Com certeza não vivemos no
melhor dos mundos no Brasil, nem podemos compactuar com o que há de pior
aflorando, vez em quando, pelas frestas expostas dos porões dos poderes
constituídos, exalando a podridão política encafuada nos gabinetes
governamentais, como a expiar as culpas ancestralizadas da máquina de
corrupção, que sempre foi inquilina dos andares inferiores, superiores e médios
do edifício degenerado da politicalha brasileira.
Mesmo havendo quase um
consenso sobre o suprapartidarismo das origens e práticas do fenômeno da
corrupção em terras brasileiras, e ainda assim não concordarmos com a
tolerância a nenhuma espécie ou grau deste gênero, é de causar temor e
estupefação a tentativa descabida e deslavada da maioria dos órgãos de imprensa
e dos apoiadores anônimos e declarados do candidato à presidência do PSDB,
Aécio Neves, de transformar a disputa do segundo turno das eleições
presidenciais numa luta do “bem” contra o “mal”, desde que os demônios sejam os
outros (leia-se: Dilma, o PT e os seus aliados), como bem alertava o filósofo
francês Jean-Paul Sartre, em escritos do século passado.
O fundamentalismo moralista
pretende então substituir a batalha de idéias e projetos, ou da inexistência
destes, pela retórica exibicionista, temperada de vieses machistas, incorporada
pelo discurso do candidato tucano, como forma acabada de regular a disputa, sem
que se aprofunde o debate em torno de temas de grande relevância para a
população brasileira como um todo.
Ao invés de propostas
concretas demarcadoras do pensamento de cada candidato, generalidades firmadas
em torno da invocação vazia da competência, da ética e da moralidade, faltando
somente o apelo aos bons costumes, à família, à tradição, à pátria e à
propriedade privada, para reconstituirmos um quadro semelhante àquele pré 1964,
que mergulhou a nação na mais longa noite de trevas de sua história.
Pior do que a emenda é o eco
e a ressonância em amplos setores da classe média enraivecida pela ampliação de
seus pares, aos milhões, por meios de elogiados programas de distribuição de
renda e geração de postos de trabalho, como se isso não constasse do elenco dos
objetivos fundamentais da nossa República Federativa, relacionados no artigo 3,
inciso III, da Constituição brasileira: “erradicar
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.
Desta forma, escamoteiam-se
temas relevantes do debate, como é o caso do papel dos bancos públicos (CEF,
BB, CEF, BASA, BNB e BNDES) nos modelos de desenvolvimento defendidos por cada
candidato; da redução da maioridade penal, diante do genocídio de adolescentes
pobres e negros praticado no Brasil; da política de segurança pública e a crise
do sistema penitenciário; da garantia do nível de emprego e valorização do salário-mínimo
diante da prolongada e renitente crise mundial; da autonomia ou independência do
Banco Central; do papel do agronegócio, da reforma agrária e da agricultura
familiar; da agroecologia e da sustentabilidade ambiental; do Pronatec, Prouni,
Reuni, Ciência sem Fronteiras; do fim (ou não) do Fator Previdenciário; do
programa Minha Casa Minha Vida; da reforma política (qual abrangência?); da reforma
tributária (quem paga a conta?); da implantação pra valer do Sistema Único de
Saúde; dos Planos Nacionais de Educação e Cultura (metas possíveis de serem
atingidas?); do terrível problema da mobilidade urbana nas grandes regiões
metropolitanas...e por aí vai.
O oportunismo escancarado
vislumbra nos escândalos de cada dia montados seletivamente nas edições diárias
do Jornal Nacional e nas redações da revista Veja, do “Estadão” e da Folha de
São Paulo - ainda que dependentes de imprescindíveis conteúdos probatórios - a
chancela necessária para robustecer as pesquisas de intenção de voto em prol do
candidato tucano e a possibilidade da eleição ser resolvida antes do aperto das
teclas das maquininhas do Tribunal Superior Eleitoral, no dia 26 de outubro
próximo.
Tenho críticas fundamentadas
e contundentes sobre Lula e a atuação do PT, até mesmo porque fui fundador e
presidente do Partido em São Luís e tive de solicitar a minha desfiliação em
2013, após o triste episódio do esquartejamento público da agremiação no
Maranhão, por conta de uma aliança degenerada com a oligarquia Sarney,
patrocinada diretamente pelo seu presidente de honra – Luiz Inácio Lula da
Silva.
Apesar de tudo isso, que não
é pouco para quem dedicou grande parte da existência e da juventude à luta
contra a ditadura e pelas liberdades democráticas neste País, não posso
mergulhar nas ondas da cegueira eleitoral, e aceitar a redução do debate a uma
simples questão de moral e cívica, como se grandes interesses de cunho social,
econômico e ideológico não tivessem a pautar as estratégias de disputa do
poder, pois esta é uma das razões da própria existência da política. O resto é
pura ingenuidade ou fruto do analfabetismo político de quem mal consegue
vislumbrar a ponta do imensurável iceberg deitado no esplendor do berço das
forças reacionárias.
Sou professor universitário
há mais de uma década e testemunho atual de uma sensível diversidade de classe
e de cor que passou a ser incorporada às turmas do Curso de Direito onde
leciono nos últimos anos, por conta de programas como o ENEM, FIES, PROUNI,
REUNI; sem falar do PRONATEC e do Ciência sem Fronteiras, que propiciou à filha
de um motorista de táxi do Bairro da
Liberdade, como seu Cutrim, cursar inglês numa instituição de ensino superior
norte-americana.
Incorporar cada vez mais
amplas parcelas da população excluída à condição de cidadãos é uma questão de
dar materialidade ao principal fundamento da nossa República – a dignidade da
pessoa humana. Sem dignidade, a pessoa não vive, não convive, e, em alguns
casos, nem sobrevive. Como lecionava o poeta Gonzaguinha: “Viver e não ter a
vergonha de ser feliz!” é um imperativo para que seja escancarada a porta das
oportunidades e do direito a uma vida digna para todos, e não somente para os
“bem nascidos”, ou para os pouquíssimos que escaparam, por conta da sorte ou da
fantasiosa meritocracia individualista da ascensão social.
Voto Dilma 13, com a
convicção de que não pode existir desenvolvimento humano se a pessoa humana não
for o centro das políticas públicas deste desenvolvimento.
Voto Dilma 13, por entender
que a construção de uma sociedade justa, livre e solidária não pode ser obra de
alguns iluminados em detrimento de milhões de outros, subjugados à escuridão
humana da miséria econômica, social e cultural.
Voto Dilma 13, para ter
novamente na direção do País uma mulher valente, ficha limpa, que luta para que
outros milhões de mulheres vivam com dignidade e sobrevivam às múltiplas formas
de violência a que se encontram submetidas no dia a dia dos seus ofícios de
viver.
Enfim, Voto Dilma 13, para
que os meus sonhos, das gerações que me antecederam e das que hoje me sucedem,
sejam sonhados juntos e não se reduzam a pó...
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