As pesquisas de Ibope
e Datafolha divulgadas nesta quinta-feira apontaram pela primeira vez Dilma
Rousseff (PT) à frente de Aécio Neves (PSDB) com uma vantagem que supera a
margem de erro – que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Segundo o Ibope, a
petista tem 54% das intenções de voto, diante de 46% do tucano. Pelo Datafolha,
a vantagem de Dilma é um pouco menor, e o placar está 53% a 47% para a atual
presidente.
Nas últimas seis
pesquisas divulgadas pelos dois institutos, os dois candidatos apareciam em
empate técnico – as primeiras indicavam Aécio à frente com 51% a 49% das
intenções de voto e a última, o Datafolha divulgado na terça, mostrava Dilma à
frente com 52% a 48% - o que, pela margem de erro, significava empate.
Em toda a corrida
eleitoral para o segundo turno, esta é a primeira vez que a petista aparece com
vantagem considerável sobre o tucano. Para os especialistas ouvidos pela BBC
Brasil, isso é fruto principalmente de uma campanha bem-sucedida do PT de
desconstrução do candidato Aécio Neves.
"Essa vantagem
dela agora provavelmente tem a ver com agressividade da campanha contra o
Aécio, que foi submetido ao mesmo tipo de desconstrução que fizeram com a
Marina no primeiro turno", analisou o sociólogo da Unesp Araraquara, Marco
Aurélio Nogueira.
"Acho que o PT
fez um trabalho que foi bem-sucedido na propaganda eleitoral, ligando o
adversário ao nepotismo, à corrupção. E, ao mesmo tempo, conseguiu ressaltar as
realizações do governo da candidata", pontuou o cientista político da
PUC-SP, Pedro Fassoni Arruda.
'Eleitor volátil'
Ainda assim, eles
consideram que há chance de virada de última hora do tucano, já que o
eleitorado atual tem se mostrado bastante 'volátil'.
"As pesquisas
têm errado muito sistematicamente nos últimos tempos por causa da volatilidade
do eleitor, então não dá pra dizer que isso (os índices da pesquisa) vai se
refletir na urna. Não dá pra descartar uma virada, mas seis, sete pontos...
essa é uma vantagem grande para se reverter", afirmou Nogueira.
Uma pesquisa do
Datafolha apontou que 9% do eleitorado definiu o voto para presidente no
próprio domingo do primeiro turno da eleição e, para o cientista político e
analista da consultoria Tendências, Rafael Cortez, esses eleitores podem fazer
a diferença de novo no segundo turno.
"A gente viu
nessa pesquisa que o eleitor está decidindo o voto em cima da hora, quase 10%
decidiu no dia da eleição o voto presidencial, isso não é pouca coisa. O custo
é cada vez maior, mas a possibilidade da virada ainda existe."
Apesar dessa
‘volatilidade do eleitor’ que pode decidir a eleição na última hora, o
cientista político da PUC-SP considera que as últimas pesquisas indicam uma
tendência de crescimento para Dilma Rousseff e de queda para Aécio Neves e, por
isso, uma virada no domingo seria pouco provável.
"As pesquisas de
opinião servem pra indicar tendências. A Dilma está em alta, vem crescendo de
maneira consistente e, ao mesmo tempo, está aumentando a rejeição do eleitorado
ao Aécio. Com essa vantagem, não é impossível, mas é muito difícil reverter."
Segundo o
levantamento do Ibope, a rejeição a Aécio Neves cresceu sete pontos percentuais
- 42% dos eleitores disseram que não votariam no tucano de jeito nenhum (eram
35% na pesquisa anterior).
Enquanto isso, a
rejeição a Dilma Rousseff se manteve em 36%.
Campanhas
Desde o início da
campanha para o segundo turno, Dilma Rousseff adotou uma estratégia semelhante
a que havia usado antes contra Marina Silva (PSB): a de desconstrução do
adversário.
Em suas propagandas
políticas e nos debates, a petista relacionou Aécio com práticas de nepotismo e
corrupção – citando membros da família dele que trabalham no governo de Minas
ou em sua campanha política e explorando a denúncia sobre o aeroporto de
Cláudio-MG na fazenda do tio do tucano.
"O tom das
acusações da Dilma foi passional, emocional, e isso pega o eleitor
desprevenido. Ele acaba cedendo aos impulsos", disse Nogueira, que ainda
citou a força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reta final da
campanha da petista.
"Esse
deslocamento é mais do Lula, do que da Dilma. Ele entrou de vez na campanha
dela, a fala dele tem um peso maior. Quando ele chama o Aécio de nazista, fala
que ele não respeita as mulheres, isso tem um impacto muito maior do que se ela
falasse."
Restando apenas dois
dias de campanha eleitoral, Aécio tem ainda o debate promovido pela Rede Globo
nesta sexta-feira para tentar reverter a vantagem de Dilma.
"Existe um
impacto do último debate, mas ele não é tão grande. Debates atingem um segmento
muito específico do eleitorado. Mas qualquer perda de pontos pode mudar o rumo
da eleição, vai ser voto a voto", analisa Pedro Fassoni Arruda, da PUC-SP.
Para Rafael Cortez,
"no primeiro turno, Aécio conseguiu encontrar um tom para mobilizar o
eleitorado, ele teve um desempenho importante na última hora."
"Então esses
últimos dias de campanha e o debate podem ter um impacto."
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