesse culpa desse –infortúnio,
como se tivesse jeito pra mudar e como se ser preto fosse um infortúnio.
Sempre vai haver alguém pra discriminar
o candomblé, a macumba, o terecô, o jongo,
a capoeira, os rituais negros, o sincretismo, as entidades sem ao menos
conhecer a história, tudo pelo simples fato da história pregar todas essas mazelas
desde o tempo em que se aprisionavam índios, negros e brancos degredados da Holanda,
Portugal, França e Espanha, miscigenadores, formadores da raça brasileira..
Nós, pretos, temos todos os
dias para nos conscientizarmos que somos escravos da nossa própria luta, pelo
nosso pão de cada dia, pelo nosso lar, pelas nossas vestes, pelo nosso lazer, pela nossa cultura,
pelo nosso credo, pela nossa religião. Que esse dia da conscientização, sirva para
uma boa reflexão e para um bom descanso até porque amanhã é sábado, e como diz
o ditado popular, é dia de branco.
HISTORIA MORTA
E eu, filho desta vida
torta
Primitivo ser de traços
nebulosos
Respiro ainda fatos
escabrosos
Que os meus avós guardavam
atrás da porta
Afio mais a faca que me
corta
E sangro as dores em
profundos ais
Regresso então à tumba dos
meus ancestrais
Onde repousa as causas de
uma historia morta
Se errado aprendi, errado me
ensinaram
Das raças e das cores que se
misturaram
Pra formar o que hoje se
chama mestiço
Pelas folhas podres de um
livro omisso
Corre o mundo lendas que sem
compromisso
Ensinam aos nossos filhos o que não lhe ensinaram
Zé Lopes
Nenhum comentário:
Postar um comentário